quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A auto-regulação dos Pitbulls

Tenho acompanhado a actual crise que vai abalando o sistema financeiro mundial. Naturalmente que estou apreensivo em relação ao futuro. Para além das notícias sobre os factos em si, tem surgido informações avulsas (como a divulgação dos prémios dos administradores das empresas que entraram em colapso) e alguns comentários que surpreendem pelo absurdo.

Chocam-me, sobretudo, os comentários de alguns académicos, aqueles que nunca trabalharam numa grande instituição financeira, vivem confortavelmente nos gabinetes e salas de aula das universidades, e não se cansam de divinizar as “leis do mercado” e demonizar tudo o que seja regulamentação e intervenção do Estado.

Estes teóricos do capitalismo ignoram, certamente, o que é trabalhar numa grande instituição financeira. Pelo teor das suas opiniões percebe-se que desconhecem o que é a chantagem exercida sobre funcionários para que trabalhem horas extra que não serão remuneradas, ignoram o que significa o atrasar de pagamentos a pequenos fornecedores, e até talvez prefiram ignorar todo o tipo de ilegalidades se vão fazendo para atrapalhar a concorrência (que no nosso país podem ir até à espionagem informática).

Para lá desta ignorância, também fico estupefacto a forma como repetidamente tentam evangelizar as virtudes das leis do mercado e da auto-regulamentação. Como se pode imaginar que pessoas sem escrúpulos (banqueiros gananciosos, como lhes chamaram analistas da BBC) interagindo entre si, possam, de alguma forma, auto-regular o funcionamento desses mercados onde actuam?

Quem trabalha (ou já trabalhou!) com (ou para) este mundo da finança sabe que nos últimos anos a competição desenfreada (e desregulada!) entre os grupos financeiros se assemelha a uma luta de pitbulls. É um combate onde um dos intervenientes acaba por ficar seriamente ferido, e eventualmente morre. Estas são as regras produzidas pela auto-regulamentação.

Tal como os pregadores de seitas fanáticas que se agarram obstinadamente aos seus dogmas e se recusam a encarar a realidade, também os apóstolos do capitalismo financeiro continuam a pregar as suas teorias económicas e preferem ignorar os frutos da tão glorificada auto-regulação do mercado: dezenas de milhares de desempregados... milhares de falências... Uma crise que há muito tempo se podia antecipar e cuja dimensão ainda não conseguimos perceber.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é.
E eu tenho pena mesmo é dos ex-comunistas que se converteram ao capitalismo e agora vêem mais uma vez os seus ideais a desmoronar-se.
Esses também são uns coitados!