sábado, 12 de junho de 2021

Bahá’ís e agnósticos concordam: não podemos compreender Deus

Por David Langness.
 

Ó FILHO DO HOMEM!
Não transgridas os teus limites, nem pretendas o que não é digno de ti. Prostra-te perante a face do teu Deus, o Senhor de grandeza e poder. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #23)

Ao longo dos tempos, os homens têm afirmado conhecer e compreender o Criador. Gurus, videntes e líderes religiosos têm afirmado que eles - e apenas eles - têm uma relação pessoal com Deus. No entanto, os ensinamentos Bahá'ís dizem claramente que uma verdadeira compreensão de Deus está fora do alcance da capacidade de qualquer ser humano, por muito profundo e perspicaz que seja:

Tudo o que os sábios e místicos têm dito ou escrito nunca ultrapassou, nem poderá jamais esperar ultrapassar as limitações às quais a mente finita do homem foi rigorosamente sujeita. Por muito elevados que sejam os cumes a que a mente do mais exaltado dos homens possa alcançar, por muito grandes que sejam as profundezas que o coração desprendido e compreensivo possa atingir, essa mente e esse coração nunca poderão transcender aquilo que é a criatura das suas próprias concepções e o produto dos seus próprios pensamentos. As meditações do mais profundo pensador, as devoções do mais consagrado dos santos, as mais altas expressões de louvor procedentes de pena ou língua humana, são apenas um reflexo daquilo que foi criado dentro deles próprios, através da revelação do Senhor, seu Deus. Quem reflectir sobre esta verdade no seu coração, admitirá facilmente que há certos limites que nenhum ser humano pode transgredir. Toda tentativa que, desde o princípio que não tem princípio, se tem feito para visualizar e conhecer a Deus, está limitada pelas exigências da Sua própria criação - criação essa, que Ele chamou à existência através da operação da Sua própria Vontade, para nenhum outro propósito, salvo o Seu próprio Ser. Incomensuravelmente exaltado está Ele acima das tentativas da mente humana para compreender a Sua Essência, ou da língua humana para descrever o Seu mistério. (Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, CXLVIII)

Bahá’u’lláh diz-nos que as nossas mentes têm limitações que não as podemos ultrapassar. Tentar ultrapassar essas limitações apenas nos leva aos limites das nossas capacidades humanas - e não mais o que isso.

Este conceito poderoso e fascinante – a ideia de uma Essência incognoscível a que chamamos Deus – está presente em todos os ensinamentos Bahá’ís:

Para todo o coração perspicaz e iluminado, é evidente que Deus, a Essência incognoscível, o Ser Divino, está imensamente exaltado acima todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, subida e descida, saída e regresso. Longe esteja da Sua glória que a língua humana celebre adequadamente o Seu louvor, ou que o coração humano compreenda o Seu insondável mistério. Ele está, e sempre esteve, velado na eternidade antiga da Sua Essência, e permanecerá na Sua Realidade eternamente oculto da vista dos homens. (Bahá'u'lláh, The Book of Certitude, ¶104)

Quando pensamos em Deus, que imagem nos vem à mente? Muitas pessoas criaram uma imagem de Deus na sua imaginação e tendem a adorar essa imagem – mas todas as imaginações das nossas mentes finitas também devem ser finitas.

E, claro, alguns grupos religiosos adoram o seu próprio pensamento, as suas concepções imaginárias de um Ser Supremo. Alguns até descrevem Deus como uma pessoa zangada e sobrenatural no céu - mas essas concepções são apenas superstições. Talvez fosse isso o que Moisés quis dizer quando pediu aos Seus seguidores que não adorassem imagens esculpidas – que devemos ter cuidado com a tentativa de imaginar, definir ou quantificar algo que está muito além da nossa experiência ou imaginação.

Muitos ateus e agnósticos rejeitam qualquer representação simplista de Deus baseada na imaginação - e os Bahá'ís também. Na verdade, alguns estudiosos afirmam que a Fé Bahá'í está próxima daquilo que os agnósticos já percebem - que nenhum ser humano pode descrever ou compreender Deus. Os Bahá'ís acreditam forte e convictamente que toda a criação vem do Ser Supremo, mas que Deus permanece muito além do nosso pensamento e imaginação, sagrado e ilimitado para os nossos padrões, as nossas capacidades e as nossas percepções.

Todos os grandes filósofos se debateram com esse profundo enigma. Os Bahá'ís acreditam que nenhum ser humano conseguirá alguma vez superá-lo, e que a única maneira de conhecer Deus é através dos Profetas, dos Manifestantes, dos Fundadores das grandes religiões do mundo:

Os homens, em todos os tempos e sob todas as condições, têm necessidade de alguém que os possa exortar, guiar, instruir e ensinar. Por isso Ele tem enviado os Seus Mensageiros, os Seus Profetas e eleitos, a fim de dar a conhecer ao povo o desígnio divino subjacente à revelação de Livros e o aparecimento de Mensageiros, e para que cada um tomasse consciência da incumbência de Deus que está latente na realidade de cada alma. (Bahá’u’lláh, Epístola de Maqsud, ¶2)

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Texto original: Baha’is and Agnostics Agree – We Cannot Understand God (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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