Durante milénios, os seres humanos sonharam com a paz universal. Desejaram-na há tanto tempo; e, no entanto, ela ainda não surgiu. E por causa disso, muitas pessoas perderam a esperança.
É triste, não é verdade? Em muitos aspectos, até a possibilidade de uma paz futura se tornou impensável – quando foi a última vez que o leitor pensou nessa ideia? Como resultado, houve quem concluísse que a paz mundial representa uma utopia fantasista inatingível. E pelo facto de os seres humanos terem um passado histórico de guerra e violência, estamos condenados eternamente a viver entre conflitos sangrentos. Somos criaturas belicosas, prossegue o raciocínio, e por isso teremos sempre guerra.
Esta conclusão simplista tem sido tema de centenas de livros, artigos e investigações científicas, muitos deles concluindo que os seres humanos estão geneticamente programados para ser agressivos, violentos e combativos.
O psiquiatra Sigmund Freud defendeu esta ideia quando afirmou que todos os seres têm consigo um reservatório de “energia agressiva” que emerge naturalmente como violência.
Mas esta ideia elementar - de que os seres humanos são criaturas inerentemente violentas - tem sido enfatizada e apoiada por alguns cientistas e filósofos desde há muito tempo. Um artigo recente na revista The National Interest, intitulado What Our Primate Relatives Say About War (“O que dizem os nossos Parentes Primatas sobre a Guerra”) afirma que nos guerreamos e nos matámos durante tanto tempo “porque somos humanos”.
Outro artigo no New Scientist defende que a guerra tem “desempenhado um papel integrante na nossa evolução” e assume como um dado adquirido que a guerra estará sempre connosco. Até o respeitável jornal de investigação Science afirmou em 2016 que “a guerra era tão comum nas sociedades de caçadores-colectores que se tornou um importante elemento de pressão evolutiva entre os primeiros Homo Sapiens”.
Poderíamos resumir esta filosofia numa frase: a guerra é inevitável e sempre será porque está gravada no nosso ADN, na nossa natureza humana elementar.
Quem acredita nisso?
Os ensinamentos Bahá’ís não acreditam. Os Bahá’ís entendem que a paz não é uma ilusão: pelo contrário, os Bahá’ís acreditam que a nova revelação de Bahá’u’lláh pôs em marcha um plano de paz amplo e prático que agora está a eliminar a guerra de forma gradual e permanente. Os Bahá’ís reconhecem que os impulsos humanos violentos provocaram a guerra no passado, mas têm fé que a paz um dia se tornará uma realidade global:
A paz universal é assegurada por Bahá’u’lláh como uma realização fundamental da religião de Deus – que a paz prevaleça entre nações, governos e povos, entre religiões, raças e todas as condições da humanidade. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 455)Tem dúvidas? Então saiba que milhões de pessoas em todo o mundo, em todos os continentes, culturas e civilizações estão a pôr em prática diariamente o plano de paz Bahá’í.
Isto representa algo inteiramente novo. Pela primeira vez na história humana, foi criada uma força pacificadora global com bases locais – um movimento de massas não-violento, unificado, para pôr fim à guerra. O leitor pode ainda não ter reparado neste movimento pois as suas tácticas e técnicas são tranquilamente pacíficas; mas esse movimento – a causa Bahá’í – reuniu um exército de seguidores dedicados, um facto sem precedentes nas narrativas da nossa espécie.
Assim, nesta série de ensaios vamos analisar o plano de paz Bahá’í de todas as perspectivas possíveis, tentar perceber o seu âmbito e compreender os seus princípios fundamentais e propósito derradeiro.
Mas antes disso, vamos reflectir sobre alguns excertos dos Escrituras Bahá’ís sobre o princípio Bahá’í da paz universal:
Ordenámos a toda a espécie humana que estabelecesse a Mais Grandiosa Paz – o mais seguro de todos os meios para protecção da humanidade... pois este é o instrumento supremo que pode garantir a segurança e o bem-estar de todos os povos e nações. (Tablets of Baha’u’llah, p. 125.)Com estas poderosas afirmações em mente, vamos explorar o modelo revelado por Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá – o profeta fundador da Fé Bahá’í e o Seu filho e sucessor – para este objectivo enorme, ambicioso e derradeiro que é o estabelecimento da paz universal. Convido-o a acompanhar esta série de artigos sobre o plano de paz Bahá’í e a ver se estes o ajudam a acreditar que a paz é verdadeiramente possível.
O propósito de Deus ao enviar os Seus Profetas aos homens é duplo. O primeiro é libertar os filhos dos homens das trevas da ignorância e guiá-los à luz da verdadeira compreensão. O segundo é garantir a paz e a tranquilidade da espécie humana, e proporcionar todos os meios com os quais elas possam ser estabelecida. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, sec. XXXIV)
Ó governantes da terra! Porque haveis obscurecido o esplendor do Sol e feito com que Ele deixasse de brilhar? Dai ouvidos ao conselho que vos é dado pela Pena do Altíssimo, para que, porventura, vós e os pobres possais alcançar a tranquilidade e a paz. Suplicamos a Deus que ajude os reis da terra a estabelecer a paz no mundo…
Ó reis da terra! Vemos-vos todos os anos a aumentar as vossas despesas e a colocar o fardo destas sobre os vossos súbditos. Isto, em verdade, é total e grosseiramente injusto. Temei os suspiros e as lágrimas deste Injustiçado e não coloqueis encargos excessivos sobre os vossos povos. Não os roubem para construir palácios para vós; pelo contrário, escolhei para eles aquilo que escolheis para vós próprios. (Idem, sec. CXIX)
Cada era exige um impulso ou um movimento central. Nesta era, os limites das coisas terrenas alargaram-se; as mentes assumiram um campo de visão mais amplo; as realidades revelaram-se e os segredos do ser foram trazidos para o reino do visível. Qual é o espírito desta era, qual é o seu ponto focal? É o estabelecimento da Paz Universal, o estabelecimento do conhecimento de que a humanidade é uma família. (‘Abdu’l-Bahá, Baha’i Scriptures, p. 274.)
Não há uma única alma cuja consciência não testemunhe que neste dia não existe assunto mais importante no mundo do que o da paz universal. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, nº 227)
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Texto original: Can We Ever Establish Universal Peace? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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