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O Sermão no Monte das Oliveiras (1ª parte)
Apesar do Kitáb-i-Íqán ter sido revelado como resposta às questões de um muçulmano e, consequentemente, conter muitas referências ao Alcorão e às tradições islâmicas, existem vários parágrafos deste livro onde se citam e explicam excertos da Bíblia. Entre essas citações conhecidas dos leitores cristãos encontra-se alguns versículos do sermão profético de Jesus, registado no Evangelho de S. Mateus:
"E, logo depois da aflição daqueles dias, escurecerá o sol e a lua não dará a sua claridade, e as estrelas cairão do céu, e os poderes da terra serão abalados; e então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e, então, todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade. E enviará os seus anjos com trombetas e com grande voz."(Mt 24:29-31) [24].Este texto profético(a), também por vezes designado como o Sermão do Monte das Oliveiras, mereceu desde sempre a atenção de teólogos, comentadores e exegetas(b). Fruto dessa atenção, surgiram as mais diversificadas interpretações; nestas, podemos identificar duas grandes classes de exegese: as que sustentam que o regresso de Cristo não ocorrerá de uma forma literal, mas antes que ocorreu (ou ocorre) com o desenvolvimento do Cristianismo pelo mundo; e as que sustentam que Jesus Cristo regressará de forma corpórea e – literalmente – sobre as nuvens do céu.
Referindo-se ao mesmo versículo, 'Abdu'l-Bahá afirmou:
"As estrelas são inumeráveis, infinitas, e, de acordo com provas científicas modernas, matematicamente estabelecidas, o globo solar é cerca de um milhão e meio de vezes maior que a terra, e cada uma das estrelas fixas é mil vezes maior que o sol. Se fossem cair sobre a superfície da terra, onde iriam essas estrelas encontrar lugar? Seria como se mil milhões de Himalaias caíssem em cima de um grão de mostarda! De acordo com a razão e a ciência, isto é absolutamente impossível. "(c)Tal como afirma 'Abdu'l-Bahá, o sentido literal dos versículos citados por Bahá'u'lláh leva-nos a fenómenos contrários às leis da natureza e ao senso comum. No Kitáb-i-Íqán, o fundador da religião bahá'í leva o leitor a reflectir e a identificar os simbolismos existentes neste excerto do Evangelho.
AFLIÇÃO
Como já referi, o Kitáb-i-Íqán apresenta alguns significados possíveis para os termos existentes no texto bíblico. Por exemplo, o termo "aflição" pode ser entendido como "a falta de capacidade para adquirir conhecimentos espirituais e compreender a Palavra de Deus"[30]; também pode ser entendido um desesperante vazio interior que muitas pessoas sentem devido à ausência de uma ligação com o Criador.
Segundo Bahá'u'lláh, a incapacidade para encontrar uma fonte de espiritualidade torna-se uma "aflição penosa" para qualquer "alma em busca da verdade, desejosa de atingir o conhecimento de Deus"[29]. Ainda segundo o fundador da religião bahá’í, esta aflição - que também pode ser entendida como uma iniquidade moral que se torna comum entre o povo - caracteriza o surgimento de uma nova religião. [29]
Neste excerto do Evangelho, a frase "... todos os povos da terra chorarão" sugere ainda que a aflição anteriormente referida será de carácter universal.
SOL E LUA
Apesar da ciência explicar a existência de fenómenos naturais onde podemos observar o escurecimento do sol ou da lua, torna-se inconcebível pensar que um eclipse possa influenciar de forma tão significativa a história da humanidade. No Kitáb-i-Íqán, Bahá'u'lláh afirma que os termos "sol" e "lua" no Livros Sagrados do passado não se referem “ao sol e à lua do universo visível, mas, antes, são múltiplos os sentidos em que se usam esses termos; em cada instância, tem-lhes sido dado um significado especial”[31].
As palavras que os evangelistas atribuiu a Jesus "Enquanto estiver no mundo, Eu sou a luz do mundo"(Jo 9:4-5) sugerem que, num sentido simbólico, os termos "sol" e "lua" podem ser entendidos como as fontes de luz espiritual do mundo. Seguindo esta analogia, o fundador da religião bahá’í identifica múltiplos significados para estes termos; o "sol" e a "lua" podem referir aos Manifestantes de Deus fundadores das religiões do passado[31], aos Seus companheiros[33] e ensinamentos e valores morais[38] e à Sua influência sobre a sociedade.
Desta forma, a expressão "escurecerá o sol e a lua não dará a sua claridade" pode ser entendida como descrevendo o declínio da influência dos ensinamentos das religiões do passado.
É interessante recordar que o termo "sol" é dos que possui mais significados nos Livros Sagrados. Bahá'u'lláh afirmou que falar sobre os significados deste termo durante mais de dois anos e mesmo assim muito ficaria por dizer.
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REFERÊNCIAS
(a) – Este discurso tem paralelismos no Cap. 13 do Evangelho de S. Marcos e no cap.21 do Evangelho de S. Lucas
(b) – Um comentário a todo o cap. 24 (versículo a versículo) do Evangelho de S. Mateus encontra-se no livro The Prophecies of Jesus de Michael Sours. Existe já uma tradução deste livro para português (do Brasil) .
(c) – Respostas a Algumas Perguntas, cap. 26
5 comentários:
Não estou a dar manteiga. Mas uma vez mais estamos perante um excelente texto.
Já deixei o comentário, não foi?
João,
Os comentários levam tempo a aparecer porque estão sujeitos a moderação.
Um abraço.
Alguém dzia que se tivesse de ficar numa ilha deserta e só pudesse escolher um livro para ter consigo seria exactamente o Kitáb-I-Íqán.
Um abraço!
Ainda me lembro da primeira vez que li o "Kitáb-Í-Íqan".
Estava lá explicado tudo o que procurava em termos de Revlação Progressiva.
Oxalá tivesse lido o livro antes!
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