Teocracia - (1) preponderância do clero no governo de uma nação; (2) forma de governo em que o poder político, encarado como uma emanação de Deus, é exercido por uma casta sacerdotal, por um soberano considerado a encarnação da divindade ou por alguém que se acredita ter sido por ela escolhido
Há algumas semanas atrás, um website chamado Common Ground publicou um dos nossos textos do www.bahaiteachings.org e um leitor perguntou: "A Fé Bahá'í é uma teocracia?"
A sua preocupação, exposta em vários comentários, centrava-se na forma como a Fé Bahá'í surgiu historicamente a partir das suas origens islâmicas. Várias das suas perguntas também se baseavam na convicção, incorrectamente aceite no Ocidente, de que todas as sociedades Muçulmanas têm governos teocráticos. Ele perguntou: "No futuro, quando a Fé Bahá'í se expandir ainda mais do que hoje, irá assumir o controlo do governo? E que tipo de governo vão os Bahá'ís construir?" E também questionou "E as leis Bahá'ís? Serão aplicadas a toda a gente numa sociedade predominantemente Bahá'í?"
Vamos tentar responder a estas perguntas perspicazes e importantes.
Mas antes de aprofundarmos estes temas e procurar algumas respostas, gostaria de deixar um aviso - não existem especialistas sobre estas matérias. Eu sou apenas um Bahá'í, e estas são apenas as minhas humildes opiniões sobre os ensinamentos Bahá'ís. A Fé Bahá'í não tem clero, e toda a sua liderança administrativa é eleita democraticamente, o que significa que não há "especialistas Bahá'ís" ou pessoas com qualquer autoridade sobre outros Bahá'ís. Assim, encorajo o(a) leitor(a) a investigar este assunto complexo e formar as suas próprias opiniões.
Quem lê este site (www.bahaiteachings.org) com regularidade, sabe que a Fé Bahá'í, de acordo com o texto de referência The World’s Religions in Figures (“As Religiões do Mundo em Números”) "é a única religião que têm crescido mais rapidamente em todas as regiões das Nações Unidas ao longo dos últimos 100 anos passados do que a população em geral; assim, [a Fé] Bahá'í foi a religião com crescimento mais rápido entre 1910 e 2010, crescendo pelo menos duas vezes mais rápido que a população de quase todas as regiões da ONU".
Apesar desse crescimento, os Bahá'ís ainda representam apenas uma pequena fracção da população total global, com estimativas que variam entre 5 e 8 milhões de aderentes em todo o mundo - talvez um décimo de um por cento da humanidade. Mas com a expansão contínua - o que certamente ocorreu com as anteriores religiões mundiais em etapas comparáveis do seu desenvolvimento - esses números podem subir muito rapidamente. Considerando essa possibilidade futura, as dúvidas sobre a Fé Bahá'í e a sua filosofia e estilo de governação começam a assumir uma nova importância. Mas vamos explorar algumas informações básicas antes de tentar responder.
Em primeiro lugar, a Fé Bahá'í baseia todos os seus princípios e leis nos ensinamentos de Bahá'u'lláh, o seu Profeta-Fundador. Os Bahá'ís, como o nome sugere, são seguidores de Bahá'u'lláh, e seguem as orientações espirituais que Ele ensinou. Bahá'u'lláh escreveu mais de cem volumes, incluindo um grande livro de leis chamado o Kitab-i-Aqdas (O Livro Sacratíssimo) e muitos outros: O Livro da Certeza, As Palavras Ocultas, os Sete Vales, etc., etc. A Fé Bahá'í não tem falta de orientações autorizadas do seu Fundador.
Em segundo lugar, quando Bahá'u'lláh faleceu em 1892, Ele deixou um testamento detalhado, uma aliança em que enunciava claramente quem seria o Seu sucessor - o filho mais velho 'Abdu'l-Bahá, que Ele nomeou o Centro da Aliança e o Exemplo dos ensinamentos Bahá'ís. 'Abdu'l-Baha orientou sabiamente o desenvolvimento dos Bahá'ís e a sua Fé nos 29 anos seguintes, até à sua morte em 1921.
Em terceiro lugar, quando Abdu'l-Bahá faleceu, Ele deixou um documento com a Sua Vontade e Testamento em que ampliou de forma clara as provisões da Aliança Bahá'í, e a liderança da Fé Bahá'í, para o Seu neto, Shoghi Effendi. 'Abdu'l-Bahá nomeou-o como o Guardião, um título que reflectia a autoridade de Shoghi Effendi para orientar os Bahá'ís, proteger a Fé contra o facciosismo, e interpretar as escrituras de 'Abdu'l-Bahá e de Bahá'u'lláh.
Membros da primeira Casa Universal de Justiça |
A linha ininterrupta de orientação Bahá'í também teve outros efeitos positivos. Principalmente, impediu o desenvolvimento de um corpo de tradições orais (e sem fundamento nas Escrituras), e contribuiu para um nível sem precedentes de clareza e precisão nas leis Bahá'ís - especialmente quando se trata do tema da política e do governo.
Bahá'u'lláh deu o tom, o espírito e a substância da visão Bahá'í de envolvimento na política quando Se dirigiu aos Reis e governantes do mundo, dizendo:
Pela rectidão de Deus! Não é Nosso desejo deitar as mãos aos vossos reinos. A Nossa missão é capturar e possuir os corações dos homens. Neles se fixam os olhos de Baha. Disso dá testemunho o Reino de Nomes, se apenas o pudésseis compreender. (Bahá'u'lláh, O Kitab-i-Aqdas, parag. 83)Este poderoso tema - que o limite da religião, o coração humano, deve permanecer afastado do âmbito da política e da autoridade temporal - é apenas um dos muitos exemplos existentes nos ensinamentos Bahá'ís que separa a lei religiosa dos sistemas sociais e políticos que ela serve.
Ninguém deve argumentar com aqueles que exercem autoridade sobre o povo; deixai-lhes o que é deles, e volvei a vossa atenção para o coração dos homens. (Bahá'u'lláh, O Kitab-i-Aqdas, parag. 95)
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Texto original: Baha’is and Theocracy (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
1 comentário:
No entanto, o autor aparentemente não respondeu diretamente às perguntas colocadas no início do artigo pelo leitor mencionado; limitou-se a dar uma visão geral do funcionamento da nossa religião, muito bem exlicitada por sinal, mas não foi bem ao cerne da questão.
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