No livro livro Fé, Verdade e Tolerância, ao descrever as religiões no mundo actual, Bento XVI sugere a forma como o homem moderno vê os teólogos:
"...o teólogo cristão surge como um dogmático estagnado, que não consegue libertar-se da sua teimosia, independentemente de se manifestar ao modo conflituoso dos antigos apologetas ou à maneira amável dos teólogos modernos que garante ao outro que ele já é cristão sem o saber" (p. 25)Neste pequeno excerto, encontro dois pontos de que discordo do líder da Igreja Católica.
O primeiro consiste em generalizar que todo o homem moderno tem má opinião sobre os teólogos cristãos. É como se o homem moderno, incapaz de distinguir diferentes perspectivas religiosas, considerasse a religião um fenómeno ultrapassado, um obstáculo ao desenvolvimento civilizacional. Por outras palavras, o homem moderno, por muitos elevados que sejam os seus valores éticos e morais, é visto como uma espécie de ateu radical. Como se todas as pessoas que não se identificam com o catolicismo inclusivista fossem apenas ateus radicais...
Poderíamos questionar até que ponto esta tentativa de tenta estereotipar as atitudes do homem moderno reflecte, no fundo, uma incapacidade para compreender um mundo em mudança. Na verdade, se o homem moderno fosse aquilo que Bento XVI descreve, então não se compreenderia o despertar do interesse pela religião no mundo ocidental.
Na minha opinião, o homem moderno tem consciência de que em todas as áreas da actividade humana existem diferentes tipos de pessoas. A criação de estereótipos é um entrave ao relacionamento e ao diálogo entre as pessoas. O homem moderno sabe disto; se não soubesse, então não seria moderno.
O segundo ponto em que discordo consiste em considerar como "amável" a postura do teólogo inclusivista. A esmagadora maioria das pessoas identifica-se com uma religião. Sugerir que a religião de uma pessoa é outra é atentar contra a sua identidade. Aos olhos de um cristão este tipo de comentário pode parecer um elogio; mas em muitos casos esse pretenso elogio pode ser entendido como uma atitude de sobranceria paternalista, ou mesmo, um insulto.
Parece-me que neste excerto as palavras de Bento XVI podiam ter sido mais cuidadosas. Na minha opinião, o amável teólogo não é aquele que tenta identificar os outros com a sua própria religião, mas sim aquele que respeita a diversidade e é sincero quando pretende conhecer as convicções do outro; o amável teólogo é aquele que percebe que a vida religiosa da humanidade não se esgota, nem se centra, numa igreja, mas sim na Palavra revelada; o amável teólogo até é capaz de ajudar pessoas de outras crenças a perceber a riqueza das suas religiões. Acima de tudo, o amável teólogo é capaz de mostrar mais do que simples tolerância para com os seus semelhantes; ele é capaz de mostrar amor por todos os seres humanos.
2 comentários:
Para quando concordares com o Senhor que está na fotografia? :-)
Joao Moutinho,
O diálogo inter-religioso também se faz com a identificação das diferenças. Seria ingenuidade reduzi-lo a uma mera afirmação de pontos de vista semelhantes ou equivalentes.
Sobre Bento XVI: discordo de muitascoisas que ele escreve, mas reconheço que é um teólogo notável.
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