Você já ouviu este conselho: vivemos num mundo religioso diversificado; por isso, precisamos de tolerância. Mas a tolerância será suficiente?
Para saber, vamos ver a definição da palavra no dicionário:
Tolerância: acto de admitir sem reacção agressiva ou defensiva; atitude que consiste em deixar aos outros a liberdade de exprimirem opiniões divergentes e de actuarem em conformidade com tais opiniões; aceitação; possibilidade que se dá a cada um de praticar a religião que professa.Parece inofensivo, certo? Afinal, porque não haveríamos de tolerar as crenças dos outros? Bem, para entender o que realmente significa a tolerância, podemos olhar para a origem desta palavra, que vem do latim tolerare, que significa "suportar":
Tolerar: suportar (coisa desagradável); aceitar, admitir ou consentir (algo com que não se concorda); aceitar e conviver com (a diferença de ideias, de comportamentos, etc.) sem se sentir ameaçadoDeste modo, a tolerância religiosa pode significar ignorar e continuar a não gostar das outras religiões e dos seus seguidores, enquanto se suporta a sua existência. Não é uma maneira muito apelativa para nos relacionarmos com os outros, pois não?
Diana Eck, do Harvard Pluralism Center, tem a seguinte opinião sobre a tolerância religiosa:
... o pluralismo não é apenas tolerância, mas a busca activa da compreensão através das linhas de diferença. A tolerância é uma virtude pública necessária, mas não exige que Cristãos e Muçulmanos, Hindus, Judeus e secularistas fervorosos se conheçam uns aos outros. A tolerância é uma base muito frágil para um mundo de diferença e proximidade religiosa. Não faz nada para remover a nossa ignorância sobre os outros, permitindo a criação de estereótipos, meias-verdades e medos que subjacentes velhos padrões de divisão e violência. No mundo em que vivemos hoje, a nossa ignorância sobre os outros terá um custo cada vez maior.Certamente que quando existe muita diversidade religiosa, e se simplesmente nos toleramos uns aos outros, isso pode parecer uma espécie de paz, amor e compreensão - à distância. Mas visto mais de perto, isso muitas vezes significa que criamos guetos religiosos, com linhas de separação rígidas que nos dividem imediatamente. Isso significa que realmente não conseguimos grande coisa na forma como compreendemos e construímos pontes reais entre religiões.
Quer testar pessoalmente esta ideia? Pergunte a si próprio: Quando foi a última vez que estive com uma pessoa ou um grupo de pessoas pertencentes a um sistema de crença totalmente diferente do meu?
Albaneses em fuga, no Kosovo, 1999. |
Portanto, se membros de diferentes confissões religiosas quiserem encontrar-se para dialogar, falar das suas diferentes crenças e resolver os seus conflitos, precisarão de definir um terreno comum.
Como fazemos isso? Primeiro, com o conhecimento.
O que é que você sabe sobre os seus vizinhos budistas ou hindus ou muçulmanos - e sobre as suas crenças? Você já passou algum tempo investigando as outras religiões além da sua? Alguma vez foi a um culto de adoração ou reunião de outra Fé? Alguma vez leu algum livro sobre as outras religiões, ou sabe apenas aquilo que os meios de comunicação lhe dizem? Você tem relações de amizade frutíferas com alguém fora dos seus grupos familiares, culturais ou religiosos?
Adquirir conhecimentos sobre outras crenças não é difícil - agora, mais do que em qualquer outro momento da história, todos nós temos acesso a uma enorme riqueza de conhecimento sobre as outras religiões e crenças. Esse rico repositório de conhecimento - em escolas, bibliotecas, casas de culto, grupos comunitários e meios on-line - significa que não temos desculpas para continuar ignorantes em relação à religião.
Os ensinamentos Bahá’ís pedem a cada um de nós que se torne um "investigador da realidade" explorando activamente e aprendendo sobre as crenças dos outros:
Bahá'u'lláh incita continuamente o homem a libertar-se das superstições e tradições do passado e a tornar-se um investigador da realidade, pois assim verá que Deus revelou a Sua luz muitas vezes para iluminar a humanidade no caminho da evolução, em vários países e através de muitos e diferentes profetas, mestres e sábios. ('Abdu'l-Bahá, Divine Philosophy, pp. 8-9)Qual é a única forma de ir além da simples tolerância? Para transcender a mera tolerância, é necessário o conhecimento:
... a religião de Deus é a promotora da verdade, a criadora da ciência e da aprendizagem, a defensora do conhecimento, a civilizadora da raça humana, a descobridora dos segredos da existência e a iluminadora dos horizontes do mundo. ... aos olhos de Deus o conhecimento é a maior virtude humana e a mais nobre perfeição humana. ... Pois o conhecimento é luz, vida, felicidade, perfeição e beleza, e faz com que a alma se aproxime do limiar divino. É a honra e glória do reino humano e a maior das dádivas de Deus. O conhecimento é idêntico à orientação, e a ignorância é a essência do erro.Quando se começa a adquirir algum conhecimento sobre os sistemas de crenças do mundo, percebemos - tal como os ensinamentos Bahá'ís sugerem - que o conhecimento é luz, vida, felicidade, perfeição e beleza.
Felizes os que passam os seus dias na busca do conhecimento, na descoberta dos segredos do universo e na meticulosa investigação da verdade! ('Abdu'l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 154-155)
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Texto original: Why Religious Tolerance Isn’t Enough (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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