segunda-feira, 26 de maio de 2008

No país de Deus

A opressão das minorias religiosas, especialmente dos baha’is, não é um mero acaso.
Por Jahanshah Rashidian
19-May-2008

A Republica Islâmica do Irão coloca o ramo Xiita do Islão no coração do aparelho de Estado. A islamização de toda a vida, baseada na interpretação pessoal de Khomeini sobre o Islão, é a política central da elite islâmica governante.

As minorias religiosas, que incluem os Sunitas, Cristãos, Judeus, Zoroastrianos e Baha’is constituíam cerca de 10% da população após a revolução iraniana - sendo os sunitas a maioria - também sofrem de discriminação enquanto minorias nacionais. Além disso, um número crescente de Xiitas, especialmente após a fundação da República Islâmica, é não-crente.

Numa entrevista à United International, em 8 de Novembro de 1978, o Ayatollah Khomeini afirmou: “Numa República islâmica, todas as minorias religiosas podem praticar livremente as suas cerimónias religiosas e o governo islâmico protegê-las-á na melhor das suas possibilidades”. Posteriormente, repetiu: “As minorias religiosas, como a população Muçulmana não-Xiita, são iranianos e devem ser respeitadas”.

As massas das minorias religiosas aderiram à revolução contra o regime do Xá, apesar do carácter religioso da sua liderança, acreditando que a tolerância prevaleceria.

Pouco após a revolução, as suas escolas foram encerradas e os professores despedidos; as escolas Cristãs foram inicialmente encerradas, e posteriormente reabertas devido à pressão, enquanto a hostilização dos Cristãos continua. Segundo a Constituição da República Islâmica do Irão, os membros das minorias religiosas não podem exercer cargos de alto nível na administração pública. Segundo a interpretação da Constituição, estes são rejeitados para cargos de baixo nível, e até mesmo para trabalhar numa fábrica. Estão sujeitos às leis Xiitas, no que toca a código de vestuário, feriados e proibições relativas a bebidas alcoólicas e música. Também estão sob jurisdição de tribunais islâmicos.

A Constituição da República Islâmica do Irão encoraja os Muçulmanos a respeitar os direitos dos não-Muçulmanos, a menos que eles “conspirem contra o Islão e contra a República Islâmica do Irão”. Cabe ao clero Xiita decidir o que constitui uma conspiração.

O regime publicou um decreto proibindo que não-Muçulmanos aluguem o andar superior de uma casa onde habitem Muçulmanos no andar inferior. Proibiu o uso de cadáveres de Muçulmanos para pesquisa médica e recomendou que fossem usados não-Muçulmanos para esse efeito. Também estabeleceu uma nova estrutura fiscal em que os não-Muçulmanos pagam taxas, chamadas “jazyeh”, um resquício das antigas leis dos tributos. As minorias religiosas estão proibidas de entrar em barbearias, banhos comunitários, mercearias e outros locais públicos.

A Carta da Retribuição, uma lei criminal que decreta o apedrejamento, a amputação de membros e o vazar de olhos como punição, considera a vida dos membros das minorias religiosas como valendo metade da vida dos Muçulmanos.

Os 75.000 membros da comunidade judaica têm sido considerados suspeitos de ser pró-sionistas. Muitos judeus foram forçados a abandonar o país e alguns foram executados.

Os Zoroastrianos, aderentes da antiga religião persa e representantes da cultura pré-islâmica, também são sistematicamente perseguidos. Na sua capital, Yazd, jovens raparigas têm sido raptadas pelos Pasdaran, levadas para casa do Ayatollah Soddoughi, violadas por grupos de homens e convertidas à força ao Islão. As queixas das suas famílias são ignoradas e não lhes é permitido visitá-las. Num caso, foi anunciado o casamento entre uma rapariga e um Pasdar.

Em Novembro de 1979, a Assembleia de Especialistas declarou o Judaísmo, o Cristianismo e o Zoroastrismo, como as únicas minorias religiosas oficialmente reconhecidas, deixando os Bahá’ís sem protecção constitucional. A Fé Bahá’í foi fundada no século XIX e acredita na unidade essencial de todas as grandes religiões, honrando os seus profetas, incluindo o Profeta do Islão, Maomé. Depois dos Sunitas, eles constituem a maior minoria religiosa, com meio milhão de membros. Devido às suas raízes islâmicas, a Fé Baha’i é considerada herética e particularmente ameaçadora pelo clero Xiita.

A Fé Bahá’í procura activamente novos convertidos e tem atraído um grupo de membros predominantemente prósperos e modernos. A oposição organizada contra os Baha’is já existia antes da República Islâmica. A sociedade Hojatyyeh, à qual pertence o presidente Mahmoud Ahmadinejad, iniciou a sua guerra “santa” contra eles durante o regime do Xá. Nessa altura, um número de baha’is possuía importantes organizações comerciais, como a Pepsi-Cola; também pregavam a não intervenção na política.

Desde a fundação da República Islâmica do Irão, os centros religiosos e propriedades Bahá’ís têm sido confiscados e os seus santuários destruídos. Aos seus membros nas forças armadas foi dada a possibilidade de escolha entre a conversão ao Islão ou a demissão. Em Agosto de 1980, todo o seu corpo governativo foi raptado e desapareceu; seis meses mais tarde, os seus sucessores foram presos, acusados de traição e executados. Outros Bahá’ís foram despedidos dos seus empregos, exilados, presos por conspirar contra o Islão e mortos.

A opressão das minorias religiosas, especialmente da Fé Bahá’í, não é um mero acaso; faz parte da natureza da República Islâmica do Irão e continua ainda hoje.

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Artigo publicado no Iranian.com. Traduzido e publicado com permissão do autor.

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