sábado, 29 de dezembro de 2007

Feliz Ano Novo!

Kathleen Lehman assinou no Planet Baha’i um artigo muito interessante (e provocador!) sobre os Baha’is que celebram Ano Novo em 31 de Dezembro. Aqui fica a tradução.
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Feliz Ano Novo!

Não... a sério!

Como lidar o Ano Novo?
No que diz respeito à celebração do feriado cristão pelos crentes, é certamente preferível e mesmo altamente aconselhável que os amigos devem, em relação a estes, deixar de observar tais feriados como o Natal e o Ano Novo, e que tenham os seus encontros festivos desta natureza durante os Dias Intercalares e o Naw-Rúz ....
(Shoghi Effendi, Directives from the Guardian, p. 38)
Ummmmm...

Para ser franco, tenho imensos de problemas com o Naw-Rúz. Não me parece bem. Não parece Primavera, muito menos o início do ano. Embora os festivais do equinócio da Primavera seja oriundos da antiguidade remota, o equinócio da Primavera nunca me pareceu um bom momento para iniciar o ano. O que se pode começar nesse momento? Sendo eu oriunda do norte do país espero que, em Março, haja neve no chão (muito provavelmente haverá). A geada é uma possibilidade real e a terra dificilmente se pode trabalhar. Na minha cidade, em Março ainda é inverno independentemente do que as estrelas digam. Celebrar o Ano Novo no primeiro dia da Primavera é esquisito.

Vamos parar por momentos e olhar para o céu. Existem quatro eventos astronómicos que assinalam os quatro trimestres do ano - equinócio da primavera, solstício de verão, equinócio de outono e solstício de inverno. Conhecê-mo-los como os primeiros dias de cada estação; caem à volta do dia vinte e um de Março, Junho, Setembro e Dezembro, respectivamente. Mas estes eventos estão apenas ligeiramente relacionados com o ano agrícola; este depende de uma ampla variedade de factores, incluindo a latitude, o clima, a precipitação, e assim por diante.

Calendário MedievalOs antigos habitantes do Médio Oriente eram agricultores. Naturalmente, consideravam que o plantio atempado como sendo de imensa importância e fariam tudo para garantir o sucesso de uma colheita. Não é difícil perceber como a estação rapidamente atingiu um significado religioso. Resquícios desta tradição persistem em diversos dias sagrados que estão associados ao equinócio da Primavera – Páscoa cristã , Páscoa judaica, e Naw-Rúz entre estes. A Igreja Católica continuou a assinalar a Páscoa como início do ano até à Idade Média.

Por outro lado, os antigos britânicos consideravam que o Ano Novo ocorria no equinócio de Outono. Alem disso, existem quatro dias no calendário judaico designados como “ano novo”, mas o ano começa oficialmente no Rosh Hashaná, quando termina a época seca e a chuva permite a actividade agrícola. O Ano Novo chinês ocorre entre 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro. Há provavelmente muitos outros que não consigo indicar. O calendário islâmico é plenamente lunar, o calendário hebraico luni-solar e, como sabemos, o calendário Bahá'í é solar.

Feliz…ummmm… Ano Novo?

É fácil perceber por que razão os Bahá'ís não devem celebrar o Natal; presumivelmente é um dia sagrado cristão. Mas o Natal em si é uma síntese, pois colocou o nascimento de Cristo no mesmo dia que o Sol Invictus, o feriado do solstício dos antigos romanos. Da mesma forma, o Naw-Rúz Bahá’í traz consigo um dia sagrado da antiga da Mesopotmia, que provavelmente tinha muito a ver com o calendário agrícola

Sinceramente, eu realmente não compreendo a ênfase em evitar Ano Novo, excepto talvez para proteger os Bahá'ís da tentação de beber! Mas os Bahá'ís nos Estados Unidos também comemoram o Quatro de Julho, Dia de Acção de Graças, o Memorial Day, Halloween, os aniversários da família, e toda uma série de outros, desde o Dia dos Namorados até ao Dia do Trabalhador. O objectivo de evitar o feriado do Ano Novo será para impedir os Bahá'ís de celebrar o Ano Novo duas vezes? Então e todos os outros? Ainda posso celebrar o St. Patrick's Day? Pode um alemão posso celebrar o Oktoberfest em Cincinnati? É suposto que apenas devemos celebrar Será que apenas podemos celebrar os Dias Sagrados e não os feriados? Certamente que não estamos destinados a ser tristonhos, pois não?

Há aqui um aspecto cultural. A citação acima referida refere “Natal” e “Ano Novo” numa única frase. Quantos de nós associam a expressão “Feliz Ano Novo” com “Feliz Natal”? Apesar do Natal e do Ano Novo estarem associados por causa dos Doze Dias de Natal, que vão desde o dia 25 de Dezembro a 6 de Janeiro, estes realmente não estão relacionados entre si. A décima segunda noite – Dia de Reis no calendário da Igreja – é segundo a tradição, o momento da chegada dos Reis Magos.

