sábado, 8 de maio de 2021

Podemos comunicar com pessoas que já faleceram?

Por Kathy Roman.


Entre este mundo da existência e o mundo seguinte, existe um véu. Podemos atravessá-lo?

Quando dormimos, não abandonamos os nossos corpos, mas certamente entramos numa realidade diferente - o mundo dos sonhos. Este novo reino do ser - dizem os ensinamentos Bahá'ís - é uma das provas da presença de Deus e um exemplo da existência de domínios invisíveis:

Aqueles que passaram pela morte possuem o seu próprio campo de acção. Ele não está afastado do nosso; o seu trabalho, o trabalho do Reino, é o nosso; mas está santificado acima daquilo a que chamamos 'tempo e espaço'. Para nós o tempo é medido pelo sol. Quando não existem nascer e pôr-do-sol, esse tipo de tempo não existe para o homem. Aqueles que ascenderam possuem atributos diferentes daqueles que ainda permanecem na terra; no entanto, não existe uma verdadeira separação. (‘Abdu’l-Bahá in London, p.90)

As Escrituras Bahá'ís explicam que as nossas orações alcançam os nossos entes queridos no mundo vindouro – e que quando sonhamos é possível conversar com aqueles que já faleceram.

Depois da minha mãe ter falecido, sonhava muitas vezes com ela. Numa ocasião, num sonho, encontrámo-nos e conversámos pessoalmente. Ela segurou a minha cara com as mãos e abraçou-me com muito amor. Pareceu tão real e vivo como qualquer coisa neste mundo físico. Eu percebia os seus sentimentos e ela sentia tudo no meu coração. Quando acordei, a memória do sonho era clara e evidente. Acredito que esses sonhos especiais são, na verdade, ligações com nossos entes queridos:

Na oração há uma mistura de estados, uma mistura de condições. Orai por eles, assim como eles oram por vós. Quando estais numa atitude receptiva, e sem que sabeis, eles são capazes de vos dar sugestões se estiverdes em dificuldades. Isto por vezes acontece ao dormir. Porém, não há qualquer relação relacionada com os sentidos! Aquilo que parece uma relação sensorial tem outra explicação.” O interpelador exclamou: "Mas eu ouvi uma voz!" 'Abdu'l-Bahá disse: “Sim, isto é possível; nós ouvimos vozes claramente nos sonhos. Não é com o ouvido físico que ouvis; os espíritos daqueles que faleceram estão livres do mundo dos sentidos e não utilizam meios físicos. Não é possível descrever estes grandes temas com palavras humanas; a linguagem humana é a linguagem das crianças, e a explicação humana muitas vezes desvia-nos do caminho. (‘Abdu’l-Bahá in London, p.90)

Você já teve um daqueles momentos em que a memória de um ente querido surge do nada? Talvez você veja uma borboleta e pense nele(a) porque ele(a) adorava borboletas. Ou quando a vossa música favorita toca na rádio, e desperta recordações. Lembre-se disto: esses podem ser momentos que você realmente partilha com essa pessoa querida através daquele véu ténue que nos separa. Envie-lhes bons pensamentos, uma pequena oração e guarde um tempo para sentir a sua presença.

Ontem foi dia 29 de Fevereiro. Foi um dia especial, porque era o dia de aniversário de Alex Rocco, um amigo da nossa família. Vivemos na mesma comunidade Bahá’í e partilhámos muito momentos felizes. “Bo” - como era conhecido pelos amigos – era um homem extraordinário e foi actor. Lembro-me do meu entusiasmo no dia que o Bo e a esposa nos levaram ao cinema para vê-lo no seu papel de Moe Green, no filme “O Padrinho” (“O Poderoso Chefão”, no Brasil). Posteriormente, o Bo participou noutros filmes e séries de televisão. Quando ganhou um Emmy pela participação numa série de TV, o Bo agradeceu a Bahá’u’lláh e aos Bahá’ís que assistiram à série em todo o mundo. Ainda hoje, o Bo é lembrado pelo seu papel no filme “O Padrinho”


Naquele ano bissexto (2020), estava na minha cozinha e lembrei-me do aniversário do Bo; pensei nele e no homem maravilhoso que ele tinha sido. Pensei para mim mesma: “Feliz Aniversário Bo”. Mas depois senti-me um pouco disparatada. Pensei: “Há tantas pessoas o mundo que gostavam dele e que hoje devem estar a pensar nele. Provavelmente não consegue ouvir-me”. Contei isto à minha filha Júlia e não voltei a pensar no assunto.

Depois saí para fazer várias coisas. Quando entrei no estacionamento de nosso mercado local, ouvi o som de uma música adorável. Quando abri a porta do meu carro, pude ouvir melhor a melodia; era assustadoramente bela e ecoava por todo o estacionamento. Senti um arrepio súbito no meu corpo. A música permaneceu profundamente na minha alma. Aquela melodia emocionante era incrivelmente familiar, mas eu não conseguia identificá-la. Tudo que eu sabia é que precisava descobrir de onde vinha. Imediatamente, vi um adolescente a tocar um acordeão diferente de todos os que eu já ouvira antes. Aproximei-me do jovem, procurando dinheiro na minha bolsa, enquanto ele olhava para mim e sorria. Coloquei o dinheiro no seu estojo do instrumento.

Obrigado - disse ele.

Você toca muito bem! Qual era o nome dessa música que estava a tocar? - perguntei.

É o tema do filme “O Padrinho” - respondeu.

Enquanto voltava para casa, aquela música forte continuava na minha cabeça. Assim que cheguei, contei à minha filha Júlia sobre a música que ouvira e o adolescente que a tocava. Com os olhos a brilhar, ela disse: “Mãe! Isso era o Bo! Ele ouviu-te e agradeceu os teus votos de aniversário com a música do seu filme”.

Fiquei com o coração a transbordar de alegria; não podia negar aquela ligação. Sabia que a magia era real:

As dádivas de Deus que se manifestam em toda a vida perceptível estão por vezes ocultas pelos véus da visão mental e mortal que tornam o homem espiritualmente cego e incapaz; mas quando essas películas forem retiradas e os véus forem rasgados, os grandes sinais de Deus tornar-se-ão visíveis e ele testemunhará a luz eterna espalhada pelo mundo. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace)

Esses véus existentes entre este mundo e o próximo impedem-nos de ver e ouvir nossos entes queridos; eles observam-nos, oram por nós e animam-nos. Eles estão disponíveis para nos dar orientação. Portanto, envie-lhes os seus votos afectuosos com frequência. Ore por eles, reconheça os sinais do seu amor e preste atenção aos seus sonhos. Se você fizer uma pausa, abrir o seu coração e ouvir em silêncio, você poderá ouvi-los a responder.

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Texto original: Can We Communicate with Our Loved Ones Who Have Passed On? (www.bahaiteachings.org)


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Kathy Roman é educadora reformada, aspirante a escritora, esposa e mãe de dois filhos que vive em Elk Grove, California (EUA), onde serve como responsável de Informação Pública Bahá’í.

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