sábado, 27 de janeiro de 2007

Preconceitos Religiosos nos Manuais Escolares (1)

Uma reportagem publicada hoje no Expresso, de autoria de Valentina Marcelino, refere o facto da Comissão da Liberdade Religiosa ter efectuado uma análise dos manuais escolares com o objectivo de verificar como eram descritas as religiões. Esther Mucknik, autora deste estudo e representante da comunidade judaica em Portugal resume as conclusões: "As religiões estão no centro dos conflitos por todo o mundo, mas em Portugal a escola está a ensiná-las, em geral, com erros históricos, estereótipos, preconceitos, simplificações abusivas e até censura, com omissões graves de factos históricos".

O Cristianismo é "muitas vezes associado ao obscurantismo e ao atraso e apresentado como a primeira religião monoteísta, com Jesus a nascer numa Palestina inexistente naquela época". "O Judaísmo é quase ignorado – em Portugal praticamente só existiram quando foram mortos pela Inquisição – e os estereótipos grosseiros abundam". "O Islamismo é um misto de exotismo e definições que desvirtuam os fundamentos do Islão, apesar das influências da presença árabe em Portugal estejam, em geral, positivamente retratadas".

Só estas três religiões foram encontradas nos textos escolares. Outras confissões como os hindus, os budistas ou bahá'ís, presentes em território nacional, não são mencionadas.

A autora do Estudo salienta ainda: "Estas idades, dos 11 aos 15/16 anos, são decisivas na formação dos adolescentes, e não há nos manuais uma introdução séria ao fenómeno religioso, onde as explicações pecam por simplistas e falta de rigor. Estamos a educar gerações inteiras na ignorância da cultura judaico-cristã, que é simplesmente a base da nossa civilização".

O artigo do Expresso inclui ainda opiniões do xeque David Munir da comunidade islâmica de Lisboa e do director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, o padre Peter Stilwell. Este último afirma: "Aprender bem as religiões é uma questão cultural vital no mundo globalizado, no qual os jovens vão estar em contacto com outras culturas e tradições. É essencial conhecê-las para saber respeitá-las". Tanto Stilwell, como Munir, subscrevem as recomendações do estudo que a Comissão de Liberdade Religiosa vai apresentar ao Ministério da Educação.

O Ministério da Educação afirma que "a responsabilidade dos manuais adoptados está do lado das escolas e dos professores. Apenas quando estiverem certificados, estará do lado do Ministério. Seria interessante que a Comissão de Liberdade Religiosa insistisse na necessidade de certificação dos manuais que abordam esta matérias por parte de especialistas em ciências religiosas.

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