A vitalidade da crença dos homens em Deus está a morrer em todas as terras; nada que careça do seu remédio salutar poderá jamais recuperá-la. A corrosão da impiedade está a devorar os órgãos vitais da sociedade humana; que outra coisa, senão o Elixir da Sua Revelação potente pode purificá-la e reanimá-la? (Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, sec. XCIX)Uma grande parte das ideias dos "novos ateus" centra-se em torno da incapacidade da ciência para provar a existência de um Deus invisível.
Os ateus têm um bom argumento.
Christopher Hitchens |
Mas o argumento tem uma falha fatal, enraizada na natureza da própria ciência, que, por definição, é o estudo racional dos fenómenos observáveis.
A ciência não pode estudar o que não pode observar, ou, pelo menos, inferir a partir da observação. Os neurologistas podem dizer-nos, em condições controladas, quais as áreas do nosso cérebro que activam uma imagem de ressonância magnética quando sentimos certas emoções, mas nenhum cientista nos pode dizer o que nos leva a experimentar o fascínio, a criar arte, ou a amar alguém. Os nossos sentimentos, os nossos pensamentos, as nossas emoções mais elevadas, as nossas motivações altruístas, os nossos anseios espirituais, todos eles transcendem os limites fixos da ciência. A ciência pode medir alguns aspectos da vida; mas não pode incutir significado na vida.
A ciência, por outras palavras, está longe de ser omnipotente; tem os seus próprios limites. Nesta era de enorme progresso científico e descobertas maravilhosas, isso pode parecer difícil de acreditar. Mas até mesmo os cientistas mais perspicazes, reconhecem e aceitam as suas limitações; o conhecido cientista Max Planck disse: "A religião pertence ao reino que é inviolável perante a lei de causa e efeito e, portanto, fechado para a ciência."
Os ensinamentos Bahá’ís afirmam que ciência e religião, em última análise, andam lado a lado. Mas se reduzíssemos toda a existência humana a dados científicos, a nossa existência perderia toda a sua beleza e mistério. Deixaríamos de ser humanos.
No entanto, as escrituras Bahá'ís concordam com os novos ateus num aspecto importante:
Para todo o coração perspicaz e iluminado, é evidente que Deus, a Essência incognoscível, o Ser divino, está imensamente elevado acima todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, subida e descida, saída e regresso. Longe esteja da Sua glória que a língua humana celebre adequadamente o Seu louvor, ou o coração humano compreenda o Seu insondável mistério. Ele está, e sempre esteve, velado na eternidade antiga da Sua Essência, e permanecerá na Sua Realidade eternamente oculto da vista dos homens... Nenhum laço de relação directa pode, hipoteticamente, liga-Lo às Suas criaturas. Ele permanece enaltecido além e acima de toda a separação e união, toda a proximidade e afastamento. Nenhum sinal pode indicar a Sua presença ou a Sua ausência; visto que por uma palavra do Seu mandamento tudo o que está nos céus e na terra veio à existência, e pelo Seu desejo, que é em si próprio a Vontade Primaz, tudo saiu da não-existência absoluta para reino da existência, o mundo do visível. (Bahá'u'lláh, O Livro da Certeza, parag. 104).Assim, a Fé Bahá'í confirma o que alguns dos novos ateus dizem, que nenhum sinal pode indicar a presença ou ausência de Deus. Os Bahá’ís acreditam que compreendemos a presença de Deus através dos testemunhos dos Manifestantes e dos profetas, os fundadores das grandes religiões do mundo, os mensageiros que reflectem os atributos de Deus para o mundo, aqueles que Bahá'u'lláh designa como "Vice-Regentes" de Deus, os representantes nomeados pelo Criador:
Em todos os Livros Divinos a promessa da Presença Divina tem sido explicitamente registada. Por esta Presença entende-se a Presença d’Aquele que é a Nascente dos sinais, e o Lugar de Alvorada dos testemunhos claros, e a Manifestação dos Nomes Excelsos e, a Fonte dos atributos do Deus verdadeiro, enaltecida seja a Sua glória. Deus na Sua essência e no Seu próprio ser sempre foi invisível, inacessível e incognoscível. Por Presença, portanto, entende-se a presença d’Aquele que é o Seu Vice-Regente entre os homens. (Bahá'u'lláh, Epistle to the Son of the Wolf, pp. 118-119)Então isso significa que os profetas e os manifestantes representam as formas humanas de um Deus encarnado? Não, de forma alguma. As escrituras Bahá’ís afirmam:
A divindade atribuída a um tão grandioso Ser e a encarnação completa dos nomes e atributos de Deus numa tão excelsa Pessoa não deve, em nenhuma circunstância, ser mal entendida ou mal interpretada... o Deus racional mas invisível que, por muito que louvemos a divindade dos Seus Manifestantes na terra, não pode encarnar a Sua Realidade infinita, incognoscível, incorruptível e vasta na estrutura específica e limitada de um ser mortal. Na verdade, o Deus que pudesse encarnar a Sua própria realidade, à luz dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, cessaria imediatamente de ser Deus. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u'llah, p. 112)Este ensinamento Baha'i - de que Deus é incognoscível, inacessível, demasiado vasto e abrangente para qualquer mente humana O compreender - reflecte-se de forma notável na visão científica actual do universo conhecido. Não nos pede para abdicar da nossa inteligência, rejeitar a ciência ou repudiar a lógica. Em vez disso, a visão Bahá’í de Deus diz-nos que a revelação contínua do Criador nas grandes religiões deu-nos os dons de todos os nomes e atributos de Deus, como o amor, conhecimento, poder, soberania, domínio, misericórdia, sabedoria, glória, recompensa, e graça.
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Texto original: God Incarnate and the New Atheists (bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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