domingo, 30 de janeiro de 2022

Superstição, Teorias da Conspiração e Ciência

Por Abdu'l-Missagh Ghadirian.


Estranhamente, a superstição voltou a ser um fenómeno muito visível na nossa sociedade. Baseada no medo ou na ignorância, desprovida de lógica ou justificação científica, a superstição sempre foi um obstáculo ao progresso da humanidade.

A superstição persiste como norma social desde a antiguidade; um exemplo disso são os preconceitos raciais e religiosos que têm sido transmitidos de geração em geração, sem serem postos em causa. Durante séculos, a cultura herdada e as falsas crenças religiosas contribuíram significativamente para o crescimento e propagação das superstições – que podem parecer mais fortes em algumas culturas do que noutras, mas existem em toda a parte.

Os ensinamentos Bahá'ís defendem a harmonia essencial entre ciência e religião, e têm muito a dizer sobre superstição, incluindo estas duas definições das Escrituras e palestras de ‘Abdu'l-Bahá:

Como pode um homem acreditar num facto que a ciência diz ser impossível? Se ele acredita apesar da sua razão, isso é uma superstição ignorante…

Se as crenças e opiniões religiosas forem contrárias aos critérios da ciência, elas são meras superstições e imaginações; pois a antítese do conhecimento é a ignorância, e a filha da ignorância é a superstição… (Paris Talks, p. 141)

As normas sociais de todas as culturas – as suas formas aceites de pensar, sentir e viver– incluem crenças populares, rituais, tabus e superstições. Actualmente, mesmo na nossa era cientificamente sofisticada, a aceitação social da superstição e da desinformação levou a uma crença cada vez maior em teorias da conspiração, não fundamentadas em informações factuais, mas em suposições.

Religião e Superstição


A superstição é comum entre os seguidores de muitas religiões distintas, e essas mesmas superstições afastaram muitas pessoas da religião. Aqueles que se consideram não-religiosos pensam muitas vezes que todas as crenças e dogmas religiosos não passam de superstições. No entanto, embora as superstições religiosas estejam muito difundidas, a religião na sua verdadeira essência apresenta-nos uma educação divina significativa.

Os ensinamentos Bahá'ís dizem que a causa principal da superstição religiosa está na interpretação feita pelo homem e na deturpação das Sagradas Escrituras - frequentemente pelo clero e por líderes religiosos. Os Bahá'ís acreditam que as Escrituras e as orações reveladas pelos fundadores e profetas da verdadeira religião são importantes e estão de acordo com a realidade espiritual, enquanto as opiniões individuais vindas de fontes duvidosas podem refletir perspectivas distorcidas.

Entre os supersticiosos, alguns acham que existe uma ligação entre o que eles acreditam e uma força sobrenatural ou desconhecida, como o destino. Frequentemente, não apresentam justificação racional para essas crenças, baseando-as nas suas suposições ou emoções. Noções irracionais podem então levar a comportamentos estranhos como usar certos símbolos ou amuletos para proteger uma pessoa do azar, acreditar que bater na madeira evitará consequências indesejáveis, ou evitar certas acções, como passar por baixo de uma escada, que supostamente trazem consequências negativas.


A Superstição nas Nossas Vidas Diárias


Se você é supersticioso, você não está sozinho. De acordo com uma sondagem de 1996 da Gallup Organization, 25% dos americanos definem-se como muito ou um pouco supersticiosos. Por exemplo: uma superstição comum, a crença de que o número 13 dá azar, existe há séculos. Os investigadores descobriram que nove por cento das pessoas têm medo de ficar no 13º andar de um hotel devido a uma suposição irracional de que isso traria má sorte – e se lhes fosse atribuído um quarto naquele andar, pediriam um quarto diferente.

De facto, devido à crença de que morar no 13º andar de um prédio pode ter consequências negativas, alguns prédios designam o 13º e 14º andares “14a” e “14b” para evitar o uso desse número. Noutros prédios, a numeração dos andares simplesmente salta um número, indo do 12 para o 14. Em algumas culturas, diz-se que o número 4 dá azar; noutras, a combinação do “666”. Muitos acreditam que quando um gato preto passa à nossa frente ou partimos um espelho isso pode dar azar. Mesmo a origem da expressão “Deus te abençoe!” (ou “Santinho!”) depois de alguém espirrar vem originalmente da crença de que o espirro representa a saída do demónio do corpo.

A superstição caracteriza-se frequentemente por uma crença de que um certo comportamento terá um determinado resultado, mesmo que não exista razão crível para manter tal crença. Quem é supersticioso pode pensar que ao realizar uma certa acção pode impedir ou alterar um evento ou uma situação imprevisível. E acontece que os supersticiosos também temem que algo nefasto possa acontecer se não conseguirem realizar um certo gesto. Estas noções estavam profundamente enraizadas nas crenças dos nossos antepassados pois eles não tinham acesso ao conhecimento científico que nós hoje temos disponível. Isso levanta uma questão: porque é que essas crenças permanecem no mundo moderno de hoje? Essas superstições podem representar uma necessidade psicológica e emocional de nos protegermos do desconhecido, ou para controlar o que está fora do nosso controle, apesar de termos conhecimento baseado na ciência. Isso pode explicar a popularidade de crenças em fenómenos como fantasmas, magia e astrologia, e a proliferação de teorias da conspiração.

Os ensinamentos Bahá'ís são muito claros sobre este assunto. Numa palestra, nos Estados Unidos em 1912, ‘Abdu'l-Bahá disse:

O homem deve libertar-se dos... espinhos das superstições... para que possa descobrir a realidade na colheita do verdadeiro conhecimento. Caso contrário, descobrir a realidade é impossível, o confronto e a divergência das crenças religiosas permanecerá sempre e a espécie humana, como lobos ferozes, enfurecer-se-á e atacar-se-ão uns aos outros, em ódio e antagonismo. Suplicamos a Deus para que Ele destrua os véus que limitam a nossa visão e que essas névoas que obscurecem o caminho da manifestação das luzes brilhantes sejam dissipadas, e para que o resplandecente Sol da Realidade possa brilhar. (The Promulgation of Universal Peace, p. 294)

------------------------------------------------------------
Texto original: Superstition, Conspiracy Theories, and Science (www.bahaiteachings.org)


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Dr. Abdu'l-Missagh Ghadirian é professor jubilado Faculdade de Medicina de Montreal, na da Universidade McGill. Como médico, autor e investigador, publicou muitos artigos em revistas científicas e abordou sobre questões sociais e psicológicas em todo o mundo. Entre as suas publicações encontram-se catorze livros, incluindo “Steadfastness in the Covenant”, “Creative Dimensions of Suffering” e, mais recentemente, a segunda edição de “Materialism: Moral and Social Consequences”, 2017. O seu trabalho de investigação também incluiu a relevância dos ensinamentos Bahá’ís para questões da sociedade contemporânea. Fundou e dirige um curso sobre a integração da espiritualidade na prática da medicina. O seu interesse actual é o estudo da relação entre espiritualidade e ciência no avanço da civilização.

Sem comentários: