sábado, 27 de agosto de 2022

Seguir um Caminho Espiritual nas Redes Sociais

Por Moneshia zu Eltz.


Quando há quatro meses criei a minha conta no Instagram, fi-lo com um objectivo espiritual.

Sou Bahá'í e tenho uma forte crença na unicidade da humanidade; estou super-interessada em perceber como é que as pessoas que se encontram online - independentemente da raça, da classe e do género - podem enriquecer nossa experiência colectiva de unidade.

Decidi entrar naquele mundo do Instagram com um objectivo: “… não se considerem uns aos outros como estranhos. Sois os frutos de uma só árvore e as folhas de um só ramo”. – Bahá'u'lláh (Tablets of Baha’u’llah, p. 164.)

O Instagram — devido à sua natureza global — parecia o lugar perfeito para reafirmar os ensinamentos de Bahá'u'lláh de unificar a humanidade numa causa universal.

Unirmo-nos com outros, através de um sentido de humanidade como “folhas de um só ramo e ondas de um mesmo mar”, parecia uma perspectiva atraente. Eu tinha usado ferramentas online para orientação e reuniões, mas nunca para me ligar com estranhos.

Uma ressalva, porém: as minhas filhas adolescentes responderam ao anúncio do meu projecto no Instagram com uma preocupação leve, mas genuína. “Mãe, isso é uma perda de tempo” avisaram elas. “Vais odiar aquilo!”, advertiram as duas. Sabendo o quanto eu não gostava do uso excessivo de tecnologia, elas eram notavelmente capazes de identificar os meus preconceitos.

No entanto, eu tinha uma missão: entender como usar as redes sociais como uma força para o bem, para atrair e reunir pessoas com ideias semelhantes em tópicos relacionados com empreendedorismo social, mudança social, práticas comerciais éticas e sustentabilidade. Nos textos Bahá'ís, Shoghi Effendi deixou claro que o princípio da unidade envolve muito mais do que apenas amor e tolerância; também exige uma mudança fundamental na estrutura da sociedade:

Que não haja equívocos. O princípio da Unicidade da Humanidade - o eixo em torno do qual giram os ensinamentos de Bahá’u’lláh – não é um mero acesso de sentimentalismo ignorante ou uma expressão esperança piedosa e vaga…

Representa a consumação da evolução humana – uma evolução que teve os seus começos no nascimento da vida familiar, o seu subsequente desenvolvimento no alcançar da solidariedade tribal, levando por seu lado à constituição da cidade-estado, e expandindo-se posteriormente na instituição de nações independentes e soberanas.

O princípio da Unicidade da Humanidade, conforme proclamado por Bahá’u’lláh, tem consigo nada mais nada menos que a afirmação solene de que o alcançar da fase final nesta evolução estupenda não é apenas necessário, mas também inevitável, que a sua realização se aproxima velozmente, e que nada salvo um poder oriundo de Deus pode conseguir estabelecê-lo. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, p. 43)

Com mil milhões de utilizadores activos, o Instagram parecia um dos lugares mais inclusivos para testar como uma rede social poderia ajudar-nos a reorganizar as nossas sociedades – mas eu tive que começar do início. Eu não sabia o que era uma “história”, ou mesmo hashtags. Também percebi que tinha vários anos e uma geração de atraso, pois ao fim de 30 dias tinha apenas 200 seguidores; recorri aos especialistas para entender como atrair e interagir com estranhos que também queriam ser, na sua comunidade, agentes de mudança para um mundo melhor.

Para saber mais, perguntei a uma amiga que era influenciadora no Instagram, além das amigas das minhas filhas (de 16 a 21 anos) sobre como usar melhor aquela rede. Ambos responderam que exigia muito esforço, que publicavam com regularidade e seguiam outros que os seguiriam em troca. Vi alguns seminários de explicação sobre como construir uma presença, mas resisti ao desejo de pagar 350 dólares por um curso ou anúncios de patrocinadores.

