sábado, 13 de abril de 2019

Onde está o Túmulo de Cristo?

Por David Langness.


Quem já leu e estudou a Bíblia tem conhecimento sobre as perseguições contra os profetas. Se querem uma prova, visitem a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém.

A citação seguinte é uma das muitas passagens da Bíblia que regista como os mensageiros de Deus são vítimas de escárnio e ultrajes:
O Senhor, Deus de seus pais, enviou-lhes constantemente advertências por meio de mensageiros, para os admoestar, pois queria perdoar ao seu povo e à sua própria casa. Eles, porém, escarneceram dos seus conselhos e riram-se dos seus profetas, até que a ira do Senhor caiu sem remédio sobre o seu povo. (2 Crónicas 36:15-16)
Cristo foi crucificado; os Seus discípulos esconderam-se, foram presos e estigmatizados; os Seus primeiros seguidores foram lançados aos leões. Os ensinamentos Bahá’ís homenageiam Cristo e os Seus seguidores, e recordam-nos que, com o passar do tempo, houve uma mudança radical na atitude em relação a eles:
Considerai como os Discípulos eram tratados. Enquanto eram vivos, as pessoas não queriam ter nada a ver com eles, mas depois sentiam-se profundamente glorificados se tivessem a mais remota ligação com eles. Tornaram-se respeitados e reverenciava-se até a terra que tinha sido tocada pelos seus pés. Agora as pessoas prostram-se perante os seus túmulos, mas eles foram perseguidos quando eram vivos. E naquele tempo as pessoas não gostavam de ser conhecidas como parentes destes Discípulos de Cristo (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 3, p. 84)
‘Abdu’l-Bahá pôs em destaque esta mudança profundamente irónica quando contou a história de um encontro com um grupo de peregrinos Cristãos no século XIX:
Quando viajava na Palestina, encontrei um local com solo pedregoso. Vi que algumas pessoas se juntaram em torno de uma pedra, beijando-a, chorando e suplicando. Perguntei: “O que é isto?” Disseram-me que, há muito tempo, os Apóstolos de Cristo, tinham passado por este local e se tinham sentado numa destas pedras, mas que existiam tantas pedras que não sabiam em quais é que os Apóstolos se tinham sentado. Por isso, prostravam-se perante todas para que, por ventura, pudessem encontrar e beijar a pedra certa. No seu tempo, as pessoas batiam-lhes, prendiam-nos, ridicularizavam-nos, expulsavam-nos das suas cidades e por fim, martirizavam-nos. Nem sequer davam autorização para que fossem sepultados nos seus cemitérios (Idem)
Durante dezoito séculos, os historiadores identificaram o tradicionalmente aceite túmulo de Jesus como o Santo Sepulcro da Igreja, em Jerusalém. Todos os dias, milhares de pessoas visitam essa igreja para rezar e meditar sobre a vida e os ensinamentos de Cristo. Mas sabia que um dos lugares mais sagrados no mundo costumava ser uma lixeira?

Sabemos pelas narrativas bíblicas que Cristo foi crucificado perto de Jerusalém, no exterior das muralhas da cidade, em Gólgota, o local onde se realizavam as execuções. Os historiadores e os investigadores descrevem que o corpo de Jesus não foi levado para a cidade após a sua execução, porque ele era considerado um impostor. Em vez disso, ele foi sepultado fora das muralhas da cidade e o seu túmulo foi uma cova de entulho.

Depois, o imperador Constantino, o Grande, subiu ao trono, tornou-se o primeiro monarca Cristão no século IV e pediu à sua mãe Helena que procurasse o local do túmulo de Cristo. Ela procurou e julgou tê-lo encontrado, e nesse local, o Bispo Macário de Jerusalém construiu a Igreja do Santo Sepulcro, que hoje se encontra no interior das muralhas alargadas de Jerusalém. Depois desta descoberta, o imperador Constantino enviou ao Bispo Macário a seguinte carta:
Tamanha é a graça do nosso Salvador, que nenhum poder de linguagem parece adequado para descrever a maravilhosa circunstância a que me refiro. Pois, que o monumento desta mais sagrada Paixão, durante tanto tempo enterrado debaixo do solo, tenha permanecido oculto durante tantos anos, até ter reaparecido aos seus servos agora liberto do afastamento daquele que era o inimigo comum de todos [o anterior imperador], é um facto que verdadeiramente ultrapassa toda a admiração…
‘Abdu’l-Bahá apresentou uma explicação fascinante sobre este processo e a construção da Igreja do Santo Sepulcro que salienta a perseguição contínua contra Cristo e os seus seguidores – até mesmo depois da sua morte:
Eles não queriam que o corpo de Sua Santidade Jesus Cristo fosse sepultado num cemitério Judaico. Os Apóstolos foram comprar um pequeno terreno e sepultaram-no. Depois os Judeus levaram para lá o seu entulho. Posteriormente os homens vieram e construíram ali uma grande igreja. Esta foi construída pela mãe de um dos Césares, passados trezentos anos. Até hoje, em alguns locais, é conhecida como a Igreja do Entulho. Este é, verdadeiramente, o Túmulo de Cristo. Era o local onde, no tempo de Cristo, todo o entulho da cidade era depositado. Durante trezentos anos continuou assim. Podemos ir lá hoje e ver a mudança maravilhosa que ali existe, ver a maravilhosa igreja que ali construíram, quantas jóias e pedras preciosas ali recolheram. A estátua de Cristo está adornada com todos os tipos de pedras preciosas, tal como a estátua de Maria e outras. Como é diferente a atitude das pessoas nos dias dos Manifestantes. Perseguem-nos, insultam-nos e ridicularizam-nos; colocam uma coroa de espinhos nas suas cabeças, espancam-nos na rua, cospem nas suas faces e por fim, crucificam-nos. Mas depois adoram as suas imagens, beijam o chão que eles pisam ou as pedras em que eles se sentam. Esta é a atitude das pessoas. (Idem)
Esta maravilhosa e desconcertante cadeia de eventos – Cristo teve uma crucificação ignominiosa, foi executado como um criminoso, e vilipendiado até depois de morto; e tornou-se um dos profetas mais reverenciados em toda a história humana, hoje seguido e adorado por mil milhões de pessoas. A sua perseguição na terra tornou-se, por fim, gloriosa.

Este mesmo processo repete-se em toda a história da religião, e agora repete-se na história da Fé Bahá’í:
Deus enviou todos os Seus Profetas ao mundo com um propósito, para semear amor e boa vontade nos corações dos homens, e para este grande objectivo eles sofreram e morreram. ('Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 108)
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Texto original: Where is Christ’s Tomb? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

1 comentário:

Ramón Velásquez disse...

Maravilha!
Eh muito importante nesse momento refletir sobre Constantino e suas adjacências históricas.
Montar o quebra-cabeça da nova fé mundial eh muito prazeroso.

Gracias! ☀