quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Manuel Clemente: Portugal e os Portugueses (2)

O Cristianismo é uma realidade ribeirinha

Um dos capítulos do livro "Portugal e os Portugueses", de D. Manuel Clemente, intitula-se “O Cristianismo é uma realidade ribeirinha”. Ao longo do texto, o autor refere que Cristo nasceu e viveu numa Palestina romanizada; os Evangelhos relatam diversos episódios relacionados com o mar e as águas. A água e o mar surgem com diversos significados nas Escrituras Cristãs. Dir-se-ia que para espalhar a Mensagem era necessário atravessar o mar. Ir mais alem, superar-se a si próprio, aventurar-se no desconhecido.

Depois sucedem-se as comparações com a História de Portugal e da Europa. A Palestina não chegava para os primeiros cristãos; a Europa não chegava para os europeus. Os primeiros lançaram-se na aventura missionária; os segundos naquilo a que chamamos "as descobertas". Logo aqui questionei: será isto uma comparação legítima para nós, pessoas do século XXI? Poderá a coragem e o desprendimento daquela primeira geração de missionários cristãos, ser comparável à sede de conquista, e às ambições de poder dos governantes das potências europeias (incluindo Portugal)?

As analogias entre a história Bíblica e a história secular de Portugal levam o autor a exageros óbvios. Por exemplo, quando afirma que Jesus não saiu da Palestina e forçou os seus discípulos a atravessar os mares, e seguidamente se colocam o Infante D. Henrique e D. João II (p.81) como se fossem herdeiros espirituais dessa missão evangelizadora, então corremos o risco de sacralizar as personagens da história ou de secularizar as personagens da fé.

Como escrevi noutro post, acho interessante uma reflexão que nos leve a procurar o lugar do Divino na história dos homens. Mas não podemos forçar a presença do Divino na história humana; não faz sentido tentar procurar em diversos episódios históricos, justificações, analogias ou inspirações de carácter religioso, quando é óbvio que esses episódios nada têm de religioso. Isso é quase tentar rescrever a história.

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