Excerto de um artigo do Prof. Anselmo Borges, hoje no DN:
Depois de uma conferência, no período das perguntas, uma senhora atirou-me: "Sempre é verdade o que dizem: o senhor nega dogmas da Igreja!" Pedi-lhe para dar exemplos. Ela: que tinha negado o dogma do pecado original.
Aí, perguntei-lhe se tinha filhos. E ela: "Sim, tenho duas filhas." Dei-lhe parabéns sinceros e desafiei-a a dizer-me se acreditava sinceramente que as duas filhas tinham sido geradas em pecado e que ela tinha andado nove meses de cada vez carregando com duas filhas em pecado dentro dela. Ela: "Nem pense nisso! É claro que não."
Fiquei então, mais uma vez, a saber que, frequentemente, há na religião o que se chama dissonância cognitiva: afirma-se uma coisa, mas realmente não se acredita nela, porque se pensa outra coisa. Aquela senhora, confrontada com a questão, viu claramente que não podia acreditar que uma criaturinha inocente, concebida com amor, tivesse sido gerada e tivesse nascido em pecado, um pecado de que não era autora nem culpada. Mas ao mesmo tempo acusava de heresia quem dissesse o contrário do que lhe ensinaram que devia dizer, sem pensar. Ora, a fé não pode entregar-se à cegueira, abandonando a razão.
2 comentários:
Por acaso, Marco, todas as religiões têm pérolas destas. Eu chamo-lhes quererem "tapar o sol com a peneira", assim mesmo, em bom português. É que há disto em todo o lado sob a capa de diversas orientações que teriam tido alguma razão de ser em determinado tempo, mas que o tempo se encarregou de ir diluindo até que se tornem límpidas como as águas de um riacho.
Quem quizer entender, que entenda.
Pois para mim é um sinal de contradição nos cristãos muito bem apontado.
Mas atenção, que os baha'is também têm uma ou outra contradição...
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