sábado, 25 de setembro de 2021

Pode algum “Ismo” salvar a Humanidade?

Por Tom Tai-Seale.



Durante os últimos dois séculos, a humanidade tentou várias ideologias, vários tipos de “ismos”, para organizar as nossas vidas e os nossos governos. Eles não funcionaram bem para toda a gente.

Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá'í, condenou categoricamente várias ideologias a que chamamos "ismos":

Os principais ídolos no templo profanado da humanidade não são senão os triplos deuses do nacionalismo, do racismo e do comunismo, em cujos altares governos e povos, sejam democráticos ou totalitários, estejam em paz ou em guerra, sejam do Oriente ou do Ocidente, cristãos ou islâmicos, estão, de várias formas e em diferentes graus, agora a adorar. Os seus sumo-sacerdotes são os políticos e os doutores mundanos, os chamados sábios da época; o seu sacrifício, a carne e o sangue das multidões massacradas; os seus encantamentos, pregões antiquados e fórmulas insidiosas e irreverentes; o seu incenso, o fumo da angústia que emana dos corações dilacerados dos despojados, dos estropiados e dos desalojados. (The Promised Day is Come, p. 113)

Então, vejamos alguns dos métodos - os "ismos" - que a humanidade experimentou, desde o século XIX, para criar ordem no desenvolvimento social e civilizacional.

Comunismo


Houve um tempo, entre 1840 e 1940, em que o comunismo era apelativo para muitas pessoas. Mas isso foi antes de Estaline, antes de Khrushchev, antes de Mao, antes de Ceausescu, antes de Pol Pot e antes de Kim Il-sung. Acontece que a maioria das pessoas não gosta de ditadores brutais, estagnação económica e censura na imprensa; a maioria das pessoas acredita que todos os seres humanos devem ter oportunidade para decidir sobre as suas próprias vidas e beneficiar dos seus próprios esforços.

A maioria também acredita que a natureza humana ambiciona ao divino. A maioria de nós acredita na transcendência. Queremos ser mais do que animais, queremos fazer o bem, viver em harmonia e amar os outros e construir uma sociedade cada vez melhor e mais justa.

Capitalismo


Ao mesmo tempo que muitas pessoas se apaixonaram pelo comunismo, o capitalismo e os mercados livres começaram a surgir como o remédio proposto para todos os males da humanidade. O direito dos indivíduos de possuir bens e propriedades e a lucrar com isso, geralmente leva à prosperidade coletiva. Mas, tal como é vulgarmente praticado hoje, o capitalismo maximiza os lucros para os proprietários, e a ordem social e a qualidade de vida da comunidade tendem a tornar-se preocupações secundárias distantes. Esse tipo de capitalismo desenfreado leva a uma crescente desigualdade e disparidade, e a um tipo de escravidão económica, pois o capital é usado para influenciar e contornar as leis de forma a servir os interesses dos proprietários do capital.

Quanto aos mercados livres, eles dificilmente são livres quando pessoas com posses os manipulam através da comunicação social e da legislação, quando compram ou assumem o controle de competidores para evitar a concorrência, ou forçam os concorrentes a fecharem os seus negócios com de preços artificiais, sejam eles altos ou baixos. Assim, vemos no capitalismo ocidental que os ricos e poderosos rapidamente dominam os outros. Na verdade, com o tempo, o capitalismo descontrolado tende a tornar-se uma oligarquia, e hoje podemos ver essa força em acção em muitos países - porque o capitalismo, em si, não é um sistema moral; reduz-se apenas a obter lucros. E quando as pessoas pensam essencialmente nos lucros de curto prazo, o seu pensamento de curto prazo não tem em consideração os danos que podem provocar para os alcançar, tanto no nosso planeta como ao futuro dos nossos filhos.

Racismo


Shoghi Effendi dedica a sua mais severa condenação àqueles que tentam exaltar uma raça em detrimento de outras:

As teorias e políticas, tão doentias, tão perniciosas, que divinizam o estado e exaltam a nação acima da humanidade, que visam a subordinar as raças irmãs do mundo a uma única raça, que discriminam entre preto e branco e toleram o domínio de uma classe privilegiada sobre as outras – estas são as doutrinas obscuras, falsas e corruptas, para as quais, qualquer homem ou povo que acredite nelas e as siga, deverá, mais cedo ou mais tarde, sujeitar-se à ira e castigo de Deus (Idem, p. 113-114)

Libertarismo


Todos nós aprendemos com este "ismo", que a noção liberdade absolutamente irrestrita do libertarismo é claramente uma má ideia. Existem razões para termos leis, códigos morais e directivas sociais. Precisamos ter marcações no pavimento das ruas, sinais de trânsito e semáforos nos cruzamentos. Além disso, precisamos de um acordo comum sobre aquilo que constitui um comportamento aceitável. A sociedade não funciona bem quando as pessoas são livres para fazer tudo o que quiserem, porque os poderosos aproveitam-se dos mais fracos e a ausência de lei e a negligência moral logo levam à licenciosidade, à depravação e à pobreza espiritual absoluta.

