Uma pessoa que não lê não tem qualquer vantagem sobre aquela que não sabe ler. - Mark Twain
Muitas pessoas perguntam-me se eu naufragasse e pudesse ter apenas um livro, qual seria? Eu digo sempre: “Como construir um barco”. - Stephen Wright
Você lê muito?
Provavelmente não preciso de fazer esta pergunta – afinal, você está a ler agora. Mas vamos explorar um pouco mais a fundo e ver se conseguimos descobrir alguma coisa sobre os seus hábitos de leitura. Segundo os especialistas, os seus hábitos de leitura dizem muito sobre si.
Assim, vejamos um teste simples de cinco questões:
- Qual foi o último livro que leu, do início ao fim?
- Tem algum cartão de biblioteca/livraria? Se sim, quantos livros tem requisitados?
- Quantos livros possui?
- Em quantos dias numa semana costuma ler por prazer?
Se naufragou, veja se consegue encontrar um exemplar do “Como construir um barco” enterrado na areia. Se gosta, digamos, de histórias sobre feiticeiros e vassouras voadoras, leia um livro do Harry Potter. Se gosta de um grande mistério, leia James Lee Burke ou Walter Mosley. Se gosta de literatura lírica, leia Susan Straight, Cormac McCarthy ou Toni Morrison. Se gosta do amor, leia Shakespeare.
Se, por outro lado, se lembra claramente do último livro que leu (porque o terminou ontem à noite); se tem um cartão de biblioteca bem usado e uma pilha de livros na mesa de cabeceira; se possui mais de uma dezena de livros e precisa de construir novas estantes; se lê sempre que pode, então estas respostas significam que é um leitor genuíno. Talvez, como eu, seja um viciado em livros. Bem-vindo ao clube. Repitam comigo: admitimos que os livros são mais fortes que nós – que as nossas bibliotecas se tornaram incontroláveis. (os AA que me desculpem!)
Qualquer que seja a categoria em que se encontrem, gostaria de vos convidar cordial e humildemente a ler algo novo, algo que talvez não pense ler com muita frequência, algo verdadeiramente notável: os livros sagrados. Nesta série de ensaios sobre a leitura de algo sagrado todos os dias, tentarei convencer-vos de que este tipo de leitura vai realmente mudar as vossas vidas – porque vai mesmo.
Mas primeiro, vamos tratar por um momento o termo “sagrado”, que é um tanto assustador e desencorajador. É uma palavra com uma característica excessivamente preciosa e algo pretensiosa nos dias de hoje, não é verdade? O meu dicionário apresenta vários sinónimos para sagrado: “santo, puro, venerável, sublime e excelso”. Alguém se considera santo, puro, venerável, sublime ou excelso? Não? Nem eu. Nem de perto. Mas estou a trabalhar nisso …
Mas o que podemos considerar sagrado? Talvez a Torá, ou o Bhagavad Gita, ou a Bíblia, ou o Alcorão, dependendo da sua orientação religiosa? Poderíamos classificar estes livros como sagrados?
Quando eu era criança tinha uma avó luterana muito devota e piedosa, de quem eu gostava muito. Era uma das pessoas mais bondosas e doces que já conheci. Uma vez, quando eu tinha cerca de quatro anos, ela estava a ler-me um livro infantil no sofá da sala. Quando terminámos, coloquei o livro numa mesa próxima, em cima de outro livro. A minha avó pegou imediatamente no livro infantil, colocou-o noutro lugar da mesa e, com voz baixa e algo admirada, disse: “David, nunca colocamos outros livros em cima da Bíblia”.
Isto foi algo que me marcou, não tanto por causa da sua regra invulgarmente piedosa sobre empilhar livros, mas porque me mostrou que ela considerava a sua Bíblia como sagrada. Ela tinha a Bíblia em alta consideração, venerava-a e protegia-a de ser desvalorizada ou desrespeitada – ou mesmo ser coberta por outro livro. Com isso, ela transmitiu-me a minha primeira percepção do sagrado. Aprendi, com a minha querida avó, que algumas coisas têm uma grande importância, e que devemos respeitar essa importância.
E vocês? O que consideram sagrado?
Para mim, o mais sagrado do mundo não é uma coisa – em vez disso, penso nos grandes ensinamentos religiosos do mundo, na sua forma original, como verdadeiramente sagrados:
A essência de todas as religiões é o Amor de Deus, e é a base de todos os ensinamentos sagrados. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 83)
Os Bahá’ís acreditam que estes ensinamentos sagrados chegam à humanidade através dos profetas de Deus, mensageiros sagrados que personificam a luz do Divino. Cristo, Moisés, Buda, Krishna, Maomé, Zoroastro e agora Bahá’u’lláh vieram todos trazer alegria infinita a esta Terra e fazê-la florescer mais uma vez:
O homem é como uma árvore. Se estiver adornado com frutos, foi e será sempre digno de louvor e elogios. Caso contrário, uma árvore infrutífera só serve para o fogo. Os frutos da árvore humana são requintados, muito desejados e muito apreciados. Entre eles estão o carácter íntegro, as acções virtuosas e uma boa expressão. A primavera para as árvores terrestres ocorre uma vez por ano, enquanto a primavera para as árvores humanas aparece nos Dias de Deus – exaltada seja a Sua glória. Se as árvores da vida dos homens fossem adornadas nesta Primavera divina com os frutos que foram mencionados, o brilho da luz da Justiça iluminaria, com certeza, todos os habitantes da terra, e todos permaneceriam em tranquilidade e contentamento, sob a sombra protetora d’Aquele que é o Objecto de toda a humanidade. A Água para estas árvores é a água viva das Palavras sagradas proferidas pelo Amado do mundo. (Tablets of Baha’u’llah, p. 257)
No próximo artigo desta série, vamos ver quais as palavras que são verdadeiramente sagradas.
-----------------------------
Texto original: What Do Your Reading Habits Say About You? (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
Sem comentários:
Enviar um comentário