Em vez disso, observei as imagens que os jovens Bahá'ís partilhavam e senti-me tocada pelo mundo alternativo e pelas perspectivas de amizade e beleza que elas expressavam, de acordo também com a orientação única de Bahá'u'lláh:

Exortamos-vos, ó povos do mundo, a observar aquilo que eleve a vossa condição… Doravante todos devem proferir aquilo que seja conveniente e correcto, e devem abster-se de difamar, maltratar e de tudo o que provoque a tristeza nos homens. Sublime é a condição do homem! (Bahá’u’lláh, Tablets of Bahá’u’lláh, pp. 219-220)

Dei por mim a prestar atenção diariamente a publicações com citações dos ensinamentos Bahá'ís pela beleza, humor e elevação que me proporcionavam. Da mesma forma, procurei citações de Rumi e Rudolf Steiner, e descobri que o trabalho de muitos fotógrafos e artistas também é especialmente espiritual. Segui os autores das citações e descobri que muitos eram treinadores/preparadores de vida ou de liderança.

Aos poucos percebi que o Instagram funcionava como um meio para partilhar ideias e também oferecer workshops, seminários de formação, treino e ideias sobre a vida, e como vivê-la. No entanto, quanto mais eu olhava, mais também encontrava pessoas lucrando financeiramente com as suas ideias de ofertas para “comprar seguidores” e “aprender a ser um influenciador”. Isso lembrou-me que ainda temos algum progresso pela frente.

Então, como podemos avançar em direção à unidade, acção colectiva e unidade da humanidade? Voltando novamente às Escrituras Bahá'ís, li o seguinte: "Tudo o que a língua do homem proferir, deve ser provado pelos seus actos ". ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, p. 139) Claramente, existe pouca acção real online, não importa quão belas sejam as imagens ou os sentimentos. Além disso, mesmo tentando ser positiva, dada a grande quantidade de conteúdos e comentários partilhados, nem tudo parecia edificante para a condição humana. Fui obrigada a examinar que mesmo com o Word Swag e outras ferramentas para embelezar minhas publicações, o “ROI (Return of Investment) de Seguidores” no meu tempo foi negativo. A minha conclusão: não tenho certeza se o Instagram será capaz de mudar esse comportamento.

Seis meses depois, sem um aumento significativo nos resultados, decidi reorientar os meus esforços de novo no mundo real. Juntei-me a um círculo de estudos Bahá'ís para me tornar tutora, abri a nossa casa para um grupo de capacitação de pré-jovens, bem como outro curso Bahá'í sobre crescimento espiritual pessoal. Estou a reflectir sobre orações e o significado da vida e da morte sob uma perspectiva espiritual, e pretendo falar em breve numa conferência de inspiração Bahá'í sobre Ética nos Negócios. Além disso, como pode ver, estou a escrever textos para o site BahaiTeachings.org.

Estou grata por refletir, através da minha experiência nas redes sociais, sobre como as minhas acções na minha vida diária podem avançar – como posso ser franca e amorosa, analítica e respeitosa. No trabalho e com amigos, procuro expressar ideias com confiança, mas com modéstia, ser conhecedora, mas generosa, amigável e genuína. A minha experiência com as redes sociais ajudou-me a ser mais vigilante e aberta, empoderada e consciente sobre como gasto o meu tempo. Espero ver-vos num encontro devocional, um círculo de estudos Bahá'ís ou aqui mesmo online!

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Texto original: Walking a Spiritual Path on Social Media (www.bahaiteachings.org)


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Moneshia zu Eltz é uma profissional de investimentos. Actualmente, é mentora e consultora activa para empresas sociais. Formou-se em Economia no Smith College, embora os seus verdadeiros interesses fossem a literatura comparada e a religião comparada. Posteriormente completou um MBA na Wharton. Moneshia é de Nova Iorque, de origem indiana, e actualmente mora em Munique na Alemanha com 2 filhas adolescentes.

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