sábado, 9 de agosto de 2025

Porque é que os Bahá'ís não tomam bebidas alcoólicas?

Por David Langness.


"Porque é que os Bahá'ís não tomam bebidas alcoólicas?", perguntei ao meu amigo enquanto bebia mais uma cerveja. Sentia-me verdadeiramente dividido — aos 16 anos, já era um grande consumidor de álcool, mas também me sentia profundamente atraído pelos ensinamentos espirituais Bahá’ís.

"Hum... boa pergunta", disse o meu amigo. "Vamos dar uma vista de olhos." Pegou num dos volumes da sua estante de livros Bahá’ís, consultou o índice e leu-me esta citação de Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í:

Acautelai-vos para não trocardes o Vinho de Deus pelo vosso próprio vinho, pois isso entorpecerá as vossas mentes e desviará os vossos rostos do Semblante de Deus, o Todo-Glorioso, o Incomparável, o Inacessível. Não vos aproximeis dele, pois foi-vos proibido por ordem de Deus, o Exaltado, o Omnipotente.

Quando era adolescente, nunca tinha ouvido uma desta palavra – "entorpecer". Pesquisámos e descobrimos que significa "causar torpor, tirar a energia, amolecer, enfraquecer ou debilitar". Bingo! Os adolescentes alcoólicos conhecem bem essa sensação. Eu conhecia-a bem. Aliás, nessa altura da minha vida, provavelmente bebia com o propósito específico de me entorpecer, de evitar, negar e esquecer os meus problemas.

Ouvir esta citação das Escrituras Bahá’ís e tentar compreendê-la marcou o início de uma compreensão crescente para mim: que o álcool não era meu amigo, que não me faria bem a longo prazo e que não só me tornava estúpido, mas também tinha um efeito entorpecedor na minha alma.

Há mais de um século, os ensinamentos Bahá’ís aconselhavam todas as pessoas a evitar o consumo de álcool — não só para a saúde espiritual, mas também para a saúde física. Numa carta a um Bahá'í da Califórnia que fez a mesma pergunta que eu, 'Abdu'l-Bahá disse:

Quanto ao uso de bebidas alcoólicas: de acordo com os textos do [Livro Santíssimo de Bahá'u'lláh], tanto as bebidas leves como as fortes são proibidas. A razão desta proibição é que desviam a mente e provocam o enfraquecimento do corpo. Se o álcool fosse benéfico, teria sido trazido ao mundo pela criação divina e não pelo esforço do homem. Tudo o que é benéfico para o homem existe na criação. Agora, está provado e estabelecido médica e cientificamente que as bebidas alcoólicas são prejudiciais.

Claro que o meu amigo me disse que tudo isto seria uma decisão voluntária da minha parte. Ninguém estava a forçar a tornar-me Bahá'í, e só os Bahá'ís precisam de seguir os princípios e as leis Bahá'ís. Mas rapidamente reconheci a sabedoria destes princípios e tomei a decisão de deixar de tomar bebidas alcoólicas, com a ajuda de amigos e das reuniões dos Alcoólicos Anónimos. Tornei-me Bahá'í dois anos mais tarde. Foi a melhor decisão que tomei, salvando-me do tão doloroso caminho que tantos outros percorreram.

Ultimamente, percebi que a minha decisão não foi apenas espiritual, mas também científica.

Apesar das esmagadoras provas científicas e sociais sobre os danos físicos causados pelo álcool, durante décadas toda a gente nas sociedades ocidentais ouviu uma frase comum e repetitiva: "Algumas bebidas por dia não fazem mal — na verdade, fazem bem ao coração." Esta afirmação é absurda, conforme pesquisas recentes comprovaram.

Sabemos agora, cientificamente, que mesmo pequenas quantidades de álcool prejudicam a saúde – e os Bahá’ís acreditam na conformidade entre a ciência e a religião.

O relatório da Organização Mundial de Saúde, publicado em janeiro de 2023, concluiu que "Não podemos falar de um nível supostamente seguro de consumo de álcool. Qualquer que seja o nível de consumo – o risco para a saúde começa na primeira gota de qualquer bebida alcoólica". Esta declaração, da Dra. Carina Ferreira-Borges, da OMS, centra-se nos conhecidos efeitos cancerígenos do consumo de álcool, mesmo entre aqueles definidos como consumidores "leves" ou "moderados".

Infelizmente, os guias oficiais do governo, pelo menos nos Estados Unidos, ainda não acompanham este conhecimento. Ainda hoje, as Linhas de Orientação Alimentares dos EUA recomendam "limites" para o consumo de álcool, considerando mais de duas doses por dia para os homens e mais de uma dose por dia para as mulheres como "excessivo".

Mas aqui fica uma breve análise de algumas das provas mais recentes, relatadas por Dana G. Smith num artigo de Janeiro de 2023 no jornal The New York Times:
  • Uma investigação publicada em Novembro [de 2022] revelou que, entre 2015 e 2019, o consumo excessivo de álcool resultou em aproximadamente 140 mil mortes por ano nos Estados Unidos. Cerca de 40% destas mortes tiveram causas graves, como acidentes de viação, envenenamentos e homicídios. Mas a maioria foi causada por condições crónicas atribuídas ao álcool, como doenças hepáticas, cancro e doenças cardíacas.
  • Investigações mais recentes revelaram que mesmo níveis baixos de consumo de álcool aumentam ligeiramente o risco de hipertensão arterial e doenças cardíacas, e o risco aumenta drasticamente para as pessoas que bebem em excesso. A boa notícia é que, quando as pessoas deixam de beber ou simplesmente reduzem o consumo, a pressão arterial diminui. O álcool está também associado a um ritmo cardíaco fora do normal, conhecido como fibrilação auricular, que aumenta o risco de coágulos sanguíneos e acidente vascular cerebral.
  • ...o álcool é também um cancerígeno poderoso. De acordo com a investigação da Sociedade Americana do Cancro, o álcool contribui para mais de 75.000 casos de cancro por ano e quase 19.000 mortes por cancro. … poucas pessoas sabem que o álcool é conhecido por ser uma causa directa de sete tipos diferentes de cancro: cancro da cabeça e pescoço (cavidade oral, faringe e laringe), cancro do esófago, cancro do fígado, cancro da mama e cancro colorretal.
Tal como relata o The New York Times, esta recente onda de provas médicas claras levou os cientistas a concluir que o consumo de álcool irá prejudicar a sua saúde ao enfraquecer a capacidade do seu ADN de proteger as suas células individuais de se tornarem cancerígenas - como salientou a Dra. Marissa Esser, que lidera o programa de álcool nos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA:

Quando se bebe álcool, o organismo metaboliza-o em acetaldeído, uma substância química tóxica para as células. O acetaldeído "danifica o ADN e impede o corpo de reparar os danos", explicou o Dr. Esser. "Uma vez danificado o ADN, uma célula pode crescer descontroladamente e criar um tumor cancerígeno."

Como as nossas sociedades aceitam, normalizam e até incentivam o consumo de álcool, podemos ter perdido de vista o facto de que o etanol presente no álcool é uma droga, um veneno e um depressor do sistema nervoso central. Se beber pouco, fará mal. Se beber muito, irá matá-lo, gradual ou rapidamente.

Aprendi que os ensinamentos Bahá’ís nos aconselham a agir de formas que protejam os nossos corpos e as nossas almas.

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Texto original: Why Don’t Baha’is Drink? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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