terça-feira, 27 de abril de 2021

Celebrar o Nono Dia de Ridván


Nesta altura do ano os Bahá’ís celebram um período de 12 dias conhecido como Ridvan (que em português significa “Paraíso”) – o momento em que Bahá’u’lláh declarou a Sua missão como fundador da Fé Bahá’í.

O Ridvan (pronuncia-se “riz-van”) celebra-se durante doze dias e é o momento mais sagrado e festivo de todo o calendário Bahá’í; mas em 1863, também foi um período de grande agitação na história Bahá’í. Este festival simboliza a transformação do sofrimento e da opressão em alegria; e é também uma celebração de uma nova primavera espiritual.

Três dos doze dias do Rivdan – o primeiro, o nono e o décimo-segundo – são feriados para os Bahá’ís, destinados a celebrar o significado especial da declaração de Bahá’u’lláh. As comunidades Bahá’ís assinalam estes três feriados especiais de diversas maneiras. Nestas celebrações há sempre orações, leituras das Escrituras Bahá’ís e evocações dos eventos ocorridos no Jardim de Ridvan, em 1863.

O que significa o Nono Dia de Ridvan?


No Nono Dia de Ridvan, os Bahá’ís e os seus amigos comemoram um evento profundamente simbólico na história Bahá’í.

Em 1863, Bahá’u’lláh estava exilado em Bagdade e foi forçado a mais um exílio – desta vez imposto pelo Sultão otomano. O local deste segundo exílio foi Constantinopla (a actual Istambul, na Turquia). Os governos persa e otomano, assim como o clero Muçulmano nos dois países, temiam a rápida disseminação dos ensinamentos de Bahá’u’lláh e do Seu antecessor, O Báb; as autoridades persas reagiram com uma violenta campanha de perseguição contra os seguidores desta nova fé progressista:

O Báb tinha sido martirizado em Tabriz; e Bahá'u'lláh, exilado para o Iraque em 1852, declarou-Se em Bagdade. O governo persa tinha decidido que, enquanto Ele permanecesse na Pérsia, a paz do país seria perturbada; por isso Ele foi exilado na esperança de que a Pérsia serenasse. O Seu exílio, no entanto, produziu o efeito contrário. Surgiu uma nova agitação, e a menção da Sua grandeza e influência espalhou-se por todo o país. A proclamação da Sua manifestação e missão foi feita em Bagdade. Ali, Ele reuniu os Seus amigos e falou-lhes de Deus. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 26)

Essa intensa perseguição aconteceu porque os ensinamentos de Bahá’u’lláh – paz, unidade mundial, a unicidade essencial de todas as religiões, a igualdade entre homens e mulheres, a eliminação de todos os preconceitos – ameaçavam severamente os dogmas e o poder do clero que controlava os governos tirânicos desses países. Os historiadores documentaram exaustivamente essas perseguições aos Bahá’ís, e a maioria das estimativas concorda que houve pelo menos 20.000 mortos – pessoas inocentes que foram mortas apenas devido às suas crenças.

Margens do Rio Tigre, em Bagdade
Margens do Rio Tigre, em Bagdade

Na primavera de 1863, enquanto era alvo de conspirações e perseguições, Bahá’u’lláh preparava-se para abandonar Bagdade. Ele e um pequeno número de seguidores mudaram-se temporariamente para um jardim na margem do rio Tigre. Este jardim verdejante tinha quatro avenidas, ladeadas por roseiras, que atraíam bandos de rouxinóis que cantavam intensamente todas as noites. Na primavera, o caudal do rio Tigre era muito grande, e as testemunhas diziam que a corrente do rio, a fragrância inebriante de milhares de rosas e as melodias dos pássaros "criavam uma atmosfera de beleza e encanto". Quando o rio Tigre subiu, o Jardim de Ridvan transformou-se numa ilha, isolando-o temporariamente.

Em 29 de Abril de 1963, as águas do rio recuaram e a família de Bahá’u’lláh atravessou as águas e juntou-se a Ele naquela ilha. Esse símbolo poderoso – reunificação e força do laço familiar, e por extensão a unidade de toda a família humana – está presente no significado do Nono Dia de Ridvan.

