domingo, 7 de fevereiro de 2016

O virus Zika e a saúde pública num Mundo Global

Por David Langness.


Há um novo vírus a assustar o mundo - o Zika - e, como consequência, uma nova emergência de saúde pública internacional.

Tendo começado a ser transmitido por mosquitos, o vírus Zika teve provavelmente origem nos climas tropicais quentes da África e Ásia. Talvez seja surpresa para alguns leitores saber que o vírus não é novo e que existe há décadas. Inicialmente isolado a partir de um macaco-reso na floresta de Zika (que significa "demasiado crescido", na língua Luganda) no Uganda, em 1947, o vírus provavelmente espalhou-se entre os seres humanos muito antes disso. Como sabemos? Um estudo de 1952 na Índia mostrou que o sistema imunológico de muitas pessoas respondia ao vírus, o que indica que ele se tinha disseminado amplamente entre as populações humanas há já algum tempo.

Possivelmente não foi detectado durante muito tempo, porque a doença que o vírus Zika produz, a chamada febre Zika, apenas provoca sintomas leves - dores de cabeça, erupções cutâneas, uma temperatura ligeiramente elevada - que regra geral desaparecem no espaço de uma semana. A maioria das pessoas - cerca de 80% que contraem o vírus - não tem qualquer sintoma. Não se conhece qualquer fatalidade resultante da doença, e isso é outra razão pela qual o vírus se manteve relativamente desconhecido e pouco estudado; e é por isso porque que ainda não existe qualquer vacina contra o Zika.
Informações sobre o virus Zika (clique na imagem para ampliar)
(imagem de http://www.folhape.com.br/)
Agora, porém, devido aos muitos milhares de casos de malformações em recém-nascidos (como a microcefalia) que podem estar ligados ao vírus, e por causa das novas provas que sugerem que o vírus pode também pode ser sexualmente transmissível, algumas das organizações mundiais de saúde emitiram um alerta sem precedentes: as mulheres grávidas, ou aquelas que podem ficar grávidas e os seus parceiros, devem evitar viajar para as regiões tropicais onde florescem os mosquitos activos durante o dia, como o do tipo Aedes. Os governos têm avisado que as mulheres em idade fértil que vivem nessas regiões para evitar engravidar, pelo menos até que seja desenvolvida uma vacina. Mas quanto tempo é que isso vai demorar? Ninguém sabe; mas as estimativas variam entre dois anos e uma década antes que uma vacina deste tipo possa ficar amplamente disponível.

Isso nunca aconteceu antes. Com outras doenças mortais como a SIDA/AIDS e o Ébola, as organizações de saúde emitiram avisos de advertência, mas nenhum vírus alguma vez os levou a dizer às mulheres que parassem de ter filhos. Nem sequer sabemos se é possível interromper o ciclo natural de reprodução do ser humano. Em muitos dos países onde Zika se espalhou, o controle da natalidade não está amplamente disponível, não é acessível ou culturalmente aceite.

Especialistas em saúde pública temem que a situação possa ficar muito pior. Como nosso clima continua a aquecer, o habitat natural dos mosquitos que transmitem Zika tem aumentado, e continuará a aumentar. Esses mosquitos passaram de zonas tropicais para as mais temperadas como o sul dos Estados Unidos. Um dos muitos efeitos imprevistos das alterações climáticas, a propagação da doença em áreas cada vez maiores será crescentemente desafiadora e exigirá uma resposta global a uma só voz e um plano de acção para novas pandemias virais semelhantes ao Zika. À medida que o mundo aquece, que os vírus sofrem mutações e se espalham, e que microorganismos resistentes a antibióticos surgem mais forte e mais difíceis de combater, muitas destas novas potenciais pandemias vão ameaçar-nos a todos . Assim, o vírus Zika é apenas uma entre muitas doenças anteriormente desconhecidas que nos próximos anos ameaçarão a humanidade, e que exigirão uma reacção rápida, enérgica e simultânea de todo o planeta.

Hoje, a comunidade internacional precisa de um mecanismo global bem coordenado e eficiente para responder a esses tremendos desafios de saúde pública actuais e futuros. A Organização Mundial da Saúde e outras agências oficiais médicas e de saúde pública, a nível nacional e internacional, não têm financiamento suficiente, pessoal ou recursos de investigação - que certamente necessitam e poderiam desenvolver no âmbito de um sistema de governação mundial mais unificado, melhor coordenado e mais cooperativo. Os ensinamentos Bahá'ís defendem esse empreendimento global e unificado de saúde pública:
Pedimos a Deus para dotar as almas humanas com a justiça, para que possam ser justos e se possam esforçar para proporcionar o conforto a todos, para que cada membro da humanidade possa passar a sua vida no máximo conforto e bem-estar. Então este mundo material tornar-se-á o próprio paraíso do Reino, esta terra elementar estará num estado celestial e todos os servos de Deus viverão na alegria, felicidade e alegria extremas...

Tudo o que é necessário para a saúde pública deve ser providenciado. Devem-se secar os pântanos, deve-se levar a água; tudo o que é necessário para a saúde pública. (
'Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 10, pp 118-119)
Este foco na saúde de todas as pessoas está numa longa lista de despesas públicas globais necessárias que os ensinamentos Bahá'ís defendem, incluindo a redução da pobreza, cuidados para doentes e órfãos, a organização e o financiamento das escolas públicas de ensino obrigatório universal e a prestação de serviços para surdos e cegos. No futuro estado pacífico e unificado da sociedade humana que os ensinamentos Bahá'ís antevêem, os recursos do mundo irão garantir o âmbito global desses objectivos de importância vital:
As rivalidades nacionais, os ódios e as intrigas cessarão e a animosidade e o preconceito raciais serão substituídos pela amizade, compreensão e cooperação raciais. As causas de conflitos religiosos serão eliminados permanentemente, barreiras e restrições económicas serão completamente abolidas, e a desmesurada diferença entre as classes será obliterada. A destituição por um lado, e excessiva acumulação de bens por outro lado, irá desaparecer. A enorme energia que se gasta e desperdiça na guerra, seja económica ou política, será consagrada a objectivos, como o alargamento do alcance das invenções humanas e do desenvolvimento técnico, ao aumento da produtividade da humanidade, ao extermínio da doença, à extensão de investigação científica, à melhoria do nível de saúde física, ao aperfeiçoamento e refinamento do cérebro humano, à exploração dos recursos insuspeitos e não utilizados do planeta, ao prolongamento da vida humana e à promoção de qualquer outro meio que estimule a vida intelectual, moral e espiritual de toda a raça humana. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, p. 203)
Para elevar o nível de saúde física e exterminar a doença, o mundo precisa de uma autoridade de saúde global melhor financiada e melhor organizada, como parte de um modelo democrático de governação mundial. Se começarmos a criar agora os alicerces desse trabalho, podemos conseguir exterminar a próxima pandemia planetária antes que ela provoque um sofrimento humano incalculável.

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Texto original: The Zika Virus, Public Health and One World (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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