“Não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal”Esta frase da oração do “Pai Nosso” deve ser conhecida de todos os Cristãos. Também eu quando fui criado como Cristão me familiarizei com estas palavras. Mas o seu significado apenas o encontrei nas Escrituras Bahá’ís.
Para perceber o seu significado, primeiramente é necessário perceber que o sofrimento neste mundo físico tem duas origens: causas naturais e causas humanas. A primeira é o resultado de leis naturais e a que chamamos apenas “sofrimento”; a segunda é resultado do livre arbítrio do ser humano e a que chamaremos “mal”.
Então o que dizem as Escrituras Bahá’ís sobre o mal?
As Escrituras Bahá’ís respondem a esta pergunta complexa com dois tipos de respostas. No livro Respostas a Algumas Perguntas, ‘Abdu’l-Bahá aborda o tema do mal, começando por advertir que a explicação do assunto é difícil. Seguidamente, descreve o mal como uma ausência e não como uma presença:
“... as realidades intelectuais, tais como todas as qualidades e admiráveis perfeições do homem são puramente boas e existem. O mal é simplesmente a sua não existência… De modo idêntico, as realidades sensíveis são absolutamente boas, e o mal deve-se à sua não existência, o que significa que a cegueira é a ausência de visão, a surdez é ausência de audição, a pobreza é a ausência de riqueza…” (Some Answered Questions, ch. 74)‘Abdu’l-Bahá apresenta várias analogias para explicar a não-existência do mal. Ele afirma que a cegueira existe devido à falta de visão; de igual forma, o mal existe porque representa a ausência do bem; e a existência do mal é efémera e está confinada a este mundo.
“... tudo o que Deus criou, Ele criou bom. O mal é a não existência, tal como a morte é a ausência de vida… é evidente que todos os males retornam à não existência. O bem existe; o mal é não existente.” (Some Answered Questions, ch 74)
Será que isto significa que o mal não existe? Não. Isto significa que o mal não tem existência própria.
Isto é confuso? Vamos tentar outra analogia
Pensem na sombra de um objecto. Essa sombra apenas existe na área em que esse objecto obscurece a luz. A sombra não tem existência própria, porque se não existisse o objecto, a sombra também não existiria. Assim, podemos dizer que a sombra é não-existente; no entanto, não podemos negar a existência da sombra.
Noutra ocasião, ‘Abdu’l-Bahá apresentou outras respostas com uma perspectiva mais empírica e explicou alguns significados simbólicos:
“O mal é a imperfeição. O pecado é a condição do homem no mundo de natureza inferior, pois na natureza existem defeitos como a injustiça, a tirania, o ódio, a hostilidade, e o conflito… Através da educação devemos libertar-nos destas imperfeições.” (Paris Talks, p. 177)Uma das definições Bahá’ís sobre o mal tem uma perspectiva complexa e metafísica; a outra apresenta uma visão mais simples e empírica. Estas respostas, que se complementam, permitiram-me perceber melhor a frase da oração do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal”
"A realidade subjacente a esta questão é que o espírito mau, o Satã ou o que quer que seja interpretado como mal, refere-se à natureza inferior no homem. Esta natureza inferior é simbolizada de várias maneiras… Deus nunca criou um espírito mau; todas essas ideias e nomenclaturas são símbolos que expressam a natureza meramente humana ou terrena do homem. É uma condição essencial do solo que dele germinem espinhos, cardos e árvores infrutíferas. Relativamente falando, isto é mau; é simplesmente o mais baixo estado e o mais elementar produto da natureza." (The Promulgation of Universal Peace, p. 293)
Esta abordagem Bahá’í abriu-me as portas para um novo entendimento do problema do mal. Cristo aconselhou os Seus seguidores a pedir a Deus que nãos os deixasse cair na tentação de se reduzirem à sua natureza inferior. Se entendermos o mal como a nossa natureza inferior - vingança, violência, ódio e outras coisas do género - então percebemos que essas características nos podem reduzir a um nada absoluto.
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Versão em inglês: How Do You Define Evil? (bahaiteachings.org)
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