O texto que se segue foi publicado no blog IranPressWatch e é uma tradução de um texto do Sr. Saeed Hanaee Kashan, um professor de literatura inglesa na Universidade de Shaheed Beheshti, no Irão.
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Na passada segunda-feira, dei uma aula às 8 horas da manhã. Os meus estudantes e eu liamos em voz alta um texto em inglês, quando, de repente notei que dois dos meus alunos, sem o livro de textos à sua frente, mantinham-se educadamente sentados com os braços cruzados sobre o peito e apenas olhavam para mim. Perguntei-lhe: «Esqueceram-se de trazer os textos para a aula?» Um deles respondeu: «Fomos expulsos da Universidade e apenas viemos despedir-nos de si».
Sem me controlar, perguntei: «Porquê?». Ele respondeu: «O que quer dizer com ‘Porquê?’ Está a perguntar porque é que fomos expulsos?» Talvez ele estivesse surpreendido por eu ter feito aquela pergunta; no fundo ele queria dizer: «Como é que você não sabe?!» Ele tentou explicar, mas interrompi-o: «Muito bem. Não é importante». Eu sabia o motivo da sua expulsão. Mas quando os vi na sala de aula pensei que o assunto tivesse sido resolvido de uma forma aceitável. Por isso hesitei e fiz a pergunta.
Quando a aula terminou, o mais velho veio ter comigo e disse-me: «Fomos expulsos porque somos Bahá’ís. Só lhe queria dizer que o motivo da nossa expulsão está nas nossas convicções religiosas e não se deve a nenhuma falha moral». Era um homem de meia-idade, quase calvo e parcialmente grisalho. Aparentava 45 anos de idade. O outro era uma mulher, com cerca de 20 anos e era a minha melhor aluna.
Uma ou duas semanas antes, quando recebi uma carta do gabinete de segurança da universidade ordenando-me que impedisse estes dois alunos de assistir às minhas aulas, imaginei todo o tipo de razões excepto a religião. Nunca pensei que aqueles dois estudantes fossem Baha’is. Na verdade, como é que uma pessoa pode saber isso? Não se pode descobrir as convicções religiosas de uma pessoa pela leitura das expressões faciais – a menos que alguém tenha inventado sinais que revelem a sua religião. Por isso a primeira coisa que me ocorreu era que tinham visto estes dois a falar muito entre si, ou que imaginassem outras coisas sobre o relacionamento entre os dois. E talvez os dois já tivessem ouvido essas teorias e não quisessem ter má reputação.
Perguntei-lhe: «Porque é que foi expulso após dois anos? Eles não sabiam que você era Baha’i e só agora é que descobriram? Você escondeu a sua religião das autoridades?»
Ele respondeu: «Não. Tenho tentado entrar na universidade nos últimos 25 anos. Em 2004, o presidente Khatami e o Sr. Mehrpour, insistiram na obediência à Constituição e conseguiram garantir os nossos direitos de ingressar em instituições de ensino superior. Mas agora, outras formas de direitos civis estão disponíveis para nós, excepto esta [i.e., a frequência de faculdades e universidades].»
Fiquei profundamente baralhado. Como era possível que alguém cuja família pratica abertamente [a religião] Baha’i, e que vive no meio de Muçulmanos, que durante 12 anos estuda na escola primária e secundária, lhe seja dito, quando atinge a universidade, que lhe é proibida mais escolaridade?! Como é que alguém pode ficar noivo, ter filhos, pagar impostos, fazer serviço militar, combater na guerra, mas não lhe é permitida a entrada na universidade?! Porque é que a universidade há-de ser o local onde algumas pessoas não têm o direito de entrar? E porque é que após todas estas lutas, após a invocação da Constituição que lhes garantiu o direito de frequentar universidades, esse direito foi suspenso?
Como resposta não tinha muito para lhe dizer, excepto expressar-lhe o meu pesar.
Alguns dias antes deste diálogo, almocei com um amigo e colega, um homem profundamente instruído, devoto e de proeminência reconhecida. Disse-me: «Alguns estudantes do Departamento vieram ter comigo e pediram que os professores liderassem a ajuda a estes dois estudantes». Foi este comentário que me fez compreender que o problema destes dois alunos não residia em algum comportamento imoral, mas tinha uma base religiosa.
O meu amigo prosseguiu: «Disse-lhe que não podia fazer nada. Mesmo em circunstâncias normais, estamos todos sob todos os tipos de pressões e ataques, e alguns sectores chamam-nos todos os nomes, como seculares, irreligiosos, etc, etc. Isso já são problemas suficientes para nós, e não precisamos que também nos rotulem como simpatizantes Baha’is. Isto é um assunto que tem de ser resolvido pela Lei Constituicional. 98% da população votou favoravelmente esta Constituição e segundo este texto apenas as religiões reconhecidas podem gozar de direitos civis. Não podemos agir contra o texto explícito da Constituição».
Ao ouvir estas palavras fiquei perplexo. E agitado, respondi: »Mas a Constituição não é assim; ela exige muita interpretação. Não foi o Ayatollah Khomeini que afirmou em Paris que os Marxistas gozariam de todos os direitos civis na Republica islâmica, e que o véu não era necessário para as mulheres? Não era o Ayatollah Motahari que queria levar professores Marxistas para as escolas religiosas? Não era o Dr. Shariati que fazia do versículo corânico “Não existe compulsão na religião” um slogan dos seus livros? E recentemente não foi o Ayatollah Montazeri que defendeu os direitos cívicos dos Baha’is? Os Estudantes Baha’is não chegaram às nossas universidades após 12 anos de estudos nas escolas primárias e secundárias da Republica Islâmica? As suas vidas e os seus bens não está protegidos pela lei?»
O meu amigo abanou afirmativamente a cabeça e disse: «Sim, o Ayatollah Montazeri recentemente defendeu-os». Mas continuou renitente; talvez os estudantes baha’is não tivesse identificado a sua religião nos impressos do exame nacional e a sua verdadeira religião apenas tivesse sido descoberta agora.
Mas ele não queria continuar a conversa e ficámos por ali.
Durante todo o dia fiquei ali a pensar que não devia deixar de dizer o que queria sobre “religião e liberdade”. Será que a religião e a liberdade não são sinónimos? Como podemos abordar este assunto e encontrar uma resposta?
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