Nacionalismo


E depois, há o nacionalismo, uma mensagem popular e populista nos dias de hoje. Embora as fronteiras tenham uma função administrativa, criar muros entre nós e tratarmo-nos uns aos outros como se fôssemos estranhos não trará uma maior paz e unidade. Todos nós já vimos para onde o nacionalismo extremo nos leva. Lembrem-se que a palavra “nazi” é uma abreviatura de “nacional” e que o seu objectivo era eliminar ou dominar todos os que não eram arianos.

Assim, vemos que nos últimos 175 anos tentámos muitas coisas, mas nenhuma delas funcionou perfeitamente. O que devemos tentar a seguir?

Não será certamente uma das religiões antigas - as religiões são sempre específicas de um contexto. Têm princípios semelhantes e valores morais eternos, mas com o passar do tempo, os seus ensinamentos sociais tornam-se limitados e desatualizados.

... os ensinamentos da religião devem ser reformados e renovados, pois os ensinamentos do passado não são apropriados para o tempo presente. Por exemplo, as ciências dos séculos passados não são adequadas à actualidade porque a ciência passou por reformas. A indústria do passado não assegura a actual eficiência porque a indústria evoluiu. As leis do passado estão a ser substituídas porque não são aplicáveis a esta época. Todas as condições materiais do mundo humano sofreram transformações, desenvolveram-se, e as instituições do passado não podem ser comparadas às desta época. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 378)

Vamos, então, analisar a solução Bahá’í que afirma termos entrámos numa nova época, em 1844.

Uma analogia pode ajudar-nos a entender a natureza desta época: é como se todos nós fossemos peixes nadando em diferentes rios do mundo até meados do século XIX, quando aconteceram duas coisas - os rios desaguaram num mar comum, e aumentaram grandemente as tempestades que alimentam o caudal destes rios, aumentando constantemente a força das águas.

É óbvio que o mar é belo, mas também é desconcertante e assustador para um peixe que sempre viveu num rio.

E aqui estamos nós, no mar, vendo todos o tipo de coisas que nunca vimos nos rios onde nascemos, e porque isso é desconfortável para alguns, vemos muitas pessoas a tentar nadar de volta rio acima, querendo voltar atrás no tempo, querendo restabelecer fronteiras e querendo ser protegido daquilo que não conhecem.

Mas as coisas não funcionam assim. Ninguém pode impedir o rio de correr para o mar – é o destino do rio.

E continuamos aqui. Precisamos de aprender a viver neste novo mundo, cheio de diversidade e possibilidades, todos nós cada vez mais próximos uns dos outros. Precisamos de compreender os novos tempos em que vivemos – e isso é parte do plano de Deus para nos unir, e precisamos de aprender novas maneiras de estar e manter as antigas maneiras que ainda fazem sentido.

Não é apenas o facto de devermos viver com a diversidade. Não é apenas o facto de devermos coexistir; também temos que nos unir, trabalhar juntos, valorizar a nossa diversidade como necessária e bela, formando um todo que é melhor do que a soma das suas partes. Esse é o significado do apelo Bahá’ís para a unidade da humanidade.

Você pode imaginar a força poderosa surgirá quando os membros das diferentes religiões descobrirem que têm um objectivo comum? A verdade é que não há diferentes deuses para diferentes religiões; há apenas um Deus e um plano. Esse é o significado daquilo a que os Bahá’ís designam por unidade da religião.

E as Escrituras Bahá’ís dizem-nos que estamos agora no início da maioridade da espécie humana. É um período de transição da adolescência para a idade adulta, e o início da realização da evolução humana. Uma grande parte das Escrituras Bahá’ís confirmam, é óbvio, os antigos valores morais que as religiões sempre apresentaram. Pedem-nos que ajamos com “justiça, equidade, veracidade, honestidade, imparcialidade, segurança e fidedignidade”. Assim, oferecemos instrução a crianças e adultos de todas as religiões para ajudar a refrescar a memória sobre esses valores morais.

É por isso que a Fé Bahá’í:

... foca-se principalmente na natureza daquelas relações essenciais que devem unir todos os estados e nações como membros de uma família. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, p. 43)

A nossa tarefa é apresentar ao mundo um modelo para vivermos juntos em justiça, em paz e em prosperidade. Para fazer isso local e globalmente, você pode aderir e participar nas actividades da comunidade Bahá’í. Depois de fazer isso, você pode dizer a todos ao seu redor que estamos numa era da unidade, a grandiosa e prometida era em que todas as pessoas e religiões se unirão.

----------------------------------
Texto Original: Can Any “Ism” Save Humanity? (www.bahaiteachings.org)


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas AM University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahá’í: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

Sem comentários: