sexta-feira, 19 de maio de 2006

Kitáb-i-Íqán (19)

As alegorias do Novo Testamento (2ª parte)
Outra das alegorias do Novo Testamento a que Bahá'u'lláh faz referência no Kitáb-i-Íqán está nas seguintes palavras de Jesus: "Passará o céu e a terra, mas as Minhas palavras não hão de passar" (Lc 21:33) [26]. O que poderá significar a expressão "Minhas palavras" no versículo citado? Poderá isto significar que todas as leis e ensinamentos do Cristianismo têm um carácter eterno e definitivo? Ou será que isto se aplica apenas a alguns ensinamentos de Jesus?

O fundador da religião bahá'í recorda que estas palavras levam a generalidade dos cristãos a pensar que as leis estabelecidas por Jesus jamais serão abolidas e que qualquer outro Manifestante de Deus teria obrigatoriamente de se manter fiel "à letra da lei do Evangelho"[26]. Ainda segundo Bahá'u'lláh, foi por este motivo que a maioria dos cristãos não aceitou Maomé.

É importante termos presente que os Manifestantes de Deus nos deixam dois tipos de ensinamentos: espirituais e ético-sociais. Os primeiros são comuns a todas as religiões e referem coisas como a existência de Deus, o respeito pelas religiões do passado, a necessidade de fazer o bem ao próximo e o respeito pelos valores familiares. Já os ensinamentos ético-sociais variam com as necessidades dos tempos e a maturidade dos povos a quem são reveladas as religiões.

No Judaísmo, podemos encontrar um exemplo de ensinamentos etico-sociais nas tradições diziam que os crentes deviam lavar as mãos antes das refeições. Aquilo que hoje nos parece uma medida de higiene cumprida por qualquer pessoa com um pouco de senso comum, foi apresentada aos hebreus como um preceito religioso. É de supor que a sua maturidade colectiva exigia que essa medida para ser cumprida devesse ser apresentada como uma lei divina.

Com o aparecimento de Jesus, algumas leis ético-sociais foram revogadas. Os textos dos Evangelhos relatam polémicas surgidas com as novas leis de Jesus: "Porque transgridem que os Teus discípulos a tradição dos antigos? Porque não lavam as mãos antes das refeições?" (Mt 15:2). Bahá'u'lláh refere que quando Jesus revogou algumas das antigas leis éticas e sociais do Judaísmo "...todo povo de Israel se levantou em protesto contra Ele. Clamaram que Aquele cujo advento a Bíblia tinha predito, haveria necessariamente de promulgar e cumprir as leis de Moisés, enquanto que este jovem nazareno, que tinha a pretensão de ser o divino Messias, anulara a lei do divórcio e a do sábado – as mais importantes de todas as leis de Moisés."[17]

No Islão, um dos ensinamentos ético-sociais é a proibição do consumo de carne de porco; sabemos que na Arábia daquele tempo as condições de higiene existentes tornavam muito perigoso para a saúde o consumo desse tipo de alimento. No Alcorão lemos: "Ele apenas vos proibiu a carne morta, e o sangue, e a carne de suíno e aquilo sob o qual tenha sido invocada qualquer outro nome para além do nome de Deus"(2:173)

Apesar deste tipo de leis ter condicionado o desenvolvimento de uma série de hábitos e costumes que diferentes sociedades foram cultivando, parece-me óbvio que se tratam de leis adequadas a determinados estágios de desenvolvimento humano; dificilmente poderiam ter uma aplicação universal ou eterna. Não creio que este tipo de leis éticas e sociais possua um carácter universal, eterno e definitivo.

Na minha opinião (e isto é apenas uma opinião pessoal!) o versículo que Bahá'u'lláh cita no Kitáb-i-Íqán, alude ao poder transformador da Palavra revelada pelo Manifestante de Deus e à influência visível que esta têm sobre a história da humanidade. Desta forma, as "palavras de Jesus" poderão ser entendidas tanto como uma referência aos ensinamentos ético-sociais, como uma referência aos ensinamentos espirituais revelados pelo fundador do Cristianismo.

Quando as "Palavras" se referem aos ensinamentos éticos e sociais, então podemos perceber uma influência prolongada (mas não universal ou definitiva) na história da humanidade. Pelo facto de se tratarem de palavras que influenciam e condicionam profundamente povos e civilizações durante vários séculos, então faz sentido dizer que "as palavras não passarão", apesar de serem revogadas com o aparecimento de um novo Manifestante. E quando as "Palavras" se referem aos ensinamentos espirituais, então podemos perceber que estes são comuns a todas as religiões reveladas, e portanto possuem uma influência universal e constante na história da humanidade. Nesta perspectiva faz ainda mais sentido pensarmos que estas "palavras não passarão".

4 comentários:

João Moutinho disse...

E Jesus Cristo passou pelo Egipto...

Anónimo disse...

Joao Moutinho,
Importas-te de explicar...?

Elise disse...

marco, isto interessa-lhe:

http://www.israpundit.com/2006/?p=1200

espero que sim, que a notícia não seja verdadeira.

abraço

Marco Oliveira disse...

Elise,
Tinha visto a referência a essa notícia no Blasfémias e duvidei da autenticidade (nunca ouvi falar de um jornal chamado National Post, nem sei que tipo de jornal é)
Parece-me demasiado absurda para ser uma notícia verdadeira.
Se a notícia aparecesse na BBC, então eu ficaria preocupado.