sábado, 15 de dezembro de 2018

Porque não podemos compreender o Criador?

Por Peter Terry.


A filosofia divina afirma categoricamente que nunca conseguimos conhecer verdadeiramente a essência de uma coisa.

Podemos compreender os atributos, as qualidades e as características de um mineral, de um vegetal, de um animal, de um ser humano, e consequentemente, da divindade; mas nunca conseguimos compreender a sua essência mais íntima. Apenas os podemos conhecer através da observação e da compreensão desses atributos, qualidades, manifestações ou existências. Então, como é possível para o homem conhecer Deus?

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que isso é impossível:
Então, como seria possível para uma realidade contingente, isto é, o homem, compreender a natureza daquela Essência pré-existente, o Ser Divino? A diferença de condição entre o homem e a Realidade Divina é milhares de milhares de vezes maior do que a diferença entre o vegetal e o animal. E aquilo que o ser humano consegue conceber na sua mente é apenas uma imagem fantasiosa da sua condição humana; e não abrange a Realidade Divina, mas é abrangido por ela. Isto é, o homem compreende o significado das suas próprias concepções ilusórias, mas a Realidade Divina nunca pode ser compreendida; Ela, em Si mesmo, abrange todas as coisas criadas, e todas as coisas criadas estão ao Seu alcance. Aquela Divindade que o homem imagina por si próprio existe apenas na sua mente, não é verdadeira. O homem, porém, existe na sua mente e na realidade; por isso, o homem é maior que a realidade fantasiosa que ele consegue imaginar. Os limites extremos deste pássaro de barro são estes: ele pode bater as asas durante uma curta distância em direcção ao interminável infinito; mas ele nunca poderá voar até ao sol no alto céu. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, pags. 46-47)
Como podemos conhecer Deus? Se não podemos conhecer a essência de nada, muito menos do Criador, como poderemos conseguir algum conhecimento sobre o reino espiritual e o nosso lugar nele? Os ensinamentos Bahá’ís dizem:
Conhecemo-lo pelos Seus atributos. Conhecemo-Lo pelos Seus sinais. Conhecemo-Lo pelos Seus nomes… Se desejamos entrar em contacto com a realidade divina, fazemo-lo reconhecendo os seus fenómenos, os seus atributos e sinais que estão espalhados pelo universo. Todas as coisas no mundo dos fenómenos são expressões de uma realidade. As suas luzes são brilhantes, o seu calor é manifesto, o seu poder é expressivo dessa realidade única. Que prova maior poderá existir do que o seu funcionamento, ou os seus atributos que estão manifestos? (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, pag. 422)
É claro, portanto, que a realidade de Deus se revela nas Suas perfeições… (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Bahá, pag. 51) 
Como pode a realidade do homem, que é fortuita, alguma vez compreender a Realidade de Deus, que é eterna? É uma impossibilidade evidente. Assim, podemos observar os sinais e atributos de Deus que resplandecem em todos os fenómenos e brilham como o sol do meio-dia, e saber, com segurança, que estes emanam de uma fonte infinita. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, pags. 422-423)

As escrituras Bahá’ís dizem-nos que se olharmos para o mundo natural e para as pessoas que nele habitam, podemos encontrar “sinais e atributos de Deus” em toda a parte:
Quando examinamos o mundo e as almas dos homens, os sinais perspícuos das perfeições da Divindade surgem claros e manifestos, pois a realidade de todas as coisas atesta a existência de uma realidade universal. ('Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 255)
Portanto, nós humanos, podemos discernir os atributos, os sinais e as perfeições de Deus em todas as coisas criadas.

Assim, nos ensinamentos Bahá’ís chegamos à conclusão surpreendente que os conceitos tradicionais, actuais e históricos sobre Deus são os ídolos da nossa imaginação. Descobrimos que apenas podemos conhecer os atributos das coisas, mas não as coisas em si. Descobrimos que os nossos sentidos nada nos dizem sobre a existência de Deus. Consequentemente, ‘Abdu’l-Bahá desvalorizou e descartou as bases tradicionais para crença em Deus – as imagens que fizemos para nós ou imitámos na nossa família e amigos; a ideia errada que algumas pessoas têm de que conseguem compreender a essência da realidade, à qual chamamos “Deus”; a convicção contemporânea de que podemos perceber essa realidade através dos nossos sentidos; e a de que qualquer existência fora da nossa percepção sensorial é pura imaginação.

Então, o que pode substituir as nossas ideias falsas, fantasias e equívocos sobre Deus?

Podemos substituí-los pela afirmação segura e destemida de que os atributos e perfeições de Deus são revelados em todas as coisas da criação, que podemos conhecer esses atributos estudando essas criações, e que a manifestação perfeita desses atributos está acessível a cada um de nós. Podemos aceder às manifestações de Deus ao longo da história, na pessoa dos fundadores das principais religiões mundiais: Abraão, Krishna, Moisés, Buda, Cristo, Maomé e, mais recentemente, Bahá’u’lláh, o fundador da Fé Bahá’í.

-----------------------------
Texto original: Why We Can’t Comprehend the Creator (www.bahaiteachings.org)

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Peter Terry é um académico independente, músico e professor. É autor dos livros A Prophet in Modern Times (uma biografia do Bab), In His Own Words (uma biografia de Baha'u'llah), Proofs of the Prophets (uma compilação e comentário sobre as 40 provas da condição de Profeta), Proofs of the Prophets: Lord Krishna, Proofs of the Prophets: Baha'u'llah.

Sem comentários: