sexta-feira, 23 de maio de 2008

Aproveitamento Político

No decorrer da actuais eleições primárias nos Estados Unidos, o Senador Barack Obama afirmou a sua disponibilidade para dialogar com o presidente iraniano sem pré-condições e afirmou também a sua amizade por Israel. Estes comentários mereceram uma resposta de um editorial do jornal New York Sun, onde, entre outras coisas, se pode ler:
Ficaríamos felizes se o Sr. Obama se preocupasse um pouco menos com o voto Judaico na Florida e se preocupasse um pouco mais com o voto Bahá'í. A Liga Anti-Difamação emitiu um comunicado esta semana chamando a atenção para o facto de seis líderes baha’is no Irão terem sido presos no dia 14 de Maio e um sétimo estar detido desde Março. "As detenções dos líderes da Fé Bahá'í demonstram a gravidade da perda de liberdade religiosa básica e direitos humanos no Irão", afirma a LAD. O mesmo espírito que animou Judeus e Negros que trabalharam juntos pelos direitos civis no Sul, pode ser encontrado nos esforços para conseguir a liberdade para os povos do Médio Oriente de hoje. Se o Sr. Obama pretende pôr de lado esse espírito a favor de negociações directas com ditadores e uma realpolitic de aliança com os Estados do Golfo, ele estará a trair não apenas os seus apoiantes judeus americanos, mas também os povos de todas as fés por todo o mundo que têm esperança que a América defenda a liberdade.
É esquisito ver um editorial de um jornal americano onde a situação dos baha’is no Irão é usada como arma de arremesso político contra o Senador Barack Obama. Por um lado, os baha’is não se envolvem na política partidária; dificilmente se encontrará um baha'i com um crachá de um candidato ou de um partido (apesar de, por vezes, se poder perceber simpatias políticas pessoais de cada crente). Por outro lado, a Comunidade Bahá'í respeita e dialoga com todos os agentes políticos, mas não faz lobby junto de nenhum deles, declarando apoio a um candidato - ou partido - em troca de favores ou compromissos de diversa natureza.

Assim, por muito solidário que este editorialista se mostre para com os recentes desenvolvimentos da situação dos Bahá’ís no Irão, esta forma de relacionar o problema com o actual momento das relações entre os EUA e o Irão, e as eleições primárias americanas, pode prejudicar os Baha’is americanos (que podem vir a ser conotados como sendo anti-Obama) e inclusive para os próprios Baha’is iranianos.

A resposta dos media internacionais à detenção da liderança Bahá’í no Irão no passado dia 14 de Maio é um sinal claro da crescente visibilidade pública da Comunidade Baha'i. Os efeitos dessa maior exposição pública podem ser benéficos, mas também podem suscitar situações inesperadas, nomeadamente, aproveitamentos políticos (como é o caso deste editorial).

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NOTA: Pessoalmente concordo com a atitude do Senador Obama, quando afirmou que pretende dialogar com o presidente iraniano, sem qualquer pré-condições. Não entendo que isso seja uma traição a grupos sociais oprimidos no Irão, ou do Médio Oriente. E acredito que caso esse encontro se realize, o tema das minorias no Irão irá certamente ser mencionado.

5 comentários:

Anónimo disse...

Todas as pessoas de projeção e liderança no mundo deveriam se pronunciar sobre a absurda perseguição que está ocorrendo aos bahá'ís. O editorial está usando uma linguagem que o público leitor está acostumado a ler. Para a gravidades dos fatos é ainda melhor que a omissão.

Marco Oliveira disse...

Carlos,
Quando se tenta promover uma ideia, um produto ou uma causa, há quem acredite que "O importante é que falem de nós. Falem bem ou mal, mas falem".

No caso da promoção e divulgação da Fé Bahá’í – ou de um problema que os baha’is vivam (como é o caso da situação actual dos sete detidos no Irão) – penso que essa não é a melhor política. Mas isso pode acontecer. Apenas temos de estar atentos para perceber quando surgem situações destas onde existem aproveitamentos políticos, ou casos onde somos associados a ideias ou facções políticas.


Desta forma, posso concordar com a tua perspectiva, mas devemos estar atentos aos conteúdos destas notícias.

SAM disse...

Caro amigo, não crês que estás a exagerar um pouco na análise?

O que o editorial parece estar a dizer é que Obama deveria preocupar-se com as situações de direitos humanos ao invés de se preocupar com a demagogia pela conquista de votos. Não diz nem que ele é bom ou mau, ou se os bahá'ís são-lhe contrários ou favoráveis.

O que me preocupa é a constante menção da Anti-Difamation League, uma conhecida entidade sionista cuja defesa dos bahá'ís pode ser entendida de outra forma pelo reguime iraniano.

Por fim, uma nota pessoal. Pareceu-me que te contradizes quando dizes no texto "Pessoalmente concordo com a atitude do Senador Obama" e, posteriormente comentas, com aparente crítica e tristeza, que devemos estar atentos a "casos onde somos associados a ideias ou facções políticas"?

Um abraço.

Marco Oliveira disse...

Sam,
Só para enquadrar a situação: o New York Sun é um jornal ligado à direita norte-americana. Não admira que ataque candidatos democratas.

Parece-me claro que:
1. O Editorial é claramente anti-Obama.
2. O caso dos baha’is é usado contra ele.

Não percebo como se pode ignorar isto. Estas coisas não têm de estar escritas com todas as letras; bastam insinuações subtis.

O facto de concordar com algumas ideias do Senador Obama, não significa que o apoie politicamente. E só por ingenuidade se poderia pensar que a minha concordância com algumas das suas ideias represente um apoio da comunidade Baha’i à sua candidatura.

SAM disse...

Então, Marco, chegamos a pelo menos um consenso:

só por ingenuidade se poderia pensar que a discordância com algumas das suas ideias [do Obama, por um jornal que nada tem de bahá'í] represente um repúdio da comunidade Baha’i à sua candidatura ;)

Um abraço.