sábado, 13 de novembro de 2021

Porque os Soldados precisam de ter uma Voz na guerra

Por David Langness.


Em 1914, pouco antes de serem disparados os primeiros tiros da Primeira Guerra Mundial, uma pessoa perguntou a 'Abdu'l-Bahá: "Como se pode alcançar a paz universal?" Em resposta, 'Abdu'l-Bahá pode ter surpreendido e chocado os Seus ouvintes.

Na Sua resposta contundente, ‘Abdu’l-Bahá destacou três propostas sem precedentes:
  • Os bancos não devem emprestar dinheiro às nações em guerra; 
  • As empresas de transportes devem recusar-se a transportar armas e munições para qualquer lugar; 
  • E por fim, os soldados devem exigir que os seus comandantes apresentem uma justificação clara e convincente para a guerra em que se vão envolver – antes de disparar o primeiro tiro.
Se alguma destas três coisas tivesse acontecido antes da “guerra que iria acabar com todas as guerras”, a carnificina nunca teria acontecido.

‘Abdu’l-Bahá começou por dizer: “Os ideais da Paz devem ser nutridos e espalhados entre os habitantes do mundo; devem ser formados na escola da Paz e conhecer os males da guerra”.

E depois, descreveu as Sua propostas reformistas, uma por uma:

Primeiro: os financeiros e os bancos devem deixam de emprestar dinheiro a qualquer governo que tencione fazer uma guerra injusta contra uma nação inocente.

Historicamente, isto não teria precedentes. Normalmente, os grandes bancos mundiais emprestam dinheiro aos governos para financiar os custos da guerra, e antes da Primeira Guerra Mundial, cinco dessas grandes instituições – Barings, Kleinworts, Morgans, Rothschilds, e Schröders – e três grandes instituições financeiras mundiais dessa época – Lloyds, Midland, e Westminster – perceberam que podiam ganhar dinheiro com a guerra que se avizinhava, cobrando taxas de juro elevadas nos empréstimos aos vários governos. Essas instituições encorajaram diretamente os dirigentes políticos a envolver os seus países na guerra (para mais informação sobre o papel dos bancos na guerra, ver este link).

A segunda proposta de ‘Abdu’l-Bahá era igualmente radical:

Segundo: os presidentes e administradores das empresas de caminhos de ferro e navegação devem abster-se de transportar munições de guerra, engenhos infernais, armas, canhões e pólvora de um país para outro.

Naquela época, a maioria das mercadorias era transportada por ferrovia e por navio e, como resultado, as grandes transportadoras também consideravam a guerra um projecto muito lucrativo. As principais linhas de transporte de tropas, armas e munições dependiam do transporte ferroviário e, se estes se recusassem a transportar o material de guerra, poderiam ter efectivamente interrompido as hostilidades. (para mais informações sobre o papel dos transportes na guerra, ver este link).

Mas a terceira proposta de ‘Abdu’l-Bahá parece a mais revolucionária das recomendações – e a mais crítica para os senhores da guerra, a quem Ele chamou “reis, governantes, políticos e fomentadores de guerra”:

Terceiro: os soldados devem solicitar, através dos seus representantes, aos Ministros da Guerra, aos políticos, aos deputados e aos generais que exponham numa linguagem clara e perceptível os motivos e as causas que os levam a estar à beira de uma calamidade nacional. Os soldados devem exigir isto como um direito especial.

‘Demonstrem-nos’, devem dizer, ‘que esta é uma guerra justa, e então entraremos no campo de batalha; caso contrário não daremos um passo. Ó reis e governantes, políticos e fomentadores de guerras; vós que passais as vossas vidas nos palácios mais requintados da arquitetura italiana; vós que dormis em apartamentos arejados e bem ventilados; vós que decorais os vossos salões de recepção e de jantar com belos quadros, esculturas, tapeçarias e frescos; vós que andais em Elísios perfeitos, rodeados por laranjais e murtas, num ar com odores de perfumes deliciosos e sons de doces canções de mil pássaros, a terra como um tapete luxuriante de erva esmeralda, flores brilhantes salpicando os prados e árvores revestidas de verdura; vós que estais vestidos com seda cara e tecidos de produção requintada; vós, sentados em macios sofás de penas; vós, que comeis os pratos mais deliciosos e saborosos; vós que desfrutais da maior facilidade e conforto nas vossas mansões maravilhosas; vós que assistis a excelentes concertos musicais sempre que vos sentis um pouco confusos e tristes; vós que adornais os vossos grandes salões com grinaldas verdes e flores recortadas, coroas frescas e faixas verdejantes, iluminando-os com milhares de luzes eléctricas, enquanto a fragrância refinada das flores, a música suave e encantadora, a iluminação fantasiosa, criam uma ambiente maravilhoso; vós, que estais nesse ambiente: saí dos vossos refúgios, entrai no campo de batalha se gostais de vos atacar uns aos outros e desfazer os outros em pedaços, e assim expressar as vossas chamadas discórdias. A discórdia e a contenda existem entre vós; porque nos fazem a nós, pessoas inocentes, participar nisso? Se o combate e a carnificina são coisas boas, então conduzam-nos para o combate com a vossa presença!

Conseguem imaginar isso? Antes de entrar em combate ou disparar um tiro, as tropas devem ter o direito de ouvir e decidir sobre os motivos da guerra - e se concordam em lutar, aqueles querem a guerra - os homens, normalmente isolados das consequências violentas das suas decisões, devem conduzi-los na batalha sangrenta.

‘Abdu’l-Bahá sumariza dizendo:

Em resumo, todos os meios que produzem a guerra devem ser verificados e as causas que impedem a ocorrência da guerra devem ser apresentadas, para que o confronto físico possa tornar-se uma impossibilidade.

... para que o confronto físico possa tornar-se uma impossibilidade” é a sua conclusão, na busca do primeiro objectivo dos ensinamentos Bahá’ís: a paz mundial.

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Texto original: Why Soldiers Need a Voice in War (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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