Como é óbvio, ao ver uma referência à Fé Bahá’í em Angola num livro de 1969, não hesitei em comprar o livro.
Trata-se de uma obra extensa (536 páginas) dedicado à história das diferentes religiões e organizações religiosas que se foram instalando no território angolano até ao final da década de 1960. Contem uma longa história do Catolicismo (170 pags), do Protestantismo [incluindo Evangélicos, Metodistas, Adventistas, Testemunhas de Jeová e diversas organizações americanas, inglesas e canadianas] (110 pags), das Religiões Arcaicas [teísmos, deísmos, totenismos, ancestrologias] (140 pags), dos Movimentos Sincréticos [tocoísmo, amicalismo, etc] (50 pags) e do “Baha’ismo” (15 pags). A introdução e a conclusão também contêm referências à Fé Bahá’í (por vezes com críticas subtis).
Para escrever o capítulo sobre a Fé Bahá’í, o autor parecer ter-se baseado essencialmente no livro “Bahá’u’lláh e a Nova Era”, apresentado uma descrição histórica onde destaca os aspectos que lhe pareceram mais relevantes. Percebe-se que o autor fez um esforço para ser objectivo, apesar de existirem pequenos erros pontuais. São citados vários textos de Shoghi Effendi e ‘Abdu’l-Bahá, onde naturalmente estão presentes as traduções brasileiras dos anos 1950/1960. Na descrição da história da Fé e nos ensinamentos Bahá’ís (referidos como “Princípios filosóficos” e “Moral”), o autor usa recorrentemente terminologia Bahá’í, ficando a parecer que não está a usar as suas próprias palavras, mas a transcrever textos de outros autores.
As conclusões (do capítulo Bahá’í e do livro como um todo) resumem a Fé Bahá’í como uma religião que ainda não amadureceu, tendo diversos ensinamentos estranhos e desajustados da realidade africana, insinuando a ingenuidade de alguns ensinamentos Bahá’ís e o possível perigo que podem representar no contexto político da época (ex: pan-africanismo), chegando mesmo a ser condescendente para com os africanos (o problema do alcoolismo).
Com todas as suas virtudes e defeitos, o livro é um reconhecimento da presença Bahá’í em Angola durante os tempos coloniais. Pela bibliografia indicada, percebe-se que o autor fez um significativo trabalho de investigação. Ali encontramos referências aos seguintes livros Bahá’ís:
- Excertos da Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá (1954)
- Foundations of World Unity, ‘Abdu’l-Bahá (1936)
- Kitab-i-Iqan, O Livro da Certeza (1957)
- A Revelação Bahá’í [compilação de Escrituras Bahá’ís] (1957)
- Seleção de Orações Bahá’ís (1958)
- Bahá’u’lláh e a Nova Era (1962)
- A Fé Mundial Bahá’í [do Esselmont, publicado em Lisboa] (1963)
Encontrei alguma informação dispersa sobre o autor, Eduardo dos Santos. Consegui saber que nasceu em 1930, em Moimenta da Serra (Gouveia), foi funcionário administrativo em Angola, colaborador do Centro de Estudos de Etnologia Ultramarina e investigador da Junta de Investigações do Ultramar). Colaborou em várias revistas e jornais, publicou vários livros e artigos sobre diversas religiões de Angola. Os seus trabalhos mereceram destaque e diversos prémios. Este link apresenta uma biografia mais completa:
Para os interessados, coloquei um documento com todas as partes do livro que referem a Fé (introdução, capítulo Bahá’í, conclusões, bibliografia) neste link. Este documento também tem algumas anotações da minha autoria.
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