quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Epístola aos Reis - Introdução

A confrontação entre os Profetas que fundaram grandes religiões e os governantes são um facto registado nas Escrituras. Moisés confrontou o Faraó; Jesus enfrentou Pilatos e Herodes; Maomé enviou mensagens ao Imperador Bizantino (Heraclio), ao Xá da Pérsia (Chosroes II), ao Negus da Etiópia e aos governantes do Egipto e de Damasco.

Nas religiões Babí e Bahá'í, este aspecto manteve-se. O Báb enviou epístolas ao Xá da Pérsia e ao Sultão Otomano; além disso, enfrentou as autoridades civis e religiosas da Pérsia. Bahá'u'lláh, não só enfrentou as mesmas autoridades na Pérsia e no império Otomano, como também anunciou a Sua missão a vários reis e governantes do Seu tempo. Essa proclamação foi feita através de um conjunto de epístolas dirigidas a reis e governantes: Napoleão III, o Kaiser Guilherme I, a Rainha Vitória, o Czar da Rússia, o Imperador Francisco-José, o Papa Pio IX, o Xá da Pérsia e o Sultão Otomano.

Sabemos que Bahá'u'lláh recebeu a revelação divina quando esteve na prisão em Teerão (1852); nesse local, através de uma experiência profundamente mística descrita nas Suas próprias escrituras, teve conhecimento que Ele era o Profeta prometido pelo Báb. No entanto, a Sua condição de profeta foi revelada gradualmente; só em 1863, pouco antes de abandonar Bagdade, no jardim de Ridvan, é que alguns crentes tiveram conhecimento dessa boa-nova. Durante o exílio em Adrianópolis foram várias as epístolas reveladas a membros da comunidade Babí em que Bahá'u'lláh afirmava abertamente a Sua condição.

Além dessa revelação à pequena comunidade de seguidores do Báb, Bahá'u'lláh também anunciou o Seu aparecimento a toda a humanidade. Mais uma vez os reis e governantes contemporâneos de um Profeta são vistos como representantes dos povos do mundo e escolhidos como destinatários do anúncio divino.


Como referi num post anterior, o exílio em Adrianópolis é frequentemente recordado pela revelação da Epístola aos Reis (Súriy-i-Mulúk). Esta foi revelada em 1868, em língua árabe; o seu estilo majestático e a argumentação poderosa, os diferentes assuntos e destinatários fazem deste documento uma dos mais citadas obras de Bahá'u'lláh. Alguns autores consideram mesmo que esta epístola definiu um estilo que se aplicaria novamente noutras epístolas dirigidas a reis e governantes do século XIX.

O texto integral desta epístola foi traduzido para inglês e publicado há alguns meses atrás. Imediatamente surgiram traduções noutras línguas e vários bahá'ís deram palestras e organizaram aulas de aprofundamento sobre a mesma. Neste blog, nos próximos dias irei publicar um conjunto de posts sobre os temas e destinatários da Epístola aos Reis (Súriy-i-Mulúk). Estes posts foram o resultado de um breve estudo e análise do texto; talvez possam ajudar quem quiser ler, pela primeira vez, um texto do fundador da religião Bahá'í.

Lembro-me que sempre senti alguma dificuldade em compreender o estilo de escrita de Bahá'u'lláh; o texto não está dividido em capítulos e os temas cruzam-se de forma natural. Entre palavras de advertência ou louvor a algum crente, podemos encontrar orações e citações das escrituras do passado. Além disso, as referências a Deus são geralmente seguidas por alguns dos Seus títulos (exemplo: "o Omnisciente", "o Omnipotente", "o Amparo no Perigo", "o que Subsiste por Si Próprio").

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NOTAS


Epístola aos Reis (Súriy-i-Mulúk):
Texto integral em inglês.

Para quem quiser compreender um pouco melhor todos os acontecimentos durante o exílio em Adrianópolis e as circunstâncias que rodearam a revelação desta epístola, recomendo:
- God Passes By, de Shoghi Effendi (
Chapter X)
-
The Revelation of Bahá'u'lláh, Vol II, de Adib Taherzadeh (capítulo 15)
-
Bahá'u'lláh, The King of Glory, de H.Balyuzi (capítulos 26, 27, 2 e 29).
-
Baha'u'llah's Tablets to the Rulers, By Juan R.I. Cole

Guias de Estudo sobre a Epístola aos Reis (Súriy-i-Mulúk):
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Súratu'l-Mulúk: : Tablet Study Outline
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Súriy-i-Mulúk
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A Study of the Tablets of Baha'u'llah to the Kings

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