sábado, 18 de dezembro de 2004

Epístola aos Reis (3): Os Embaixadores

Este é o terceiro de quatro posts sobre temas e destinatários da Epístola aos Reis revelada por Bahá'u'lláh em Adrianópolis. Entre parêntesis rectos indica-se o nº do parágrafo citado.
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O EMBAIXADOR FRANCÊS [17-19]

Na Epístola aos Reis existem três parágrafos dirigidos ao "ministro do rei em Paris"[17] cujo tom é tão condenatório quanto o dirigido aos ministros otomanos. Nestes parágrafos, o embaixador francês junto da Porta Sublime, Nicolas-Prosper Bourée, é denunciado por ter pactuado com o embaixador persa contra Bahá'u'lláh, sendo-lhe ainda recordado que terá de prestar contas pelos seus actos.

Nas palavras a este diplomata europeu, Bahá'u'lláh também deixa uma pergunta: "(...) não é teu dever claro investigar esta Causa, informares-te das coisas que Nos sobrevieram, julgar com equidade e segurares-te firmemente à justiça?"[17]

Bahá'u'lláh recorda que já houve embaixadores justos "que observavam o que foi prescrito nos versículos de Deus"[18] e aproveita para recordar ao diplomata francês os conselhos de Jesus Cristo registados no Evangelho de S. João; depois de enaltecer a importância da justiça, conclui aconselhando-o - e a outros do seu nível - a não fazer aos outros o que ele não gosta que lhe façam.


Constantinopla: os diplomatas ali colocados
tinham conhecimento da situação de Bahá'u'lláh e dos exilados persas.



O EMBAIXADOR PERSA [97-99 102-107]

Uma parte significativa da Epístola aos Reis (Súriy-i-Mulúk) é dirigida a Hají Mirzá Husayn Khan, o embaixador persa em Constantinopla. Este diplomata originário da cidade de Qazvin, chefiou a Embaixada persa em Constantinopla durante mais de quinze anos (1853-1868). Foi quando ocupava esse cargo, que conseguiu influenciar o governo otomano a exilar Bahá'u'lláh primeiramente para Adrianópolis, e cinco anos mais tarde para ‘Akká. Husayn Khan foi ainda Ministro dos Negócios Estrangeiros durante algum tempo, até que caiu em desgraça. Faleceu, vitima de envenenamento, em 1881.

Ao dirigir-se ao embaixador persa em Constantinopla, nome, Bahá'u'lláh começa por lançar uma pergunta: "O que foi que cometemos que possa justificar teres-Nos difamado junto dos Ministros do Rei, teres seguido os teus desejos, perverter a verdade, e proferido as tuas calúnias contra nós?"[97]. Seguidamente, o fundador da religião bahá'í recorda que apenas se encontraram uma vez e nunca o embaixador teve conhecimento das Suas ideias e pensamentos. Bahá'u'lláh prossegue afirmando que não tem qualquer ressentimento contra o diplomata persa, e adverte-o que um dia ele será chamado à presença de Deus e questionado sobre os seus actos.

O texto refere que se o embaixador tivesse noção da enormidade dos seus actos lamentar-se-ia durante os restantes dias da sua vida. O encarceramento em Teerão e o primeiro exílio para Bagdade são recordados e os actos do Xá da Pérsia também são questionados: "Partimos de Teerão, sob ordem do Rei (Násiri'd-Dín), e com sua permissão transferimos a Nossa residência para o Iraque. Se Eu transgredi contra ele, porque Me libertou? (...) Algum dos Meus actos, após a Minha chegada ao Iraque teve uma tal natureza que pudesse subverter a autoridade do governo? Quem pode dizer ter detectado algo repreensível no Nosso comportamento?"[102]

Depois de recordar vários episódios sucedidos durante o exílio em Bagdade, Bahá'u'lláh acrescenta ao diplomata persa que lhe relata o sucedido, não para aliviar o peso das Suas aflições, mas para que ele compreenda a gravidade dos seus actos, e não repita os seus erros no futuro. As últimas palavras a este diplomata salientam novamente a importância da justiça e condenam a vaidade, o orgulho e a arrogância dos governantes.

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