Artigo de Maryam Ishani, publicado ontem no Huffington Post. Os sombreados são da minha responsabilidade.
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Recentemente, sentei-me com um escritor iraniano bem sucedido, que reside em Nova York e Teerão. Ele escreve sobre a política do regime, o seu futuro e as possibilidades da democracia. Esperava visitar o Irão, a minha terra natal, para obter uma oportunidade de ver de perto o impacte dos motins após as eleições e se o movimento tinha, na verdade, sido completamente esmagado como parecia. Curiosa e ansiosa para cobrir uma história intensa e ver o país que expulsou a minha família há 20 anos atrás, pedi-lhe para nos encontrarmos num café da moda em NoLita.
Entre café e bolos, ele estava muito optimista de que eu não teria problemas para entrar e sair, mesmo como jornalista cobrindo as eleições, as coisas não eram tão más, disse. A sua escrita reflectia uma visão realista e positiva sobre o desenvolvimento político iraniano. "As coisas estão a mudar, o governo está a mudar ", ouvi-o a explicar mais de uma vez para multidões em sessões de autógrafos.
Eu não queria pressioná-lo muito, mas tinha uma preocupação específica: E se eu for Bahá'í?
"Pode-se provar que você é Bahá'í?" perguntou: "As autoridades no Irão conseguem fazer isso?"
Disse que uma vez tinha publicado uma história num boletim inter-religioso universitário, em que referi eu era um membro da fé Bahá'í.
"Então, não... você não pode ir. Retire esse artigo do servidor na faculdade antes de pensar em ir."
A ameaça que enfrentam os Bahá'ís do Irão esteve em lume brando até que nos últimos anos começou a ferver. No passado mês de Junho, as casas de 50 famílias Bahá'ís foram destruídas na cidade de Ivel, na província de Mazandaran. Um vídeo amador, filmado num telemóvel e colocado na internet mostrava casas sendo derrubadas e queimadas no norte da cidade.
Neste domingo, sete Bahá'ís desapareceram tranquilamente no éter de registo dos direitos humanos no Irão, sendo cada um condenado a 20 anos de prisão por praticarem de uma fé que não é reconhecida pela República Islâmica do Irão. Estes sete, em particular, representavam a liderança administrativa da comunidade no país.
Acusados de espionagem, actividades de propaganda contra a ordem islâmica, e estabelecimento de uma administração ilegal, entre outras alegações, eles (duas mulheres e cinco homens) foram detidos na prisão de Evin, em Teerão, desde Maio de 2008.
A sua prisão recebeu alguma atenção quando Roxanne Saberi referiu ter estado detida com as duas mulheres, Fariba Kamalabadi e Mahvash Sabet, do grupo de sete durante a sua própria prisão. Saberi descreveu que, enquanto era levada de Evin para ser libertada, chorou "lágrimas de tristeza por muitos prisioneiros inocentes que eu deixava para trás". Mas, infelizmente, com apenas seis breves sessões iniciadas em Janeiro e um acesso muito limitado aos seus advogados de defesa, o caso dos sete dirigentes Bahá'ís passou largamente despercebido nos relatórios importantes.
E isso é exactamente o que a liderança iraniana quer que aconteça. Com a atenção do mundo voltada para o seu programa nuclear e o seu relacionamento com grupos como o Hezbollah e o Hamas, não é de admirar que as políticas internas domésticas do Irão recebam poucas reacções.
No fim de contas, os Bahá'ís do Irão não seriam a primeira comunidade vulnerável, cuja situação seria sobreposta por questões políticas mundiais de maior dimensão. Mas a impunidade com que o Irão avança contra a liberdade religiosa levanta o alarme para a região como um todo. O Irão está ciente que tem a comunidade global dos direitos humanos num aperto de morte; as suas grandes campanhas ocupam o centro das atenções internacionais, permitindo-lhe continuar a avançar contra a diversidade religiosa na região, uma região onde a intolerância religiosa se tornou um barril de pólvora para a violência em maior escala.
A forma como a prisão, o julgamento e a condenação dos sete Bahá'ís em Teerão decorreu tranquilamente, confirma a confiança do Irão de que o mundo não conseguiu perceber que a injustiça que comete contra alguns está intrinsecamente relacionada com as ameaças intolerantes que faz exterior.
Enquanto os 300.000 membros sufocam lentamente na sua terra natal, apenas aqueles que conhecem o Irão moderno conhecem a realidade cruel que os Bahá'ís iranianos enfrentam.
Irão está a mudar, mas para os Bahá'ís do Irão, cujos adeptos defendem a não-violência e obediência ao governo, a mudança não chegará a tempo. E enquanto o mundo aguarda com optimismo de que as sanções dêem resultados, o Irão consegue continuar com o "business as usual".
"Na verdade, se eu fosse você, não iria ", advertiu o meu colega: "Se eles descobrem que você é Bahá'í e a prendem, não há realmente nada que alguém possa fazer por si."
Infelizmente, os sete condenados em Teerão, e seu governo, sabem muito bem como isso é verdade.
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