A geração dos meus tios e avós maternos está a desaparecer.
Vivem, ou viveram, os últimos anos das suas vidas em casa. Alguns têm, ou tiveram, a possibilidade de estar acompanhados pelos filhos ou sobrinhos. Outros vão ficando sós, recebendo visitas periódicas de irmãos, filhos, netos, sobrinhos e outros familiares; no intervalo dessas visitas a sua única companhia é a televisão.
Curiosamente, todos eles passaram por uma fase em que se recusavam a ver o telejornal (em qualquer canal!) O teor das notícias e a violência das imagens deprimia-os ou assustava-os. "É só desgraças! Só miséria..." queixavam-se.
Uma destas tias preferia ver o telejornal das Regiões; ali o teor das notícias era muito mais tranquilo: os bombeiros que receberam uma nova ambulância, a rede de esgotos que foi construída numa vila, uma estrada que nunca mais é alcatroada. Não havia ali desgraças ou tragédias.
Conheci outros idosos que tiveram um comportamento semelhante. Imagino que existam muitos mais no nosso país. Em alguns casos esta repulsa pela informação alargava-se a alguns jornais.
A violência dos noticiários televisivos portugueses já tem sido muito falada; refere-se muitas vezes o facto das crianças estarem expostas a esta violência (como irá isso influenciar o seu desenvolvimento?). Mas parece que nos esquecemos que os nossos idosos também são um grupo vulnerável a esta violência.
A guerra das audiências tem levado à degradação da qualidade da televisão. Se é fácil lembrarmos que as crianças são uma espécie de "vítimas inocentes" dessa guerra, será importante não esquecer que os idosos são também uma espécie de "danos colaterais" dessa mesma guerra.
Para quando um pouco mais de bom senso em pelo menos uma daquelas redacções das estações de TV?
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