Na Idade Média, as tradições da Saturnália de troca de oferendas e grandes festejos foram transferidas para a décima segunda noite, e assim permaneceram até ao Renascimento. Em última análise, o Ano Novo não tem nada a ver com o Natal; é uma questão de proximidade, não de natureza. O ano Romano começava em 1 de Janeiro. É lógico que os romanos daqueles tempos gostassem de celebrar o início do ano de muitas maneiras: ficando acordados até tarde, cantando, e beijando-se à meia-noite... O Naw-Rúz é assim, um costume estrangeiro, com formas estranhas de celebração (tabuleiros com sementes de erva germinada em casa, ovos, livros sagrados, etc.)

(...)

Para os romanos (isto é, os Ocidentais), o Ano Novo e outros dias feriados (S. Valentim, "o dia do amor"; St. Patrick's "O Dia para comemorar o ser irlandês", o 4 de Julho "ser americana", e tudo o que você tenha) são uma parte intrínseca da nossa cultura. Se nos propomos proteger a diversidade cultural, talvez deva deixar de Ano Novo em paz. Podemos ter ambas as coisas? Penso que sim. No fundo os católicos estão familiarizados com o conceito de Dia Santo (aqueles em que é exigida a presença na Missa). Quando eu era criança ia à missa no Dia de Todos os Santos, mas na véspera ia brincar ao Hallowen. Talvez possamos pensar no Ano Novo como pensamos o Natal; um dia para celebrar com aqueles que não celebram os nossos dias. Podemos divertir-nos do 31 de Dezembro e celebrar o 21 de Março.

É claro, este Ano Novo coisa é apenas uma das coisas estranhas do calendário Bahá'í que me custa compreender. O início do dia ao pôr do sol também é profundamente contra intuitivo. Há vinte e seis anos que sou Baha’i e quando tento explicar isto a outras pessoas digo que é semelhante ao “dia Judaico”. Uma amiga minha (que não é judia!) uma vez referiu-me que tudo isto depende se acreditamos que foi a luz ou as trevas que surgiram primeiro (livro de Genesis). Mas para os seres humanos faz pouco sentido começar o dia no momento de adormecer e não no momento de despertar. Se pudéssemos perguntar gatos e gambás, talvez eles nos ajudassem a esclarecer a questão. Nós acabámos com o problema ao decretar que o dia começa à meia-noite. Mas, para todos os efeitos práticos, o meu dia começa ao amanhecer.

Fim de Ano no Rio de Janeiro
Isto traz-nos de volta à nossa primeira pergunta: os Bahá'ís devem celebrar o Ano Novo no dia 1 de Janeiro? Eu celebro. Ficamos acordados até tarde, vemos as celebrações na Times Square, bebemos eggnog, cantamos e beijamo-nos à meia-noite. E no dia 21 de Março vamos a casa de alguém e recitamos orações.

Em última análise o meu argumento é o seguinte: o calendário bahá’í é um calendário religioso e o calendário gregoriano é um calendário secular. Ambos têm dias feriados. E no fundo, a escolha de um dia de “Ano Novo” é arbitrária. Talvez um dia alguém descubra como fundir as tradições Ocidentais e Persas (Zoroastriana?) ou rejeitem tudo isso e comecem algo de novo... Lembro ainda que Shoghi Effendi não disse como é que devíamos "ter... encontros estivos desta natureza". Parece-me que podemos ser flexíveis. Quer ficar acordado até à meia-noite de 31 de Dezembro? Porque não? Feliz Ano Novo.


Sugestão de Leitura:
O Sagrado e o Profano, Mircea Eliade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Em 1ºlugar quero desejar a todos os amigos Um óptimo ano de 2008.
Em segundo lugar permitam-me um breve comentário ao que está escrito no post. Assim o Natal cristão é uma falácia pois que Jesus nasceu em Março e não em Dezembro, mas como já havia, no ocidente, uma festividade "as Fogueiras de Beltane", nessa época e a igreja tinha de se adptar aos costumes ancestrais, decidiram transformar as festividades à deusa na festividade do nascimento de Jesus. Quanto ao Ano Novo, deveria ser celebrado em Março pois que quando nasce um Mensageiro começa uma nova era e, não é por acaso que o Naw-Ruz acontece em Março. O Ano Novo é gregoriano e não romano, visto que os romanos contavam os anos segundo os seus imperadores, isto é, quando César sobe ao poder começa um novo ciclo que duraria até ao próximo imperador e assim por adiante.
O facto de dia começar quando o sol se põe tem toda a lógica, pois o começar à meia noite é que não tem lógica nenhuma. Começar ao nascer do sol é também ainda mais ambiguo, assim o crepúsculo, tal como a madrugada é o anunciar de um novo dia.
Quanto ao perguntar-se se o que apareceu primeiro se foi a escuridão ou a luz, é óbvio que foi a escuridão pois só assim podia aparecer a luz, logo tem toda a razão de ser que o dia comece o anoitecer e termine com o pôr do sol, é o ciclo do renascimento.
Quanto à interpretação de Shogui Effendi, não me parece que seja uma interpretação dos Escritos Sagrados, mas sim uma opinião muito pessoal do Guardião.
Um Feliz Ano Novo para todos os amigos Cristãos e não Cristãos, por acaso a minha árvore de Natal está iluminada desde o dia 12 de Novembro, e já a tive iluminada a partir do dia 20 de Outubro.
Um abraço.