sábado, 5 de novembro de 2022

Déjà Vu: os sonhos preveem o futuro?

Por David Langness.


Todos nós temos alguma experiência de uma sensação, que nos ocorre ocasionalmente, em que aquilo que estamos a dizer ou a fazer, parece já ter sido dito e feito anteriormente, em tempos passados – de termos estado, há muito tempo, na presença dos mesmos rostos, objetos, e circunstâncias - de sabermos perfeitamente o que será dito seguidamente, como se de repente nos lembrássemos disso! – Charles Dickens

Em verdade, digo: a alma humana está elevada acima de toda a saída e todo o regresso. Está imóvel, mas eleva-se nos ares; move-se, mas está parada. É, em si, um testemunho que prova a existência, de um mundo que é contingente, assim como a realidade de um mundo que não tem princípio nem fim. Vê como o sonho que tiveste pode, após um intervalo de muitos anos, recriar-se diante dos teus olhos. Considera como é estranho o mistério do mundo que te apareceu no teu sonho. Pondera no teu coração a inescrutável sabedoria de Deus e medita sobre as suas múltiplas revelações... (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXXII)

Eu tive minha primeira experiência de déjà-vu, um sonho reconstituído perante os meus olhos, quando eu tinha dez anos.

O meu sonho Déjà-Vu do Futuro.


O meu pai e eu tínhamos ido pescar, num distante lago de montanha, junto à fronteira do Canadá, no estado de Washington, um lugar onde nós nunca tínhamos ido antes. Chegámos perto do anoitecer e entrámos numa pequena loja e centro da guarda-florestal perto do lago para conseguir um local onde acampar durante a noite. Assim que passei na entrada do edifício, percebi – sabia com toda a certeza, sem qualquer dúvida — que já estivera ali antes. Tudo era conhecido. Eu sabia exatamente onde estaria a vitrine com material de pesca, a máquina dos refrigerantes e o pequeno fogão barrigudo antes de olhar. Eu sabia o que o homem atrás do balcão tinha vestido, e exactamente como ele inclinaria o seu chapéu azul desbotado para nos cumprimentar. Eu sabia como meu pai iria responder antes que ele falasse. Eu sabia que um labrador preto se levantaria perto do fogão quente e viria cumprimentar-me.

Enquanto eu estava ali com aquele amigável labrador preto que farejava a minha mão, espantado com aquela sensação avassaladora de precognição, lembrei-me do meu sonho de ir pescar com meu pai. Três anos atrás, quando tinha sete anos, eu sonhara vividamente com aquele lugar e guardei-o na minha mente com muitos detalhes. Lembrei-me do sonho e vi que correspondia à realidade. Assim que percebi que havia sonhado com esse momento anos antes, um arrepio percorreu a minha espinha. Eu sabia, de repente, que naquela estranha colisão entre o passado e o presente, eu tinha descoberto algo profundo. Desde aquele primeiro déjà-vu, tive mais alguns, mas sempre quando menos esperava, e sempre ocorrendo completamente de surpresa.

Quão comum é o Déjà-Vu?


Certamente conhecem alguém que já teve um desses tipos misteriosos de sonho de antecipação?

Aparentemente, a maioria de nós já teve esta experiência – na verdade, são bastante comuns. Sondagens em muitas culturas diferentes indicam que entre 66-96% das pessoas relatam ter pelo menos uma experiência de déjà-vu. Isso provavelmente não nos deveria parecer estranho, porque é tão universal. A expressão francesa déjà-vu significa simplesmente “já visto” e geralmente refere-se à forte sensação de que, de alguma forma, já vivemos ou sonhámos anteriormente com um acontecimento actual.

Essas experiências não são consideradas “paranormais” porque são muito comuns – acontecem com crianças e adultos em todos os tipos de sociedade e foram relatadas ao longo da história. Os neurocientistas propuseram muitas teorias sobre a experiência do déjà vu, mas nenhuma foi comprovada. Escritores e investigadores apresentaram explicações místicas.

O que significam estes sonhos sobre o futuro?


Os ensinamentos Bahá'ís dizem que esse tipo sonhos com réplicas da vida real podem indicar e indicam a existência de outro mundo além deste que nos é familiar:

Sabe tu que, em verdade, os mundos de Deus são incontáveis em número e infinitos em âmbito. Ninguém os pode contar ou compreender, salvo Deus, o Omnisciente, a Suprema Sabedoria. Considera o teu estado enquanto adormecido. Em verdade, digo, este fenómeno é o mais misterioso dos sinais de Deus entre os homens - fossem eles ponderá-lo nos seus corações. Considera como a coisa que viste no teu sonho se realiza plenamente após um espaço de tempo considerável. Se o mundo em que te encontraste no teu sonho fosse idêntico ao mundo em que vives, o evento ocorrido nesse sonho teria, necessariamente, de ter ocorrido neste mundo no mesmo momento. Se assim fosse, tu próprio terias dado testemunho disso.

Não sendo o caso, porém, deve-se necessariamente deduzir que o mundo em que vives é diferente e está separado daquele que vivenciaste no teu sonho. Este último mundo não tem princípio, nem fim. Seria verdade se argumentasses que este mesmo mundo, conforme decretado por Deus Todo-Glorioso e Omnipotente, esteja dentro do teu próprio ser, envolto dentro de ti. Seria igualmente verdade, afirmar que o teu espírito, tendo transcendido as limitações do sono e estando livre de toda ligação terrena, por acção de Deus, tivesse sido levado a atravessar um reino que jaz oculto na mais íntima realidade deste mundo.

Em verdade, digo: a criação de Deus abrange mundos além deste mundo e criaturas distintas destas criaturas. Em cada um desses mundos, Ele decretou coisas que ninguém pode sondar, senão Ele Próprio, o Perscrutador de Tudo, o Omnisciente. Medita sobre aquilo que te revelámos, a fim de que possas descobrir o desígnio de Deus, teu Senhor e o Senhor de todos os mundos. Nestas palavras, os mistérios da Sabedoria Divina foram entesourados. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXIX)

Então, como sugere Bahá'u'lláh, vamos meditar sobre estes fenómenos durante minuto. O que podem significar?

Poderá o déjà-vu indicar que o tempo – tal como os físicos conhecem, um conceito flexível baseado na força gravitacional – é mais fluído e mutável do que pensamos? Poderá significar que as nossas mentes e espíritos podem, em alguns casos, de alguma forma ultrapassar o presente e ver o nosso futuro? Ou poderá significar que existem vários mundos, com a ligações ocasional entre eles que se revelam na nossa consciência? Não vou fingir que sei a resposta, mas sei que meu próprio déjà-vu e experiências com sonhos me convenceram de que existe uma realidade espiritual além da realidade quotidiana que os meus fracos poderes de percepção me permitem entender.

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Texto original: Déjà Vu: Do Dreams Predict the Future? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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