terça-feira, 5 de julho de 2011

Filmagens em Paris

Fazer um programa de TV sobre a presença do Mestre na capital francesa...

A "nossa" Avenida
Esta ideia surgiu há alguns meses, durante uma viagem a Paris, quando visitei a residência de 'Abdu'l-Bahá na cidade luz. E havia bons motivos: Paris é considerada o berço da Fé Bahá’í na Europa; foi ali que surgiu a primeira comunidade Bahá’í europeia; e aquela foi a cidade em que 'Abdu'l-Bahá Se demorou mais tempo durante as Suas viagens no Ocidente (1911-1913). Em Dezembro do ano passado esta ideia era já um projecto na minha cabeça.

Em França, os Baha’is têm vindo a preparar a celebração deste Centenário com diversas iniciativas. A possibilidade de fazer um programa de TV sobre esta visita foi acolhida com grande entusiasmo. Ocorreu-nos também que poderíamos fazer outros programas (de 7 minutos) sobre os livros “Palestras em Paris” (associado à visita de 'Abdu'l-Bahá) e “Respostas a Algumas Perguntas” (elaborado por Laura Clifford Barney, uma das primeiras Bahá’ís de França). Não podemos esquecer que são livros muito populares entre Bahá’ís e pessoas que querem conhecer a Fé Bahá’í.

Em Janeiro passámos à fase de planeamento do projecto: orçamento, deslocações, estadias, estrutura e guião para os programas. Quantas pessoas são necessárias levar a Paris? Que materiais devemos recolher? Poderemos filmar na Residência? Como descrever o ambiente na Europa (e em França) em 1911? Como transmitir a importância do local de uma forma digna, serena e apelativa?

Centro Bahá'í de Paris
As questões e os problemas sucediam-se; as respostas e as soluções também. Valeu-nos a ajuda de Armindo Pedro (Bahá’í Português residente em França) e de Sophie Menard (do Gabinete de Assuntos Externos da Comunidade Bahá’í de França).

Finalmente, tivemos luz verde de todas as partes. A AEN de Portugal já tinha dado a sua aprovação; a AEN de França concorda. A Artemis (empresa que faz as filmagens) também. Apressámo-nos a marcar viagens e estadias. Em França começaram a avisar algumas pessoas que podiam vir a ser entrevistadas.

O tempo ia passando e as estruturas dos três programas de TV foram assumindo forma. Diversos livros publicados em França e algum material recolhido na Internet inspiraram e orientaram a elaboração dos guiões. O nosso objectivo ficou cada vez mais claro. Decidimos filmar um 4º programa com perguntas genéricas. Dá sempre jeito tem algum material disponível para outros programas.

Chegou o dia da viagem a Paris. Não podia esquecer de nada. Imprimi todos os documentos e emails que troquei. Levei os livros e alguns materiais. Tinha alguma dificuldade em acreditar que isto estava a acontecer. Íamos mesmo filmar uns programas de TV sobre a presença de 'Abdu'l-Bahá em Paris.

Pouco depois de deixarmos bagagens e equipamento no hotel, fomos passear pelas ruas de Paris. A Residência de 'Abdu'l-Bahá ficava ali perto. Encontrámos a "Avenue de Camoens" após alguns minutos de caminhada. Lá estava a estátua (mal-tratada) do poeta português junto à escadaria no topo da avenida. É engraçado pensar que a residência de 'Abdu'l-Bahá em Paris fica numa rua que tem o nome de um poeta Português. É difícil não sorrir perante esta coincidência.

António Malheiro e Pedro Marques
A rua estava deserta e tranquila. No prédio nº 4, não havia luzes acesas no 1º andar. A poucos metros dali a Torre Eiffel estava iluminada. Tirámos umas fotos, pois claro. Dei por mim a explicar algumas das minhas ideias… Era difícil conter o entusiasmo.

No dia seguinte iniciamos o trabalho a sério. Encontrámo-nos na residência à hora marcada. Começámos com um briefing; recordámos o nosso plano de trabalhos para este dia e esclarecemos várias dúvidas. Ficámos a saber que há várias pessoas para ser entrevistadas. Lembrámos que as entrevistas seriam faladas em francês e legendadas em português; a perspectiva de programas bilingues animou todos os presentes.

Antes de sair, fizemos orações no quarto privado de 'Abdu'l-Bahá. Começámos com filmagens no exterior; fomos para o Jardim de Trocadero, ali perto; partilhámos a carrega da mochila com baterias e cassetes, do tripé e da câmara. E não esquecemos os apontamentos.

Sucederam-se os "takes". "Aqui tem um bom enquadramento." "Era importante que vocês se movimentassem enquanto falam..." "O B. está despenteado..." "Espera... não ficou bem. Vamos ter que repetir" "Vamos fazer a abertura depois...". Os Bahá’ís franceses observavam-nos atentamente. Alguns estavam curiosos; outros claramente tentavam a tentar aprender connosco.

Filmando na Residência
A tarde foi preenchida com filmagens no interior da residência. Começamos as entrevistas. Algumas vozes fraquejaram; outras aceleraram; não faz mal; podíamos repetir. Falhou o flash; aquele candeeiro dava para desenrascar. Precisámos de novos ângulos. Reparei no Junior; era de origem marfinense e tinha um olhar quase magnético. Infelizmente, durante a entrevista, sentiu-se desconfortável e desviou o olhar para o chão. "Parem!..." Delicadamente, chamei-lhe a atenção e ele aceitou o meu comentário. Retomámos a entrevista. Desta vez, o Junior olhou fixamente Pedro Marques durante a entrevista. Estamos de acordo: "O gajo é bom na TV!"

