Mário Soares, hoje no DN.
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Desde há décadas, na segunda metade do século passado, que nos meios progressistas se falava da necessidade de uma nova ordem económica mundial. Sempre em vão. Desta vez, em plena crise global - que não terminou, insisto -, no encontro dos G20 que teve lugar, há três dias, em Pittsburgh, na América do Norte, a convite de Barack Obama, mas à margem das Nações Unidas, note-se, Gordon Brown decretou, no encerramento da cimeira, que foi "criada uma nova ordem económica mundial para lidar com os problemas financeiros e económicos mundiais", que abrange ou coordena, ao que parece, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Que verdade existe nesta declaração surpreendente do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown? Responderia que tem uma parte ou meia verdade. O G20 tem vinte países membros dos mais ricos da terra, que representam 85% do PIB (produto interno bruto) mundial. É bastante considerável. Entraram os países emergentes: Brasil, Índia, China, para além da Rússia, Arábia Saudita, Argentina, Japão, África do Sul, Indonésia, México, Turquia, Austrália, e os tradicionais Canadá, Estados Unidos, União Europeia (França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha) e o presidente da Comissão Europeia. Foi um amplo alargamento, desde o G7 e, depois, G8. Precisamente mais doze países membros vindos dos cinco continentes, mas tendo como países islâmicos apenas a Arábia Saudita, uma teocracia plutocrática, a Indonésia e a Turquia. O que é manifestamente pouco, para uma organização que se propõe ser "o governo financeiro e económico do mundo". Faltam os outros cento e sessenta e tal países membros da ONU!
Claro que esta "nova ordem" não definiu com suficiente clareza quais as políticas financeiras e económicas susceptíveis de criar, na expressão de Obama, um novo paradigma de desenvolvimento. E não ultrapassou velhas divergências entre os países ditos desenvolvidos e os países emergentes. A economia de casino está longe de ter sido ultrapassada: não se reduziram os prémios bilionários e escandalosos dos gestores das grandes empresas (incluindo os bancos), nem se acabou, como se dizia, com os "paraísos fiscais", nem se criaram os mecanismos de fiscalização necessários para evitar as grandes corrupções. E, sem isso, não será possível ultrapassar a crise.
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