Em Dezembro de 1902, a filha de Bahá’u’lláh, Bahiyyih Khanum foi entrevistada pelo advogado e escritor americano, Myron Phelps, e contou a experiência da sua família durante esse tempo no Ridvan, em 1863:

Quando nos chegou a notícia (do exílio de Bahá’u’lláh), da qual deduzimos que o meu pai ficaria novamente prisioneiro, ficámos consternados, temendo outra separação. Ele foi chamado a comparecer perante os magistrados…. Muitos dos seus seguidores tinham-se reunido em frente da nossa casa e assistiram à sua partida com muitas demonstrações de dor, sentindo que era possível que ele não voltasse. 

Os magistrados transmitiram uma grande tristeza ao meu pai; disseram que o respeitavam e amavam, que não tinham instigado a ordem [a ordem de exílio tinha vindo do sultão da Turquia], mas que não tinham poder para suspendê-la ou modificá-la e deveriam prosseguir com a sua aplicação.

Este relato foi como um toque de finados para os seus seguidores, que ainda estavam reunidos à volta da casa. No dia seguinte, eles enchiam de tal maneira a casa que não pudemos preparar-nos para a viagem... Então, como era a única maneira de acalmar os seus seguidores, [Bahá’u’lláh] levou toda a sua família para o jardim. Aqui montámos as nossas tendas... As tendas formavam, por assim dizer, uma pequena aldeia ...

 Muitos dos seguidores [de Bahá’u’lláh] decidiram também abandonar Bagdade e acompanhá-lo… Quando a caravana iniciou a sua marcha [no décimo segundo dia de Ridvan], a nossa comitiva tinha cerca de setenta e cinco pessoas. Todos os jovens e outros que sabiam montar, iam a cavalo… Íamos acompanhados por uma escolta militar. A viagem aconteceu em 1863, cerca de onze anos depois da nossa chegada a Bagdade. (relato para Myron Phelps em The Life and Teachings of Abbas Effendi, pp. 35-39)


Porque é que os Bahá’ís celebram o Ridvan


Então, como é que um momento tão triste e difícil - exílio, privações e prisão para Bahá’u’lláh, Sua família e Seus seguidores – se tornou um motivo de celebração? Os Bahá’ís celebram o Ridvan porque foi nessa ocasião que Bahá’u’lláh anunciou a Sua revelação e porque essa revelação anuncia "a ressurreição de toda a humanidade:

Levanta-te e proclama a toda a criação as boas-novas de que Aquele Que é o Todo-Misericordioso dirigiu os Seus passos para o Ridvan e ali entrou. Guia o povo, pois, ao jardim do encanto que Deus fez o Trono do Seu Paraíso. Escolhemos-te para seres a Nossa mais poderosa Trombeta, cujo toque assinalará a ressurreição de toda a humanidade.
Não olhes as criaturas de Deus, salvo com os olhos da bondade e da misericórdia, pois a Nossa amorosa Providência impregnou todas as coisas criadas e a Nossa graça envolveu a terra e os céus. (Gleanings from the Writings of Bahá’u’lláh, XIV)

Os Bahá’ís organizam diversos tipos de actividades para celebrar o Nono Dia de Ridvan; todas as celebrações destes dias fazem-nos recordar as palavras de ‘Abdu’l-Bahá:

O mundo inteiro nasce de novo, ressuscita. Sopram brisas suaves, refrescantes e perfumadas; as flores abrem-se; as árvores florescem, o ar é temperado e delicioso; quão agradáveis e belas se tornam as montanhas, os campos e os prados. Do mesmo modo, as dádivas espirituais e a primavera de Deus despertam o mundo da humanidade com novo ânimo e vida. Todas as virtudes assentes e latentes nos corações humanos são reveladas por aquela Realidade como flores e rebentos dos jardins divinos. É um dia de júbilo, um tempo de alegria, um período de crescimento espiritual. (de uma palestra de Abdu’l-Baha aos Baha’is de Washington, D.C. no primeiro Dia de Ridvan, 1912).

Convidamos, a si e a toda a sua família, a juntarem a nós nesta celebração do Nono Dia de Ridvan!

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Traduzido e adaptado de: The Ninth Day of the Baha’i Festival of Paradise (www.bahaiteachings.org)


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