Porque é que acreditamos em algo que nos transcende? Em que se fundamenta a fé de cada um que se diz crente? Estas perguntas não têm uma resposta simples; cada crente terá a sua resposta; e cada resposta revela um pouco de cada crente, do seu entendimento da vida e do que ele pensa ser o propósito da nossa existência.
Claro que qualquer pessoa deve ter dificuldade em responder a estas perguntas. Eu, por exemplo, poderia escrever um longo testamento tentando responder. Poderia dizer que acredito porque algo dentro de mim me diz que existe um Deus Criador, ou poderia expor algum raciocínio aristotélico e até mesmo invocar as Cinco Vias de S. Tomás. Quanto aos fundamentos da fé apontaria para as Sagradas Escrituras e para a forma como estas têm transformado a vida de tantas pessoas e servido de base à construção de civilizações.
A questão sobre os fundamentos da fé, merece alguma atenção, agora que o Sudário de Turim volta a ser notícia (ver BBC, The Guardian e Washington Times). Segundo a BBC, cientistas italianos dizem ter descoberto uma 2ª face no sudário. Alguns sectores das diferentes igrejas cristãs agitam-se perante esta novidade. O Vaticano mantém uma distância prudente. O curioso da notícia, é referir que apesar dos testes de carbono 14 realizados ao Sudário há alguns anos, existem ainda muitos crentes que o veneram e o consideram uma prova testemunhal da existência de Cristo. Um objecto digno de adoração.
Afinal onde estão os fundamentos da fé?
Pessoalmente, acredito que Deus comunica com a humanidade através dos Seus Mensageiros (Moisés, Jesus, Buda, Maomé e mais recentemente Bahá'u'lláh). A adoração a Deus vê-se no respeito pelo nosso semelhante, na forma como pomos em prática os ensinamentos divinos.
Faz sentido que objectos que possam ter tido alguma relação com o Mensageiro (vulgamente designadas por "relíquias") venham substituir a Mensagem? No caso concreto dos Cristãos e do Sudário, se a fé se baseia nos ensinamentos de Cristo, então qual a importância do Sudário para a fé? Se a suposta "autenticidade do Sudário" é a base da fé, então a coisa complica-se muito com os resultados dos testes do carbono 14. E se o Sudário fosse autêntico, o que é que isso mudaria?
É fácil para um Bahá'í fazer estes comentários. Quando temos a possibilidade de fazer peregrinação à Terra Santa podemos observar uma série de "relíquias"; tratam-se de textos originais, roupas, canetas, malas e outros objectos de uso pessoal de Bahá'u'lláh. No entanto, estes objectos apesar de serem verdadeiros testemunhos da vida terrena de Bahá'u'lláh, não são alvo da veneração dos crentes. O centro das atenções dos peregrinos são os santuários onde estão sepultados Bahá'u'lláh e o Báb.
Mas – por hipótese académica – se se provasse que aquelas relíquias bahá'ís não eram autênticas, ficaria a minha fé abalada? Duvido. Ficaria triste, pois as relíquias mostram-nos um vestígio da dimensão humana do profeta; no entanto, a mensagem de Bahá'u'lláh não se centra nas relíquias mas sim nos Seus ensinamentos, conforme transmitidos nas escrituras.
Bahá'u'lláh faleceu há pouco mais de 100 anos; Cristo foi crucificado há quase 2000. É natural que ainda existam vestígios da presença humana de Bahá'u'lláh; é praticamente impossível que existam esse mesmo tipo de vestígios da presença de Cristo. Mas será mesmo necessário que tenhamos essas relíquias que testemunham uma vida terrena de um Profeta para que a nossa fé seja sólida?
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