sábado, 2 de abril de 2022

Um Católico, uma Muçulmana e um Bahá'í falam da unicidade da religião

Por Badi Shams.


Na pequena cidade onde moro, na Colúmbia Britânica (Canadá), sinto-me muito abençoado por ainda estar em contacto com os meus antigos alunos. São pessoas de todas as condições sociais, e a maioria agora tem os seus próprios filhos.

Alguns deles trabalham como nadador-salvador na piscina que frequento regularmente, onde alguns deles nadam comigo e fazem-me companhia na sauna. Um deles, Derek, tem um coração puro. Ele visitava-me regularmente no meu escritório durante os seus anos de escola, e mantivemos contacto quando me reformei.

Derek tem estado em minha casa ajudando-me na jardinagem e eu preparo-lhe comida. Como retribuição, ele disse-me que queria cozinhar para mim e trazer a comida para minha casa. Disse-lhe que seria maravilhoso e perguntei-lhe o que ele planeava cozinhar. Ele respondeu “frango com manteiga”. Fiquei surpreendido, pois frango com manteiga é um prato da Índia Oriental, e ele não é da Índia Oriental. Da minha parte, disse-lhe que iria cozinhar o arroz e fazer a salada.

Na data combinada, Derek telefonou para dizer que o seu pai tinha vindo de outra cidade para visitá-lo e perguntou se poderia trazê-lo. Respondi que ele seria muito bem-vindo.

Mas acontece que naquele mesmo dia, tinha prometido a uma senhora muçulmana iraniana que ela poderia vir à minha casa para colher algumas frutas. Ela é nova na cidade, e o seu trabalho trouxe-a aqui. Quando ela descobriu que eu tinha algumas árvores de fruto iranianas, como diospireiros e nespereiras, ela ficou desejosa para vir buscar algumas frutas que eu tinha guardado para ela. Ela não comia aquelas frutas desde que saíra do Irão.

Depois da refeição, começámos a falar sobre a triste situação do mundo e as várias crises da humanidade. Tanto a senhora Muçulmana, como o pai de Derek, que é Católico, são firmes nas suas crenças.

A senhora iraniana afirmou que estava furiosa com a situação no Irão e como os mulás mentiram às pessoas e enganaram o público. Ela acreditava que eles tinham feito coisas que prejudicaram o Islão.

O pai de Derek também não estava satisfeito com o papel do clero e disse-nos que a situação fê-lo deixar a igreja. Ele sentiu o mesmo que a senhora iraniana; estava desiludido com o que havia acontecido em nome do Cristianismo.

Ambos concordaram sobre o papel negativo do clero - a que eles chamavam “os intermediários de Deus” - na criação de ódio e divisões. Enquanto falavam sobre este assunto, pensei nestas palavras do Livro da Certeza de Bahá'u'lláh:

Os chefes da religião, em todas as eras, impediram os seus povos de alcançar as praias da salvação eterna, pois tinham as rédeas da autoridade nos seus pulsos poderosos. Alguns pelo desejo da liderança, outros querendo conhecimento e entendimento, foram a causa da privação do povo. (Livro da Certeza, ¶15)

Enquanto conversávamos, mencionei aos meus novos amigos que não existe clero na Fé Bahá'í, e os Bahá'ís acreditam que todas as religiões são fundamentalmente uma só, diferindo apenas nas suas leis sociais. Usei a metáfora de que as religiões são como água pura e saudável que desce a montanha, mas que os clérigos por vezes usam-na de forma inadequada ou para os seus próprios fins.

Após duas horas de conversa e partilha dos nossos sentimentos e ideias, concordamos que a única solução para resolver os problemas do mundo é que todas as nações se unam nos seus esforços e se encontre uma religião que combine todas as religiões numa única.

Depois deles saírem e enquanto lavava a louça, percebi que tinha acontecido uma coisa incrível em minha casa. Uma Muçulmana, um Bahá'í e Cristãos de diferentes idades concordaram com a necessidade de uma fé universal e abrangente. Parecia um milagre - três pessoas diferentes com fortes crenças religiosas, que não se conheciam anteriormente, expressaram as suas opiniões num ambiente de respeito, amor, harmonia e amizade.

O que fez com que todos nós - com diferentes faixas etárias e visões – vivenciássemos isso? Parecia que uma força misteriosa tomava conta da conversa e nos levava para essa conclusão, como se o espírito da época em que vivemos assumisse o controlo. Como Bahá'í, não pude chegar a nenhuma outra conclusão, excepto que o espírito de unidade e unidade libertado pela revelação de Bahá'u'lláh está a funcionar na sua plenitude. Tudo o que podemos fazer é aumentar a sua força e, se não for possível, não ser um obstáculo no seu caminho. A unidade da humanidade não é um ideal ou slogan. É a única saída que resta para a sobrevivência de uma humanidade rebelde.

Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá’í, esclareceu este assunto:

Que não haja equívocos. O princípio da Unicidade da Humanidade - o eixo em torno do qual giram os ensinamentos de Bahá’u’lláh – não é um mero acesso de sentimentalismo ignorante ou uma expressão esperança piedosa e vaga. O seu apelo não pode ser identificado apenas com o renascer do espírito de fraternidade e boa-vontade entre os homens, e o seu propósito não se limita a fomentar uma cooperação harmoniosa entre indivíduos e nações. As suas implicações são mais profundas, os seus postulados são maiores do que qualquer outro que foi permitido ser apresentado pelos Profetas do Passado. A sua mensagem é aplicável não apenas a indivíduos, mas foca-se essencialmente na natureza das relações básicas que devem ligar todos os estados e nações como membros de uma família humana. Não constitui um mero enunciado de um ideal, mas está inseparavelmente vinculada a uma instituição capaz de encarnar a sua verdade, demonstrar a sua validade e perpetuar a sua influência. Implica uma mudança orgânica na estrutura da sociedade actual, uma mudança que o mundo jamais experimentou… Apela a nada menos que a reconstrução e desmilitarização de todo o mundo civilizado – um mundo organicamente unificado em todos os aspectos essenciais da sua vida, da sua maquinaria política, das suas ambições espirituais, comércio e finanças, escrita e idioma, e contudo, infinito na diversidade das características nacionais das suas unidades federadas.

Talvez tenha chegado o momento da humanidade tomar o caminho da maturidade e aceitar a unicidade e unidade como a fase seguinte e necessária do seu desenvolvimento.

Estou muito feliz com a memória daquela noite, em que disfrutamos doa nossa unicidade e também de comida maravilhosa – frango com manteiga para o corpo e para a alma.

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Texto original: A Catholic, a Muslim and a Baha’i on the Oneness of Religion (www.bahaiteachings.org)


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Badi Shams é um professor reformado que vive na ilha de Vancouver (Canadá). Tem um interesse especial pela área da economia, tendo publicado as obras "Economics of the Future" e mais recentemente "Economics of the Future Begins Today". O seu website sobre economia de inspiração Bahá’í é www.badishams.net.

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