sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Festejar o Halloween, respeitosamente...

Por Shadi Toloui-Wallace.


Tipicamente, nesta época do ano, as crianças, os jovens e as famílias recordam as roupas mais criativas, elaboradas e assustadoras que usaram no Halloween.

Caminhar pelo nosso bairro na véspera do Halloween tem sido para mim uma experiência cultural divertida ao longo dos anos. Muitos amigos ficam surpreendidos quando lhes digo que na Austrália, onde cresci, não tínhamos Halloween. Lembro-me das crianças com máscaras estranhas que apareciam à minha porta, pedindo doces; mas isso muitas vezes deixava-me confusa, e eu dava às crianças pequenas barras de cereais, simplesmente porque eu não tinha ideia do que estava a acontecer. O Halloween não é uma tradição comum na cultura australiana. Além disso, em Outubro estamos na primavera, a estação menos assustadora do ano.

O que é o Halloween?


O Halloween é celebrado anualmente a 31 de Outubro e dá início a um período de três dias chamado tríduo de Todos os Santos, um tempo dedicado a lembrar os mortos; são celebrações enraizadas nas práticas cristãs ocidentais. É amplamente aceite que muitas das tradições actuais do Halloween tiverem origem no antigo festival gaélico das colheitas, o Samhain, que tem raízes celtas e pagãs, nomeadamente a celebração do fim da temporada das colheitas. Algumas dessas tradições herdadas hoje incluem as máscaras, os doces ou travessuras, abóboras decoradas, fogueiras, brincadeiras com maças e visitas a locais assombrados.

Apropriação cultural no Halloween


No início desta semana, perguntei a um grupo de pré-jovens com quem trabalho quais as máscaras que iriam vestir no próximo Halloween. A maioria dos jovens tinha planos bem detalhados e partilhava-os com entusiasmo, mas uma moça entre eles evitou a conversa. Mais tarde, ela disse-me que a sua mãe mencionou que a sua máscara podia ser desrespeitosa ou ofensiva para uma cultura específica. Então essa jovem sentou-se novamente à mesa, tentando pensar em qual máscara que poderia fazer quando já faltava menos de uma semana para o evento. Tive pena dela, mas também fiquei muito impressionada pela consciência e percepção dela e da sua mãe.

Ao longo dos anos, temos ouvido muito sobre que tipo de máscaras são consideradas respeitosas ou desrespeitosas com pessoas de diferentes religiões, géneros, grupos culturais, opiniões políticas e minorias étnicas. Isso, naturalmente, fez-me pensar: o que dizem as Escrituras Bahá'ís sobre isso?

Os Bahá’ís festejam o Halloween?


Sem explorar as nuances da apropriação/apreciação cultural, ou cultura/traje, quero focar este ensaio nas formas que podem assumir a apreciação e representação respeitosa, na perspectiva da Fé Bahá'í, particularmente quando se participa em eventos festivos ou tradicionais. Se o objectivo da Fé Bahá’í implica unir a raça humana aplicando os ensinamentos Bahá’ís, como fazer isso usando máscaras?

Na verdade, os Bahá’ís têm alguma forma de celebração de Halloween? A partir das minhas próprias investigações, percebo que não existe uma regra clara sobre a participação nessas festividades; no entanto, a Casa Universal de Justiça dá aos Bahá’ís parâmetros claros e relevantes se decidirmos participar em actividades culturais ou tradicionais:

Os Bahá'ís devem obviamente ser encorajados a preservar as suas identidades culturais herdadas, desde que as actividades envolvidas não infrinjam os princípios da Fé. A perpetuação dessas características culturais é uma expressão de unidade na diversidade. Embora a maioria dessas celebrações festivas tenham, sem dúvida, provindo de rituais religiosos de épocas passadas, os crentes não devem ser dissuadidos de participar naquelas em que, ao longo do tempo, o significado religioso deu lugar a práticas com orientação puramente cultural. (A Casa Universal de Justiça, para uma Assembleia Espiritual Nacional, 26 de Maio de 1982)

Numa outra carta, a Casa Universal de Justiça partilhou que Bahá’u’lláh deixou-nos a tarefa de identificar os elementos da diversidade que queremos manter e que são "agradáveis aos olhos de Deus:"

... o que Bahá’u’lláh fez para todos nós foi estabelecer um padrão pelo qual se determina o que é agradável aos olhos de Deus, permitindo-nos assim manter aqueles elementos de diversidade que são únicos nas nossas diferentes culturas. A adopção desse padrão divino permite que cada povo tenha confiança na permissibilidade daquilo que pode reter do seu passado. (23 de Junho de 1995)

Assim, apesar do Halloween ser "uma prática com orientação puramente cultural", os Bahá’ís não são encorajados nem desencorajados a participar. Como muitos dos ensinamentos Bahá’ís, o rumo da acção é deixado à consciência do indivíduo, e, consequentemente, muitos Bahá’ís festejam o Halloween.

Então, como podemos participar numa tradição ocidental milenar, como o Halloween, de forma respeitosa, e simultaneamente manter o "padrão divino" de Bahá’u’lláh?

Manter o Padrão Divino - Respeitosamente


‘Abdu’l-Bahá abordou detalhadamente o papel da religião no estabelecimento da unidade e da fraternidade universais, promovendo a igualdade de géneros, a prosperidade económica para todos, a educação universal e a disseminação do conhecimento, e pondo fim a qualquer vestígio de preconceito de religião, raça, político, patriótico ou económico:

… cada era tem um espírito e o espírito desta era iluminada está nos ensinamentos de Bahá'u'lláh, pois estes lançam o alicerce da unidade do mundo da humanidade e promulgam a fraternidade universal. Baseiam-se na unidade da ciência e da religião, e na investigação da verdade. Sustentam o princípio de que a religião deve ser a causa da amizade, união e harmonia entre os homens. Estabelecem a igualdade de ambos os sexos e apresentam princípios económicos para a felicidade dos indivíduos. Difundem a educação universal, para que cada alma possa adquirir tanto conhecimento quanto possível. Revogam e eliminam preconceitos religiosos, raciais, políticos, patrióticos, económicos e quaisquer outros. Esses ensinamentos, que estão disseminados pelas Epístolas e Cartas, são a causa da iluminação e da vida do mundo da humanidade. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 71

Ao considerar as nossas intenções com o estabelecimento da unidade da humanidade, também podemos ter em conta como essas ambições têm impacto nas nossas relações com grupos minoritários, no nosso conhecimento e compreensão da sua história, nas susceptibilidades em torno das suas práticas e tradições culturais, cerimoniais e formas de abordar as questões sistémicas subjacentes que actuam como barreiras perpetuadoras que hoje impedem o seu progresso na sociedade:

O princípio fundamental da unidade da humanidade e o objectivo da Fé de promover a unidade na diversidade estão na base da abordagem Bahá’í para os povos indígenas. Os seus direitos são inseparáveis dos direitos humanos para todos, e a Fé Bahá’í defende o direito dos povos indígenas a desenvolverem-se e a orgulharem-se da sua própria identidade, cultura e idioma. Uma grande importância é atribuída ao ensino da Fé às populações indígenas num país, mais especialmente porque elas foram frequentemente negligenciadas ou oprimidas por outros segmentos da sociedade ...

Uma característica única da Ordem Administrativa Bahá’í é a maneira pela qual permite que todos os diferentes elementos da comunidade Bahá’í, provenientes de uma multiplicidade de origens étnicas, raciais, culturais e educacionais, trabalhem juntos em apoio mútuo e de forma espiritualmente benéfica. (A Casa Universal de Justiça, para um Bahá'í individual, 25 de Julho de 1995)

Como promotores da unidade da humanidade, nós, Bahá'ís, também devem considerar nossas suposições sobre aqueles que vivem num clima económico, político ou geográfico diferente, e considerá-los como iguais, reconhecendo e respeitando as suas antigas histórias, tradições e herança:

Discriminar qualquer raça, por ser socialmente atrasada, politicamente imatura e numericamente minoritária, é uma violação flagrante do espírito que anima a Fé de Bahá’u’lláh. A consciência de qualquer divisão ou clivagem nas suas fileiras é estranha ao seu próprio propósito, princípios e ideais. Quando os seus membros tiverem reconhecido plenamente a reivindicação do seu Autor e, ao identificarem-se com a sua Ordem Administrativa, aceitarem sem reservas os princípios e leis personificados nos Seus ensinamentos, deverá ser automaticamente eliminada toda diferenciação de classe, credo ou cor, jamais ser permitida, sob pretexto algum, e por maior que seja a pressão de acontecimentos ou da opinião pública, que ela se refirme. Se alguma discriminação deve ser tolerada, não deverá ser contra, mas sim, a favor da minoria, seja racial ou outra. (Shoghi Effendi, The Advent of Divine Justice, pp. 35-36)

Como podemos promover a unidade e defender a diversidade com respeito pelos outros, e simultaneamente defender o "padrão divino" de Bahá’u’lláh no próximo Halloween - e em todos os dias do ano?

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Texto original: What’s Respectful this Halloween? (www.bahaiteachings.org)

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Shadi Toloui-Wallace nasceu em Bisbarne, na Austrália e vive em Vancouver, no Canadá. É formada Comunicação Social e Relações-Públicas e é reconhecida pelos seus contributos musicais para a comunidade Bahá’í e envolvimento iniciativas artísticas e comunitárias, a nível local e internacional. é editora do site BahaiTeachings.org. Para saber mais sobre Shadi, visite este site: ShadiTolouiWallace.com

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