terça-feira, 28 de junho de 2016

O Brexit, a União Europeia, a Imigração e a Xenofobia

Por David Langness.


xenofobia: [De xeno + fobia] antipatia ou aversão pelas pessoas ou coisas estrangeiras; preconceito ou atitude hostil contra o que é de outro país
A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia gerou um enorme fluxo de opiniões e protestos. Nesta série de artigos, vamos afastar-nos das consequências políticas e económicas e olhar de forma mais ampla para os conceitos que estão por detrás da União; examinaremos as causas subjacentes a esta cisão internacional tão mediáticas e procuraremos as suas consequências globais a longo prazo.

Para quem não acompanhou o desenvolvimento da União Europeia (UE) - aquilo a que Winston Churchil chamou “os Estados Unidos da Europa” - aqui fica um breve resumo de factos históricos. O nacionalismo maligno, a xenofobia extremista e o genocídio catastrófico da 2ª Guerra Mundial convenceram muitos líderes europeus do pós-guerra que uma confederação de nações europeias poderia ajudar a impedir uma futura devastação se ocorresse outra guerra na Europa. França e Alemanha, inimigas de longa data, lideraram o processo. Com esse objectivo, em 1948, o Congresso de Haia formou o Movimento Internacional Europeu - o primeiro antecessor da UE. Depois de assinarem uma série de acordos intermédios sobre comércio e trabalho, seis países – Bélgica, França, Itália, Países Baixos, Luxemburgo e Alemanha Ocidental – assinaram o Tratado de Roma em 1957, que criou a Comunidade Económica Europeia (CEE). Dezasseis anos mais tarde, aos seis fundadores originais juntaram-se a Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido. Quando a própria União Europeia foi criada formalmente, em 1993 pelo Tratado de Maastricht, já incluía quinze países como membros oficiais. A sua visão era: uma federação europeia unida, sem as velhas fronteiras e os velhos ódios, e concebida, segundo as palavras de um membro fundador, para “para tornar a guerra impensável e materialmente impossível”.

Agora, e apesar disso, o Reino Unido decidiu sair da União Europeia.

Muitos factores – económicos, políticos e sociais - convergiram para tornar possível o voto no chamado “Brexit”, no Reino Unido. Analistas, especialistas de sondagens e académicos de diferentes partes do espectro político, identificaram o principal factor determinante na vitória da campanha do “Leave” (Sair): a imigração.

Para perceber como a política de imigração conseguiu ter um impacto tão grande nos eleitores do Reino Unido, temos que recordar o que aconteceu. Antes da criação da UE em 1993, a imigração para o Reino Unido estava num nível mínimo histórico, com menos de 100.000 pessoas a entrar anualmente no país que tinha mais de mais de 50 milhões de habitantes. Políticas fortemente restritivas de imigração mantinham esse número muito baixo.

Mas a União Europeia mudou as coisas. A partir de 1993, quando as regras da UE entraram em vigor, ser membro da União Europeia significava que os Estados membros não podiam impedir a imigração de outros Estados membros, como eles faziam no passado. Em vez de um conjunto de países totalmente soberanos com as suas próprias fronteiras e diferentes políticas de imigração, a UE seguiu o conselho de Churchill e tornou os países europeus mais semelhantes aos estados federados nos Estados Unidos - pelo menos no que respeita ao comércio, à economia e à migração. Com um passaporte da UE e sem grandes restrições nas fronteiras, os cidadãos da UE podiam viajar e viver nas nações, tão facilmente quanto os americanos podem mudar-se do Alabama para a Califórnia.

Como resultado, os investigadores da Universidade de Oxford descobriram, a população estrangeira do Reino Unido expandiu-se rapidamente, passando de 3,8 milhões em 1993 para 8,3 milhões em 2014. Nem toda a imigração vinha de outras nações da União Europeia - na verdade, a maioria vinha da Índia e do Paquistão, tradicionalmente o maior grupo de cidadãos nascidos fora do Reino Unido. Além disso, a expansão pós-comunista da UE ao incluir antigas nações do Bloco de Leste fez com que muitos imigrantes pobres chegassem em Inglaterra, Irlanda do Norte e Escócia. A Polónia, por exemplo, tornou-se rapidamente a segunda maior fonte imigrantes do Reino Unido.

Como resultado, a sociedade britânica começou a ser muito mais diversificada, e os sentimentos em alguns sectores do público começou a mudar. Estes factores e a recessão global de 2008 logo criaram no Reino Unido um estado de espírito provinciano, anti-imigrante, que, em seguida, se tornou cada vez mais xenófobo. Nas últimas duas décadas, as sondagens mostraram que os níveis de preocupação britânica com "imigração e relações raciais" passaram irrelevantes para cerca de 45 por cento. Grandes e crescentes populações eleitores no Reino Unido, e noutros países da UE, como a França e a Alemanha começaram a exigir níveis de imigração mais baixos, juntamente com menos "controle" do governo da União Europeia, em Bruxelas. Políticos demagogos anti-imigração, em nações ocidentais, incluindo fora da UE, têm conseguido um número crescente de votos com a promessa de impedir a imigração. Como a imigração cresce, o mesmo acontece com a reacção.

Este tipo de xenofobia e preconceito anti-imigrante, especialmente quando explorados por políticos ambiciosos e sem escrúpulos, podem ter resultados em referendos nacionais como o voto “Brexit”. Pense nisso: a maioria dos cidadãos do Reino Unido, na verdade, votou a favor da insegurança económica e do risco de recessão para acabar com a imigração.

Os Bahá’ís acreditam que este tipo de preconceito e medo irracional - a própria definição de xenofobia - não tem lugar no mundo moderno. Os ensinamentos Bahá’ís exigem o fim de toda a xenofobia, hostilidade a imigrantes, e medo:
Ó povos do mundo! O Sol da Verdade levantou-se para iluminar toda a terra, e espiritualizar a comunidade do homem. Louváveis são os seus resultados e os seus frutos, abundantes são as santas evidências que resultam desta graça. Isto é pura misericórdia e a mais pura generosidade; é luz para o mundo e todos os seus povos; é harmonia e camaradagem, amor e solidariedade; na verdade, é compaixão e unidade, e deixarmos de nos vermos como estranhos; é ser uno, em dignidade e liberdade completas, com todos na terra. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, p. 1)
À luz deste princípio Bahá’í fundamental, vamos apresentar alguns artigos para explorar o que é necessário fazer, numa sociedade tão afectada pela xenofobia e pelo preconceito e conseguir verdadeiramente “espiritualizar a comunidade do homem.”

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Texto original: Brexit, the EU, Immigration and Xenophobia (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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