As filmagens previstas para hoje estavam quase a acabar. Ao fim da tarde recebemos um recado: "Já não é necessário ir hoje ao Centro Bahá’í. A pessoa que ia ser entrevistada hoje estará lá amanhã". Foi uma alteração de planos que nos agradou; estávamos cansados. Mas não o suficiente para nos impedir de ir passear até ao Arco do Triunfo, depois de jantar.

No sábado de manhã, tínhamos filmagens no Centro Bahá’í de Paris. Alguns amigos aguardavam-nos. Tínhamos previsto filmar entrevistas sobre os dois livros. Começou o Frederic a falar sobre o livro "Palestras em Paris"; despejou datas, nomes, locais... "Sou um rato de biblioteca", confessou-me mais tarde. Entendi-o e fiquei a pensar em fotos antigas para ilustrar a sua intervenção. Este vai dar trabalho quando fizermos a montagem.

A explicar uns pormenores...
Seguiu-se a Annie. Tinha sessenta anos e aparentava um misto de humildade e elegância. Começou a sua intervenção a dizer que o livro (Respostas a algumas perguntas) era "mágico e é útil para Bahá’ís e não Bahá’ís". Ops! "Corta!" Explico que o que acabou de dizer pode ser mal-entendido. Dizer que um livro Bahá’í é mágico poderia sugerir que somos algum grupo esotérico; além disso, não devemos nunca fazer distinção entre pessoas por serem, ou não serem, Bahá'ís. Annie aceitou os meus comentários com um sorriso. Recomeçámos. Desta vez tudo correu bem.

Chegaram mais pessoas para serem entrevistadas. Responderam a questões de carácter genérico. Algumas tiveram um desempenho muito bom para quem é entrevistado pela primeira vez; parecia que não se intimidavam com a presença da câmara.

Entrevistando a Natalia
Sophie agradeceu-nos e nome da AEN de França e pede para jantar connosco. Queria fazer um balanço do trabalho. Pediu opiniões sinceras sobre o desempenho de todos os participantes. O audiovisual é uma área em que os Baha’is franceses ainda têm que desenvolver. Acham que somos fantásticos. Não é bem assim, mas sabemos que temos mais experiência do que eles.

Comecei os meus comentários: "Alguns pareceram intimidados com a presença da câmara..." "Gostei da maneira de falar da G. Era muito segura." "L. falou demasiado depressa… parecia um apresentador de televendas..." "A. foi magnífica..." "T. era demasiado sexy..." "Foi pena o M. ter aquela roupa. Parecia mal-amanhado..." "O Júnior foi muito bom. Temos poucas pessoas como ele em Portugal".

Sophie tomava nota das minhas observações. "Podemos de avançar para um workshop de Técnicas de Apresentação. A maior parte das pessoas não tem consciência destes problemas. E isto pode-se corrigir com algum treino", concluo.

À porta da Residência
"Seria uma boa ideia. Temos muito a aprender convosco", respondeu-me.

"Temos de aprender uns com os outros. Em Portugal, temos dificuldade em encontrar pessoas disponíveis para os programas. Aqui vocês mobilizaram dez, ou doze, pessoas. Isso é muito bom."

"A vossa presença foi uma bênção..."

"Não gosto de pensar assim. Eu diria que o resultado neste momento é francamente positivo. O nosso objectivo era filmar 4 programas e devemos ter recolhido material para 6 ou 7. É claro que ainda não vimos o resultado final; falta o trabalho da montagem. Mas neste momento estamos muito satisfeitos".

Sophie sorri.

Ficámos com a sensação que este pode ser o início de uma bela colaboração entre Bahá’ís de França e de Portugal.

6 comentários:

Anónimo disse...

Quando se vive em Portugal, pensamos que a Comunidade é pequena, fraca, e com grandes necessidades a vários níveis. Quando se vive noutro lado, apercebemo-nos que, por comparação, em vários casos Portugal está na vanguarda, pelo menos na Europa. E isso faz-nos sorrir. Bom trabalho! Gostaria de poder ver os programas quando estiverem produzidos.
Margarida Miguel

Anónimo disse...

Adorei ler o teu artigo...pude viajar convosco, observar pelos vossos olhos, sorrir de orelha a orelha com algumas passagens e até fui jantar convosco e dar a tal voltinha pelo Arco do Triunfo. Bom trabalho! Estou ansiosa por ver os programas!

Beijos para ti e para o Pedro e a minha gratidão por este serviço!
Stella

Marco Oliveira disse...

Stella,
A sensação dos pés doridos também esteve presente.
:-)

Dad disse...

A ideia foi fantástica!
Aguardamos a reportagem pois será certamente um grande momento.

Anónimo disse...

Thank you for sharing this wonderful project! I wish you the best in this endeavor.

V_ disse...

Marco, o que a Margarida disse é oq ue sinto. Nós em Portugal ou seja voces, tem muitas oportunidades e parecem "normais" e logicas, mas nao é assim. Tem avançado imenso no tema do desenvolviemntos audio-visual e isso é quase unico. Os estados unidos tem essa experiencia mas toda suportada pelos fundos da fe...
Quando é que vamos poder (as comunidades nacionais dos outros paises) ter aceeso a alguns masters? A fe está quase a sair a luz aqui no Chile e bem precisamos de bons programas e boas tomas.
Obrigada pela descriçao, senti-me com voces, e até com os nervos no estomago ao estar a frente da camara (e isso que já treinei mil vezes)....beijos e abraços a todos, demasiadas saudades!!!