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Francisco José[1] nasceu em 18 de Agosto de 1830, Schloss Schönbrunn, perto de Viena. Era o filho mais velho do Arquiduque Francisco Carlos e sobrinho do Imperador austríaco, Ferdinando I. O seu tio abdicou durante a revolução de 1848, e o seu pai renunciou ao seu direito ao trono; Francisco José era o seguinte na linha de sucessão; tinha apenas dezoito anos. Com a ajuda do Império Russo, ele e o seu primeiro ministro, o príncipe Felix zu Schwarzenberg, restauraram a ordem no império e restabeleceram o domínio austríaco na Confederação Germânica.
Em 1854, Francisco José casou com Isabel (conhecida por Sissi), filha do duque Maximiliano da Baviera, de quem teria quatro descendentes; um rapaz e três raparigas.
A sua incapacidade para auxiliar a Rússia durante a Guerra da Crimeia (1853-1856) degradaram irremediavelmente as suas relações com o Império Russo. Naquela que foi chamada a Guerra Italiana de 1859, foi derrotado por franceses (liderados por Napoleão III) e italianos (liderados por Victor Emanuel); o tratado de paz assinado em Villafranca di Verona, retira aos Austríacos o domínio sobre a Lombardia. Na guerra com a Prússia, em 1866, perde Veneza para os Italianos; esta derrota provocou o seu enfraquecimento político no seio da Confederação Germânica e a consequente ascensão prussiana. Com o passar dos anos, o Império Austro-Hungaro foi-se tornando cada vez mais subserviente ao vizinho Império Alemão.
Na mesma época, Francisco José começou a negociar as exigências autonómicas da Hungria. Em 1866, a Transilvânia juntou-se à Hungria, e no ano seguinte a Áustria e a Hungria chegaram a acordo sobre a criação de uma monarquia dual, sob a qual os dois países eram parceiros iguais. Assim, e após 1867, a Hungria tornou-se completamente independente nos seus assuntos internos, mas partilhava uma política externa comum à Áustria. Também nesse ano, Francisco José foi coroado Rei da Hungria.
Francisco José planeou conceder alguma autonomia aos povos eslavos do Império, mas as elites que governavam o Império opuseram-se ao plano; como consequência, a insatisfação começou a crescer entre Checos e Sérvios; simultaneamente intensificaram-se as fricções com a Rússia (que se apresentava com a grande defensora dos povos eslavos). Em 1908, o Império Austro-Hungaro anexou a Bósnia, facto que gerou uma enorme crise política e quase provocou uma guerra europeia. A crise foi resolvida, mas o ressentimento Sérvio aumentou.
Os últimos anos da vida de Francisco José foram marcados por várias tragédias familiares. O seu irmão Maximiliano foi executado no México em 1867, por revolucionários republicanos. Em 1889, o seu único filho e herdeiro, o Arquiduque Rudolfo, suicidou-se por motivos passionais; em 1898, a sua esposa foi assassinada em Genebra, por um anarquista italiano. Em 1914, o seu sobrinho, e sucessor, Francisco Ferdinando foi assassinado por um nacionalista sérvio. Este assassinato precipita uma crise entre os Impérios Austro-Hungaro e Alemão, por um lado, e a Sérvia e o Império Russo por outro; essa crise degenerou na Primeira Guerra Mundial.
Francisco José faleceu no dia 21 de Novembro de 1916, em Schloss Schönbrunn. Não assistiu à derrota e extinção do seu Império [2].
A Epistola de Bahá'u'lláh
Como escrevi no início, o imperador Francisco José seria um dos destinatários das epístolas de Bahá'u'lláh dirigidas a reis e governantes do Seu tempo. O embaixador austríaco em Constantinopla tinha conhecimento da situação de Bahá'u'lláh e dos "exilados persas", e tinha tomado várias iniciativas para minimizar o Seu sofrimento. É de admitir que tivesse informado o governo austro-hungaro da situação de Bahá'u'lláh. O Imperador Francisco José visitou Jerusalém em 1869, na época em que Bahá'u'lláh se encontrava detido em 'Akká. No entanto, não tomou qualquer iniciativa junto das autoridades otomanas para saber da situação de Bahá'u'lláh, Sua família e companheiros.
O texto da epístola de Bahá'u'lláh integra o Kitab-i-Aqdas, o Livro mais importante das Escrituras Bahá'ís.
Ó IMPERADOR DA ÁUSTRIA ! Aquele que é o Amanhecer da Luz de Deus residia na prisão de Akká quando te dirigiste em visita à Mesquita de Aqsá (Jerusalém)[3]. Passaste por Ele, não indagaste por Ele; Ele, cuja Presença exalta toda a casa, e para quem o mais majestoso portão se descerra. Nós, em verdade fizemos dela (Jerusalém) um lugar para o qual o mundo deve voltar, a fim de Me recordar, e tu, no entanto, rejeitaste Aquele que é o objecto dessa recordação, quando Ele apareceu com o Reino de Deus, teu Senhor e Senhor dos Mundos. Temos estado contigo em todos os tempos e encontramo-te preso ao Ramo sem atenderes à Raiz. O teu senhor, em verdade, é testemunha do que digo. Lamentamos ver como te volvias ao redor do Nosso Nome, continuavas inconsciente de Nós, embora Nós estivéssemos ante a tua face. Abre os teus olhos para que possas contemplar esta Visão gloriosa e reconhecer Aquele a quem invocas durante o dia e noite, e contemplar a Luz que brilha acima deste horizonte luminoso.[4]-----------------------
NOTAS
[1] - Sobre o imperador Francisco José, ver também uma biografia em Francis Joseph I (1848-1916) e o livro Twilight of the Habsburgs: The Life and Times of Emperor Francis Joseph .
[2] - Shoghi Effendi refere-se ao Imperador Francisco José e aos Habsburgos: "The House of Hapsburg, in which the Imperial Title had remained practically hereditary for almost five centuries, was, ever since those words were uttered, being increasingly menaced by the forces of internal disintegration, and was sowing the seeds of an external conflict, to both of which it ultimately succumbed. Francis Joseph, Emperor of Austria, King of Hungary, a reactionary ruler, reestablished old abuses, ignored the rights of nationalities, and restored that bureaucratic centralization that proved in the end so injurious to his empire." (The Promised Day is Come, p. 58)
[3] - Mesquita de Al-Aqsa, significa “A Mesquita Mais Distante” é referida no Alcorão (17:1) e identificada com o Monte do Templo em Jerusalém.
[4] - The Proclamation of Bahá'u'lláh, pag. 40
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