sábado, 18 de fevereiro de 2006

As Escrituras Bahá'ís

Segundo os ensinamentos bahá'ís, Deus manifesta ciclicamente o Seu Verbo no mundo da Criação, fazendo surgir os Seus Manifestantes entre a humanidade. Esses Mensageiros Divinos, apresentam ensinamentos adequados às necessidades e capacidade de compreensão dos povos a quem se dirigem. O Verbo de Deus reflecte-se neles - tal como o sol se reflecte num espelho - inspirando os Seus actos e as Suas palavras.

O Verbo de Deus revelado na forma de palavras proferidas pelos Profetas é, aparentemente, constituído por palavras comuns; mas, pelo facto de terem sido proferidas por um Mensageiro Divino, estas palavras possuem um poder superior às palavras comuns dos homens. Esse poder permite transformar as nossas vidas, as vidas dos nossos semelhantes e o mundo que nos rodeia. Devido à sua capacidade criativa e regeneradora, as palavras dos Manifestantes, quando registadas, são descritas como Sagrada Escritura. Sobre este assunto, Bahá'u'lláh escreveu: "O homem assemelha-se a uma árvore. Os frutos da árvore humana são primorosos, altamente desejados e estimados com afecto. Entre estes figuram um caracter íntegro, acções virtuosas e palavras bondosas... A água para essas árvores é água vivificadora das Sagradas Palavras..."[1]

Sendo as palavras dos Mensageiros de Deus um reflexo do Verbo de Deus, torna-se óbvio que a revelação da Palavra Divina não está dependente de qualquer forma de conhecimento adquirido. Moisés, Cristo e Maomé não eram homens instruídos; o Báb e Bahá'u'lláh receberem uma instrução elementar.


Epístolas originais escritas pela mão de Bahá'u'lláh
e expostas nos Arquivos Internacionais Bahá'ís no Monte Carmelo

Na Pérsia do século XIX - o cenário onde surgiu a religião bahá'í - a maioria das pessoas eram analfabetas. Apenas existiam dois grupos sociais instruídos: o clero e alguns elementos da nobreza. Na verdade, apenas os clerigos se podiam considerar verdadeiramente instruídos; costumavam passar anos das suas vidas a estudar teologia, lei islâmica, filosofia, medicina, astronomia e - acima de tudo – a língua árabe. Sendo o árabe a língua do Alcorão, o estudo desta língua assumia uma enorme importância; em alguns meios, considerava-se mesmo que nenhum trabalho seria digno de uma atenção e leitura cuidadosas se não estivesse escrito em árabe.

O segundo grupo de pessoas instruídas incluía maioritariamente membros da nobreza, escribas e alguns comerciantes. Durante a infância recebiam uma instrução elementar durante baseada em leitura, escrita, caligrafia, estudo do Alcorão e de poetas persas. Bahá'u'lláh pertencia a este grupo social.

A partir do momento em que anunciou a Sua revelação, as palavras de Bahá'u'lláh começaram a ser registadas por secretários, e, ocasionalmente, por Ele próprio. Em quase todos os momentos algum secretário estava preparado com grandes quantidades de papel, pincéis e tinta, para registar as Suas palavras à medida que iam sendo proferidas.

Depois de registadas as Suas palavras, seguia-se um processo de transcrição; após isso, os textos eram aprovados e autenticados por Bahá'u'lláh, com um dos Seus selos. Depois de uma epístola ter sido transcrita e aprovada, produziam-se várias cópias para divulgação entre os crentes.

Uma das características particulares da religião bahá’í é a vastidão das suas escrituras. Estas são constituídas por livros, epístolas e palestras proferidas pelas suas Figuras Centrais: o Báb, Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá. O Alcorão, o livro sagrado do Islão, consiste em pouco mais de seis mil e trezentos versículos. Foi revelado por Maomé durante um período de vinte e três anos. Segundo o próprio Bahá'u'lláh, se todas as Suas escrituras fossem compiladas formariam mais de cem volumes. Ainda segundo as Suas palavras, "Tão grande é a graça concedida neste dia que se se encontrasse um secretário capaz de acompanhar, num único Dia e noite, o equivalente ao Bayan persa seria enviado do céu da Divina santidade"[2]. O Bayan persa é o principal Livro Sagrado revelado pelo Báb; contém mais de oito mil versículos.

A maioria dos originais das Escrituras Bahá'ís encontram-se hoje no Centro Mundial Bahá'i, em Haifa, na Terra Santa. Desde meados do século XX, tem sido posto em prática um plano sistemático de traduções destes originais (em árabe e persa) para o inglês; essas traduções em inglês, servem de base para as traduções para outras línguas. Graças a este plano de traduções, os mais significativos livros das Escrituras Bahá'ís já encontram-se disponíveis nas línguas mais faladas no mundo.

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NOTAS
[1] - Epístolas de Bahá'u'lláh, pag. 282
[2] - Citado por Shoghi Effendi, God Passes By, pag. 171

6 comentários:

Luz Dourada disse...

A ideia da manifestação progressiva faz todo o sentido. É uma ideia bem divina! União, fraternidade, conhecimento, ir retirando o véu progressivamente, limpar o espelho obscurecido e reiniciar um novo ciclo não esquecendo nem renegando os anteriores. Estar aberto ao completo amor de Deus!

AlTaher disse...

Ao Profeta, Maomé, a Revelação definitiva. Lamento. Depois, por muitas boas intenções que haja, só resta a crendice das seitas. Boa tarde.

Marco Oliveira disse...

Al-Taher,

Os judeus que se opunham ao Profeta Maomé acreditavam que a Revelação Divina tinha cessado. Era como se acreditassem que Deus estava com as mãos amarradas e nada podia fazer. "Os Judeus dizem: «A mão de Deus está amarrada». Que as suas mão estejam amarradas e que eles sejam amaldiçoados, pela blasfémia que proferem." (5:64)

Também acreditas que Deus, o Omnipotente, tem as mão amarradas?

GWD disse...

Marco,

It is moving to me just to able to see your picture of the framed, illuminated writings of Baha'u'llah in the Archives in Haifa. How wonderful that we can actually study the evidence of God's revelation in this day with our own eyes. Is this picture one you took on your pilgrimage?

Marco Oliveira disse...

George,
This picture is at the French site Médiathèque Baha'ie (http://www.bahai-biblio.org/).
I believe this photo was taken inside the Archives Building.
I remember seeing some original writings, but I don’t remember if we are allowed to take pictures there.

João Moutinho disse...

Nestas coisas de Religião, os "malandros" também têm a sua sorte.
Eu estive três vezes no Edifício dos Arquivos.
Lembro-me de ter visto in loco Escritos do Próprio Bahá'ú'lláh.
Não percebo nada de árabe ou persa mas reparei, com alguma nitidez, os efeitos que a tentativa de envenenamento Lhe provocaram.