Lembra-se quando, pela primeira vez, colocou a si próprio aquela questão humana universal, aquela que todos nós um dia colocamos: “Por que estou aqui?”
Comigo aconteceu numa noite quente de verão, tinha eu seis anos de idade; estava deitado na relva e olhava para o céu noturno.
De repente, sem aviso, o mistério da existência humana abriu-se na minha mente de seis anos naquele verão, e comecei a questionar o seu propósito derradeiro. Todos nós fazemos isso. Cada um de nós, em vários momentos da vida, deseja saber a resposta à principal questão humana.
Essa pergunta “por que estou aqui?” pode assumir muitas formas: “O que serei quando crescer?” "Qual é o sentido da vida?" “Qual é o meu propósito nesta existência? Será que existe propósito?” “O que posso fazer pelo mundo?” “O que acontece quando morremos?”
Essas questões importantes conduzem essencialmente à mesma pergunta básica: porque é que eu existo?
Não surgiu qualquer resposta científica a esta questão. E provavelmente não surgirá, porque a ciência tem uma esfera de influência definida, um âmbito limitado. A ciência ajuda-nos a descrever o mundo, e depois temos de decidir, com um código superior de ética, moral e orientação espiritual, como usar esse conhecimento. A ciência limita-se, por definição, ao conhecimento sistematizado sobre o mundo físico. Devido a esses limites, o conhecimento científico só pode nos levar até certo ponto:
Julgamentos morais, julgamentos estéticos, decisões sobre aplicações da ciência e conclusões sobre o sobrenatural estão fora do domínio da ciência, mas isso não significa que estes domínios não sejam importantes. Na verdade, domínios como a ética, a estética e a religião influenciam fundamentalmente as sociedades humanas, e a forma como essas sociedades interagem com a ciência. Esses domínios também não são pouco académicos. Na verdade, tópicos como estética, moralidade e teologia são activamente estudados por filósofos, historiadores e outros investigadores. No entanto, as questões que surgem nestes domínios geralmente não podem ser resolvidas pela ciência. (Understanding Science: How Science Really Works)
Somente os materialistas mais rigorosos acreditam que a ciência pode responder a todas as questões humanas. Acreditam que a realidade é constituída apenas por matéria e movimento. Aqueles que baseiam a sua filosofia de vida nessa perspectiva acreditam que a percepção define o que é a realidade – o que significa que todo o resto, então, deve ser falso.
É evidente que isto não é uma perspectiva científica – é um axioma filosófico, não o resultado do raciocínio científico. Como a ciência se restringe, por definição, às dimensões materiais da existência, as suas conclusões serão inevitavelmente de natureza material – o que torna uma falácia acreditar que o mundo material compreende tudo o que existe, e que os humanos só podem perceber o que os nossos sentidos externos compreender. Em vez disso, como salientam os ensinamentos Bahá’ís, os seres humanos desejam inevitavelmente perceber mais profundamente, ir além dos sentidos e transcender o mundo material:
...o homem está dotado de um poder de descoberta que o distingue do animal, e esse poder nada mais é do que o espírito humano…
O homem aspira sempre a objectivos mais sublimes e elevados. Ele procura sempre alcançar um mundo que supera aquele em que habita, e ascender a um nível superior àquele que ocupa. Este amor pela transcendência é uma das características marcantes do homem. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised version, p. 217)
A maioria das pessoas quer respostas sobre o propósito e o significado da vida – esse é o cerne da pergunta “Por que estou aqui?”. Os materialistas podem afirmar que não existe resposta, que qualquer coisa além do físico é uma fantasia, que todo significado se reduz apenas a massa e movimento. Mas essa é uma filosofia altamente insatisfatória e até sombria. Poucas pessoas querem viver com essa visão da vida – em vez disso, ansiamos por uma vida interior profunda, cheia de amor, beleza e significado. Os ensinamentos Bahá’ís apontam o caminho para essa vida interior, através do desenvolvimento espiritual da alma humana:
A alma é eterna, imortal.
Os materialistas dizem: “Onde está a alma? O que é? Não podemos vê-la, nem podemos tocá-la.”
É assim que devemos responder-lhes: por mais que o mineral progrida, ele não pode compreender o mundo vegetal. Ora, essa falta de compreensão não prova a inexistência da planta!
Por maior que seja o nível de evolução da planta, ela é incapaz de compreender o mundo animal; esta ignorância não é prova de que o animal não exista!
O animal, por muito desenvolvido que seja, não pode imaginar a inteligência do homem, nem pode compreender a natureza da sua alma. Mas, novamente, isso não prova que o homem não tenha intelecto ou alma. Apenas demonstra isto: que uma forma de existência é incapaz de compreender uma forma superior a si própria.
Esta flor pode não ter consciência de um ser como o homem, mas a realidade da sua ignorância não impede a existência da humanidade.
Da mesma forma, se os materialistas não acreditam na existência da alma, a sua descrença não prova que não existe um reino como o mundo do espírito. A própria existência da inteligência do homem prova a sua imortalidade; além disso, a escuridão prova a presença da luz, pois sem luz não haveria sombra. A pobreza prova a existência de riquezas, pois, sem riquezas, como poderíamos medir a pobreza? A ignorância prova que o conhecimento existe, pois sem conhecimento como poderia haver ignorância?
Portanto, a ideia de mortalidade pressupõe a existência da imortalidade – pois se não houvesse Vida Eterna, não haveria como medir a vida deste mundo! (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 92)
Então, por que estou aqui? Os ensinamentos Bahá’ís respondem:
... visto que [a alma humana] é um sinal de Deus, assim que é criada, torna-se eterna. O espírito humano tem um começo, mas não tem fim: dura para sempre… [é] imortal, permanente e eterno. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised version, p. 273)
O homem – o verdadeiro homem – é a alma, não o corpo; embora fisicamente o homem pertença ao reino animal, a sua alma, porém, eleva-o acima do resto da criação...
Como poder do Espírito Santo, trabalhando através da sua alma, o homem consegue perceber a realidade Divina das coisas. Todas as grandes obras de arte e da ciência são testemunhos deste poder do Espírito.
O mesmo Espírito concede Vida Eterna
Os nossos maiores esforços devem ser direcionados para o desprendimento das coisas do mundo; devemos esforçar-nos para nos tornarmos mais espirituais, mais luminosos, para seguir o conselho do Ensinamento Divino, para servir a causa da unidade e da verdadeira igualdade, para sermos misericordiosos, para refletir o amor do Altíssimo sobre todos os homens, para que a luz do Espírito se torne visível em todas as nossas acções, para que toda a humanidade se una, o seu mar tempestuoso se acalme e todas as ondas violentas desapareçam da superfície do oceano da vida, doravante sereno e pacífico. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pp. 84-87)
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Texto original: Why Am I Here? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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