sábado, 4 de dezembro de 2021

Como Maria, a Mãe de Cristo, nos juntou

Por Deborah Clark Vance.


Num momento de convívio antes de uma reunião inter-religiosa, ouvi várias mulheres discutindo os seus planos para um painel de debate entre os membros das religiões abraâmicas. O tema era Maria, mãe de Jesus.

Somos um grupo de mulheres e constituímos grupo inter-religioso e recentemente recebemos algumas imigrantes turcas, para quem Maria é uma figura religiosa importante. Conheci essas mulheres quando uma delas me contactou pessoalmente para perguntar se eu lhes podia ensinar alguma coisa a Fé Bahá'í. Reunimo-nos no Centro Bahá’í, e elas estiveram duas horas a fazer perguntas. Então, naquela manhã, quando as ouvi a falar sobre Maria, sugeri falar, se elas permitissem, sobre os laços da Fé Baha'i com as religiões abraâmicas, um tema que geralmente é esquecido. Elas concordaram.

Essa palestra teve lugar no Centro Islâmico, a que pertenciam várias mulheres do grupo inter-religioso. Antes do início da reunião, todos se sentaram numa grande sala de conferências. O Imam sentou-se ao lado do meu marido e, quando ouviu que éramos Bahá’ís, afirmou que "Muhammad é o último profeta", uma declaração com a qual estávamos bem familiarizados. Não falámos da explicação de Bahá’u’lláh sobre os versículos e profecias do Alcorão, porque estávamos ali para criar pontes, e não para discutir sobre religiões. Aquele Imam em particular não estava envolvido em nenhuma das actividades inter-religiosas locais, onde o essencial é respeitar as religiões uns dos outros e centrarmo-nos nas nossas crenças comuns.

Estavam cerca de quarenta pessoas na sala, e eu fui a primeira a falar. Na minha palestra, expliquei por que motivos a Fé Bahá’í está intimamente ligada às religiões abraâmicas. O Báb, o mensageiro que inaugurou a era Bahá’í, era um descendente directo de Muhammad, que descendia de Abraão com a sua esposa Hagar. Bahá’u’lláh era descendente de Abraão por parte do pai, com a esposa de Abraão, Sara, e por parte da mãe, da esposa de Abraão, Keturah.

E depois da genealogia, expliquei que os Bahá'ís reconhecem e defendem os ensinamentos do Antigo Testamento; a inspiração divina do Evangelho; a filiação divina de Jesus Cristo e a realidade do mistério da Imaculabilidade da Virgem Maria. Bahá’u’lláh chamou "Espírito de Deus" a Cristo, Aquele que "apareceu com o sopro do Espírito Santo" e exaltou-O como a "Essência do Espírito". No Livro da Certeza, Bahá’u’lláh descreve a situação da Virgem Maria, a quem Ele chama "Aquele semblante velado e imortal". Partilhei o seguinte excerto do Livro da Certeza, onde Bahá’u’lláh cita a Sura de Maria do Alcorão:

De igual modo, deves reflectir sobre o estado e a condição de Maria. Tão profunda foi a perplexidade desse belíssimo semblante, tão penosa foi a sua situação, que ela lamentava amargamente ter nascido. Disto dá testemunha o texto do sagrado versículo onde se menciona que Maria, depois do nascimento de Jesus, chorou a sua situação e gritou: “Oxalá eu tivesse morrido antes disto e tivesse sido esquecida, completamente esquecida!” (Livro da Certeza, ¶59)

Bahá’u’lláh explicou que Deus testa a humanidade para distinguir os sinceros dos falsos, e que a condição de Maria foi um desses testes quando Jesus estava no mundo. Ele salienta que Cristo foi rejeitado pelos que diziam “Como pode Cristo ser uma pessoa importante se tem um pai desconhecido?”. De igual modo, Ele descreve a situação de Moisés, cuja condição foi questionada por ser sabido que Ele tinha cometido um assassínio. Essas condições tornam-se barreiras para o povo, tal como Bahá’u’lláh refere, mais uma vez citando o Alcorão:

Tão grande consternação da alma, tão grande desespero, não foram causados senão pela censura do inimigo e pelos comentários dos infiéis e dos perversos. Reflecte: que resposta poderia Maria ter dado às pessoas ao seu redor? Como poderia ela afirmar que um Bebé Cujo pai era desconhecido tinha sido concebido pelo Espírito Santo? Por isso, Maria, aquele semblante velado e imortal, pegou na sua Criança e regressou ao seu lar. Logo depois, os olhos do povo caíram sobre ela e levantaram a voz dizendo: “Ó irmã de Araão! O teu pai não foi um homem perverso, nem a tua mãe foi impura.” (Livro da Certeza, ¶59)

Outros participantes do painel foram uma Luterana e uma Católica, além de uma representante Judia que falou sobre a importância do nome Miriam. O Imam leu toda a sura de Maria em árabe e inglês, e leu o mesmo excerto da sura de Maria que citei anteriormente.

Um ano após esse evento, o meu marido e eu recebemos um convite para um "jantar de influenciadores" naquele mesmo Centro Islâmico juntamente com outros convidados, incluindo o chefe de polícia local e o presidente do município. Nos meses recentes, tinham ocorrido actividades anti-islâmicas e quando o Imam cumprimentou o público, disse que tinha percebido que todas as religiões precisam trabalhar juntas. Agora, quando o encontramos noutros eventos, cumprimentamo-nos como amigos.

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Texto original: How Mary, the Mother of Christ, Helps Us Bond (www.bahaiteachings.org)


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Deborah Clark Vance é doutorada pela Howard University em Comunicação Intercultural e trabalhou como Professora Associada e Presidente do Departamento de Comunicação e Cinema do McDaniel College. Publicou antologias, livros didáticos, artigos em revistas académicas; apresentou artigos em várias conferências e trabalhou numa série educativa na TV. Os seus documentos relacionados com a Fé Bahá’í - incluindo a sua dissertação sobre como os Bahá’ís conseguem construir uma identidade unificada a partir das suas diversas identidades - podem ser encontrados na Baha’i Library online. Reformou-se em 2016 e dedicou-se a outros interesses, tendo publicado um romance literário "Sylvie Denied", em Fevereiro de 2021

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