sábado, 29 de julho de 2023

O que o ChatGPT nos pode dizer sobre a Alma Humana?

Por Vahid Houston Ranjbar.


Com o lançamento do ChatGPT pela OpenAI e outros programas de inteligência artificial (IA) provenientes de outras fontes, as preocupações sobre os recursos da IA moderna cresceram rapidamente. Devemos ficar todos preocupados?

Os sistemas de Inteligência Artificial como o ChatGPT - que representam uma nova fronteira tecnológica - podem conversar livremente numa linguagem correcta sobre uma variedade aparentemente infinita de assuntos. Embora os programas de IA cometam erros factuais e, por vezes, até criam os seus próprios, eles parecem ser capazes de usar o raciocínio humano em conversas geradas por computador.

Por exemplo, o ChatGPT supostamente passou em vários testes, desde os exames da Ordem dos Advogados (EUA) até exames de admissão à universidade, e pode gerar um novo código complexo de computador específico para resolver uma diversidade de problemas.

Paralelamente, surgiram outros tipos de software de criação de imagens, como Stable Diffusion e Midjourney, que podem gerar imagens incríveis que podem parecer foto-realistas ou desenhadas à mão com base numa simples introdução de uma série de palavras.

Surgiram debates intensos: até que ponto esses computadores imitam os aspectos racionais e criativos da consciência humana? Poderiam vir a tornar-se "conscientes"? Embora esses sistemas ainda não tenham atingido um nível suficientemente elevado para replicar fielmente o verdadeiro raciocínio ou consciência humana – a ambição do chamado projeto de Inteligência Artificial Geral (IAG) – eles estão claramente a realizar processos racionais intelectuais que se podem descrever como um tipo de “pensamento”.

Na minha opinião, seria um erro considerar isto como se fosse apenas uma função sofisticada de “cortar-e-colar” (“cut-and-paste”), como muitos argumentaram. Estes sistemas estão a fazer mais do que isso. Além de imitarem superficialmente a estrutura neural da mente humana usando as chamadas redes neurais, também parecem estar a construir modelos muito sofisticados do mundo, de formas que nenhum outro organismo além dos humanos foi capaz de fazer.

A inteligência artificial moderna está construída usando camadas de “neurónios” interligados que, de forma muito rudimentar, imitam a maneira como os neurónios biológicos são ativados. As chamadas redes neurais profundas consistem em muitas camadas destas redes de neurônios. Tanto o ChatGPT como o Midjourney são redes neurais profundas que empregam o que é chamado de “estrangulamento de informação” (“information bottleneck”), um termo criado em 1999 pelo falecido Naftali Tishby, professor de ciência da computação e neurocientista computacional da Universidade Hebraica de Jerusalém. Uma investigação mais aprofundada desses sistemas revela que eles estão a criar verdadeiros modelos semânticos reduzidos do mundo a partir dos quais fazem previsões. O termo semântico aqui representa a quantidade de correlações entre duas coisas. Por exemplo, o meu relógio tem informações semânticas sobre a física do sistema terra-sol, ou seja, os ponteiros têm uma correlação com o pôr do sol e o nascer do sol.

O processo de criação de uma representação semântica reduzida do mundo lembra-nos como o progresso científico humano cria modelos matemáticos cada vez mais aperfeiçoados do mundo físico. Por exemplo, a revolução coperniciana passou de um modelo do universo centrado na Terra para um modelo do universo centrado no Sol. Isso foi útil porque gerou um modelo semântico bastante reduzido do universo conhecido. Ou seja, tínhamos de lidar com menos variáveis, tornando as previsões e os cálculos das órbitas dos planetas muito mais simples. Este processo de criação de modelos semânticos cada vez mais reduzidos do mundo físico descreve o progresso histórico da investigação científica.

Vários pensadores têm sugerido que este processo de criação de modelos que fazem previsões cada vez melhores pode representar um importante motor da evolução. O valor evolutivo destes modelos semânticos reduzidos reside na sua capacidade para fazer previsões que podem ser usadas para criar ou manter uma determinada ordem ou estrutura. É por isso que os sistemas complexos recompensam generosamente qualquer subsistema com essa capacidade, desde os mercados financeiros até aos ecossistemas.

Embora esses sistemas pareçam espelhar alguns aspectos da consciência humana que, até recentemente, muitos presumiam ser um domínio exclusivo dos humanos, serão eles capazes de abrigar uma alma semelhante à humana? Abordar esta tema leva-nos a perguntar: quais são as características distintivas da alma humana? A resposta a esta questão leva-nos inevitavelmente a estas palavras de Bahá’u’lláh:

Sabe tu, em verdade, que a alma é um sinal de Deus, uma joia celestial cuja realidade os mais eruditos dos homens não conseguiram compreender, e cujo mistério nenhuma mente, por muito perspicaz que seja, pode esperar alguma vez desvendar. (Gleanings, LXXXII)

As Escrituras Bahá'ís dizem-nos muitas coisas sobre a alma humana. E ali podemos encontrar tópicos como estes:
  • O propósito da alma humana.
  • As suas principais características e singularidade
  • Como a alma humana é diferente de outros organismos
  • A possibilidade da verdadeira “criação”
  • A extensão e possibilidade do auto-conhecimento
Nos próximos artigos, examinaremos as origens de nossas almas humanas e exploraremos o significado dessas origens para o futuro.

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Texto original: What Can ChatGPT Tell Us About the Human Soul? (www.bahaiteachings.org)


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Vahid Houston Ranjbar é um físico que trabalha no Relativistic Heavy Ion Collider no Brookhaven National Labs.

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