Excerto de uma entrevista de Louis Sako - arcebispo cristão caldeu de Kirkuk - ao jornal Público.
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O Iraque é identificado com o Paraíso da Bíblia. Hoje, tornou-se o inferno para os cristãos...
Sim. Desde 2003 até agora, 905 cristãos foram mortos e 54 igrejas foram atacadas. Não é só pelos cristãos, porque se falamos de quase mil cristãos mortos, há talvez 200 mil muçulmanos que foram mortos. E se metade dos cristãos deixaram o país, há também milhões de muçulmanos que saíram.
Foi todo o país que foi destruído. Só agora o Governo começou a formar a polícia, o exército, mas é muito frágil.
Vemos esses episódios de violência, perseguição, fuga, êxodo por todo o Médio Oriente, e também no Paquistão e na Índia... Onde está o problema?
É a religião, o facto de se fazer uma leitura muito estreita, muito literal da religião. Infelizmente não há exegése no islão: toma-se o Corão à letra. Os fundamentalistas são incapazes de se integrar na sociedde contemporânea, encontram justificações no Corão para atacar os outos porque têm a nostalgia do califado e do império muçulmano. Todos os que não estão com eles, sejam de outras religiões, sejam muçulmanos moderados e liberais, são atacados. Mas tudo parte de uma leitura fechada do Corão.
Qual é a solução?
É a separação da religião e do Estado, da política. São duas coisas separadas. Se no tempo de Maomé se aceitava uma nação liderada pelo profeta, que era também chefe de Estado, hoje isso é impossível.
É um pecado que a Igreja já pôs de lado?
Sim, os cristãos também fizeram disparates, também fizeram horrores ao longo da história. Mas isso é história. Hoje fizemos reformas, fizemos novas leituras do cristianismo, que não é política. A religião é qualquer coisa de pessoal. Os muçulmanos devem aprender dos cristãos como viver a religião, e separar o profano do sagrado, o religioso da política. A religião, em princípio, baseia-se na verdade e a política é diplomacia, os interesses, por vezes a mentira...
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