sábado, 7 de agosto de 2021

Laura Barney e Hippolyte Dreyfus: Estimados Colaboradores

Por Sonjel Vreeland.


No ano 1900, Laura Clifford Barney e Hippolyte Dreyfus encontraram-se à entrada da residência de May Ellis Bolles, em Paris. Laura ia visitar aquela Bahá’í do Canadá para saber mais sobre a Fé Bahá’í – que ela aceitou imediatamente, como se fosse uma chama imortal que se acendera no seu coração. Hippolyte saía de casa de May. Nos meses que se seguiram, Hippolyte tornou-se o primeiro Bahá’í francês e nos anos seguintes, ele e Laura prestariam serviços valiosos e incomparáveis à Causa. E recordando o falecimento de Laura (ocorrido em 18 de Agosto de 1974), gostaria de recordar alguns factos sobre este casal.

Laura nasceu em 30 de Novembro de 1879, em Cincinnati (Ohio, EUA), numa família de artistas e industriais. Ela e a irmã Natalie tiverem uma vida luxuosa e privilegiada, mas devido às tensões entre os pais, passaram a infância em Paris e nos Estados Unidos. Laura estudou artes dramáticas e escultura; adorava o teatro, escreveu 25 pequenas histórias e pelo menos duas peças. Era extremamente inteligente, séria, curiosa e perspicaz – qualidades pelas quais todos estamos gratos.

Entre 1904 e 1906, Laura viajou até Akka várias vezes. Estava solteira e com vinte e poucos anos, e o Mestre continuava prisioneiro do governo Turco. O Dr. Youness Afroukteh (cujas memórias estão registadas no maravilhoso livro Memórias de Nove Anos em Akká) escreveu estas palavras:


No calor e confusão de Akká, ela [Laura Barney] continuava alegremente a sua tarefa solitária de recolher as Escrituras do Mestre. E enquanto meditava e pairava no reino do espírito, ela contemplava a luz da chama celestial no Sinai do seu coração e descobria muitas realidades divinas. [1]

É graças às qualidades de Laura que podemos apreciar o livro Respostas a Algumas Perguntas, uma colecção de palestras do Mestre à mesa de jantar que foram originalmente compiladas apenas para estudo pessoal e crescimento espiritual de Laura. Mona Khademi, no seu meticuloso artigo sobre Laura, escreve que ela:


…era dotada de um entusiasmo ávido para adquirir qualidades espirituais e atributos celestiais, e era por isso que ‘Abdu’l-Bahá a honrou com o título de Amatu’l-Baha (…) Por vezes passavam semanas antes dela receber as suas instruções. Ela dizia: “Posso muito bem ser paciente, pois sempre tive perante mim a maior lição – a lição da vida pessoal”. Era muito protegida pelo Mestre devido à sua espiritualidade e Ele estava satisfeito e feliz com o processo. O facto de Ele não ter tempo para comer ou desfrutar das suas refeições não era um problema. Numa dessas ocasiões, em que o Mestre mostrava um pouco de cansaço, Ele levantou-se e comentou alegremente: “É encorajador ver que depois de todo este trabalho, pelo menos ela compreende os conceitos. Isto é reconfortante. O que faria eu se, depois de todo este esforço ela ainda não compreendesse os assuntos?”[2]

 A compilação das respostas do Mestre, e correcção e comparação das transcrições em inglês e persa foi um processo lento. O Dr. Afroukhteh explica: 


Amatu’l-Baha, devido à sua fé sólida e devoção intensa, foi capaz de compilar o seu livro devidamente e este recebeu a aprovação de ‘Abdu’l-Bahá. Por esse motivo, cada palavra e linha desse livro devem ser considerados como Palavra revelada. [3]

Rapidamente se tornou evidente que o livro Respostas a Algumas Perguntas precisava de ser partilhado mais amplamente na comunidade Bahá’í. Laura pediu a permissão do Mestre para publicar a compilação, na altura intitulada Palestras à Mesa, e a permissão foi concedida.

