No Cristianismo, Cristo é visto como tendo sofrido a crucificação para salvar toda a humanidade. Partindo do conceito de que todos os seres humanos estão manchados pelo pecado original, ou que todos os seres humanos são pecadores, e que a justiça de Deus exige que todas as punições sejam cumpridas, a doutrina da expiação substituta afirma que Cristo consentiu morrer na cruz como um resgate pelos pecados humanos, assegurando assim a salvação de todos os que acreditam nele.
E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão dos pecados… Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos…, mas no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus... Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação. (Hebreus 9:22-28)Apesar de existirem tradições no Islão sunita sobre os méritos de quem é martirizado no decurso de uma guerra santa (jihad), é no Islão Xiita que o tema do sacrifício e da redenção se torna um elemento principal da religião. O martírio do Iman Husayn em Kerbala é considerado redentor ou expiatório; o Iman acedeu ser martirizado com o objectivo de purificar o mundo muçulmano dos seus pecados. O Xiismo considera todos os seus doze Imans (os lideres da religião que sucederam ao Profeta Maomé) como tendo sido martirizados pelos seus inimigos. Desta forma o martírio torna-se parte do ethos da religião. É comemorado todos os anos na data da morte dos Imans através de recitais, encenações e procissões. Também tem um papel de grande relevo na literatura e na arte do mundo Xiita.
Na história Bahá’í, o acto supremo de martírio foi o do Báb, o precursor de Bahá'u'lláh. Bahá'u'lláh afirmou que todos os grandes sacrifícios da história religiosa, a intenção de Abraão em sacrificar o próprio filho, a crucificação de Jesus, e os martírios de Husayn e do Báb ocorreram “como um resgate pelos pecados e iniquidades de todos os povos da terra”.
Sacrifício e martírio são temas desconfortáveis no mundo secular e hedonista de hoje. A maioria das principais ortodoxias do mundo cristão, pelo menos, parece embaraçada por este e esforçam-se por minimizar o seu lugar na religião. No entanto, parece ser um tema resiliente que reemerge continuamente de forma inesperada, especialmente entre os jovens. Durante a revolução iraniana de 1979, os jovens foram preparados para morrer pelo sucesso do Islão, enquanto nos anos seguintes os bahá’ís se prepararam para enfrentar a tortura e a morte nas prisões iranianas em vez de negar a sua fé. Em alguns novos movimentos religiosos, tal como a Igreja da Unificação, existe uma ênfase forte no auto-sacrifício e no trabalho árduo para o avanço da causa. Talvez o seu apelo aos jovens esteja no compromisso, intensidade e idealismo que exige, algo que contrasta com uma existência pacata e protegida.
Moojan Momen, in The Phenomenon of Religion: A Thematic Approach, pag. 230-231
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ACTUALIZAÇÃO
Ao contrário do que o texto pode sugerir, o termo "Jihad" não significa Guerra Santa (apesar de ter sido distorcido nesse sentido por alguns grupos islamicos. Existem dois tipos de Jihad: A Jihad Maior, que se entende como um esforço de auto-aperfeiçoamento no sentido de uma pessoa se libertar do ego e crescer espiritualmente. A Jihad Menor, que se entende como uma reacção da comunidade de crentes a uma invasão inimiga. Sobre este assunto recomendo estes dois artigos:
* What Does Jihad Really Mean?
* My American Jihad
(obrigado ao Iuri por me ter chamado a atenção para este pormenor)
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