sábado, 17 de abril de 2004

Incidente em Antares

Acabei de ler Incidente em Antares de Erico Verissimo. Não é tão monumental e esmagador como O Tempo e o Vento, mas o argumento é interessante.

Antares é uma cidade no sul do Brasil, junto ao rio que faz fronteira com a Argentina. Foi crescendo no meio de rivalidades entre duas famílias poderosas (Vacarianos e Campolargos) e florescendo graças ao contrabando. No final de 1963, uma greve geral paralisa a cidade. Seis pessoas morrem no início da greve, mas os trabalhadores do cemitério estão em greve e recusam-se a enterrar os corpos.

De noite os cadáveres (que já começaram a apodrecer) ganham vida novamente e ficam indignados por ainda não terem sido sepultados. Resolvem protestar contra a situação e instalam-se no coreto da praça central. Ao meio-dia toda a população estupefacta vai-se reunindo na praça central para tentar acreditar naquele fenómeno; os cadáveres falam e vão denunciando a podridão moral de muitos habitantes, revelando adultérios, roubos e golpadas de políticos e abusos da polícia.

A podridão física denuncia outra bem pior: a podridão moral.

No dia seguinte os cadáveres são reconduzidos ao cemitério. Coloca-se então o problema de como esquecer o incidente. Impedem-se reportagens nos jornais, ameaçam-se forasteiros que fazem muitas perguntas, e por fim o golpe militar de 1964 cria um ambiente favorável a que ninguém faça perguntas inconvenientes.

Segundo me dizem alguns amigos brasileiros, este livro já foi adaptado para mini-série na TV.

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