Quando não estava na Terra Santa, Laura era uma participante activa na vida comunitária de Washington DC e de Paris. Hippolyte, seis anos mais velho, estava igualmente envolvido na Fé, em França. Era o filho único de uma conhecida família francesa e tinha estudado direito. Laura escreveu:


Enquanto seguia a sua carreira com sucesso, ele teve contacto próximo com os problemas e dificuldades de muitas pessoas, e a sua generosidade de coração deu-lhe uma compreensão subtil da natureza humana. Tinha a qualidade rara de estar mais interessado nos outros do que em si próprio. [4]

Depois de aceitar a Fé, Hippolyte estudou religiões comparadas, estudos orientais, árabe e persa para poder traduzir as Escrituras para francês. Laura afirmou que:


Hippolyte Dreyfus já era um excelente linguista e a sua mente experiente captou rapidamente a força e beleza dos idiomas da língua persa que decidira aprender. As suas leituras constantes dos trabalhos de Bahá’u’lláh nesta língua e depois em árabe deram-lhe uma percepção invulgar dos ensinamentos e da missão deste grande Manifestante. Ao longo dos anos, ele traduziu e publicou muitos destes trabalhos. [5]

Aquele encontro marcante na porta da casa de May Bolles foi o início de uma amizade e, mais tarde, de um casamento tão dedicado à Fé que é difícil separar os seus serviços individuais à Causa. Mesmo antes do casamento, 'Abdu'l-Bahá pediu-lhes que viajassem juntos pelo Irão e eles foram os primeiros Bahá'ís ocidentais a fazê-lo. Eles seriam fundamentais para hospedar e interpretar o Mestre durante a Sua estadia na Inglaterra, França, Suíça e Estados Unidos. As suas competências linguísticas possibilitaram a recolha e publicação do livro Palestras em Paris; a sua diplomacia facilitou muitas tarefas que lhes eram confiadas por 'Abdu'l-Bahá e Shoghi Effendi; garantiram o sucesso trabalho de relações públicas junto de organizações como a Liga das Nações; e sua paixão e zelo pelos ensinamentos tornaram-nos magníficos promotores da Causa.

Hippolyte faleceu em 1928 após uma doença prolongada e dolorosa. Shoghi Effendi escreveu:


Ninguém - posso afirmar com segurança - entre os Bahá'ís do Oriente e do Ocidente, combinou, tanto quanto ele, as qualidades de uma amizade cordial e alegre, de um conhecimento profundo dos múltiplos aspectos da Causa, de uma opinião sólida e competência distintiva, de um conhecimento detalhado sobre os problemas e as condições do mundo - tudo isto tornou-o um amigo e colaborador tão encantador, estimado e eficiente.[6]

Laura viveu mais 46 que o seu estimado marido, mas nunca parou no seu serviço à Causa. Quando faleceu em 18 de Agosto de 1974, Ugo Giachery elogiou-a com estas palavras: 


Quem teve o raro privilégio de a conhecer ao longo de um período de muitas décadas, pode testemunhar que o seu zelo destemido pelo objectivo da irmandade dos homens permaneceu vivo e incandescente até ao último dos seus dias na terra. [7]


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REFERÊNCIAS
1. Mona, Khademi A Glimpse into the Life of Laura Clifford Dreyfus-Barney, Lights of ‘Irfan Book Ten, http://irfancolloquia.org, p. 81
2. Idem. p. 83-83
3. Idem. p. 84
4. Laura Clifford Dreyfus-Barney, “Biography of Hippolyte Dreyfus-Barney”, www.bahai-library.com
5. Idem
6. Idem.
7. Idem. p. 95

Texto original em inglês: Laura and Hippolyte Dreyfus-Barney: Esteemed Collaborators (bahaiblog.net)

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