terça-feira, 11 de janeiro de 2005

Ronzevalle, o vice-cônsul francês


A presença de Bahá'u'lláh em Adrianópolis (1863-1868) não passou despercebida aos consulados europeus naquela cidade. Quando, em 1868, se soube que o Sultão tinha decretado mais um exílio, houve várias reacções do diplomatas europeus. O vice-cônsul francês em Adrianópolis, Ferdinand-Frederic Ronzevalle, informou - numa carta de 14 de Agosto de 1868 - o embaixador francês na Porta Sublime sobre o ambiente vivido em Adrianópolis após partida dos "exilados persas" para um novo exílio, cujo local ainda era desconhecido.


Tenho a honra de transmitir a V. Excelência uma nota em anexo com a respectiva tradução, enviado por uma pessoa chamada Husayn 'Ali, originário da Pérsia. Este homem esteve aqui durante quatro anos, com cerca de cinquenta dos seus compatriotas, vivendo do fruto do seu trabalho, quando subitamente, uma noite, as autoridades locas venderam todos os seus bens em leilão e notificaram-nos a abandonar o país. Foi de Constantinopla que o nosso Governador-Geral recebeu as instruções que impuseram estas medidas, e ele próprio desconhece o motivo [das mesmas].

Diz-se que Husayn-'Ali e as suas pessoas são sectários de uma doutrina contrária à religião muçulmana, e que foi por este motivo que eles foram exilados há seis anos pelo Xá da Pérsia. Viveram durante algum tempo em Bagdade e sem que alguma vez tivessem perturbado a ordem pública, a pedido do governo persa, foram afastados da fronteira turco-persa e enviados para Adrianópolis. Husayn-'Ali e seus discípulos saíram daqui no dia 11 deste mês em direcção a Gallipolo, escoltados por vários zaptis
[1], e sem saber o seu destino. Pensa-se que serão internados nos países de África.

Os agentes estrangeiros residentes em Adrianópolis receberam cópias desta petição, com excepção do cônsul russo que está encarregado da protecção dos súbditos persas. Estas fortes medidas das autoridades locais causaram má impressão na cidade, particularmente entre as pessoas que procuram refúgio na Turquia.
[2]
A carta em anexo a esta, alegadamente da autoria de Bahá'u'lláh, ainda existe nos arquivos franceses. Mas é difícil avaliar a sua autenticidade, pois nem a letra, nem a assinatura "Husayn-'Ali" são de Bahá'u'lláh ou de qualquer um dos Seus secretários. Fica pois a dúvida sobre a autoria e autenticidade desta carta.[3]

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NOTAS
[1] - Polícias
[2] – MAE Corr. Polit. Consulat d’Adrianople, citado em
The Bábi and Bahá'í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen, pag. 190
[3] – No espólio do Conde Gobineau existe também um conjunto de cartas, alegadamente de Bahá'u'lláh. No entanto, a letra também não é de Bahá'u'lláh ou de qualquer um dos Seus secretários; o estilo e o conteúdo das cartas também não são compatíveis com o alegado autor.

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